Fed "dovish", Banco Central brasileiro "hawkish". Dosagens de ambos na política de juros são decisivas nos próximos meses. No Brasil, inflação “na veia” e crescimento anêmico; nos EUA, inflação “controlada” e crescimento forte. No diferencial de ambos, a aplicação mais rápida das campanhas de vacinação. No exterior, o atraso destas acabou derrubando, na quinta-feira, a cotação do barril de petróleo, pressionou os yields dos treasuries americanos e as bolsas de valores.
Daí a urgência da vacinação. Talvez esta seja a “linha de corte” na análise dos países que estão voltando a crescer e a “respirar” alguma normalidade, mesmo que diferente do passado. Não achamos que tomou vacina, tudo volta ao normal. Não! Pelo contrário. As pessoas devem começar a “desconfinar” aos poucos, gradualmente, até que tudo funcione em “rotina” e na medida do possível. Aqui vai uma recomendação à todos! Não deixem de usar máscara e mantenham algum distanciamento, mesmo depois de vacinados!
No Brasil, a situação da pandemia, segue trágica, descontrolada e colapsando os sistemas de de saúde em vários Estados. A maioria com mais de 80% de ocupação nos leitos de UTIs. Em 24 horas, mais de 1,8 mil mortes, chegando a 300 mil no acumulado, uma tragédia humanitária, a maior da história brasileira. O quadro abaixo bem mostra o nosso descalabro, uma população que representa 2,7% da mundial, mas em relação às mortes por Covid19, indo a 27,9% do total. Uma boa compilação de dados expressa tudo.
Sobre o debate em torno do lockdown, está comprovado “empiricamente” em vários outros países que dá certo sim! Como exemplo, temos Portugal. No início de janeiro, a pandemia “escorregou” por lá, perdeu-se o controle, devido ao afrouxamento com as festas de final de ano. As mortes chegaram a quase 300 por dia e os novos casos mais 20 mil. Um “lockdown absoluto” se fez necessário, as pessoas ficaram em casa, muito uso de máscara, muito distanciamento social e álcool gel. Como resultado, as mortes caíram a algo entre 10 a 15 por dia, as novas internações, a 200. O país, voltou a “respirar”, sem a ajuda de aparelhos. Agora retornamos ao ciclo de desconfinamento gradual.
Como explicar? Muitos vão contra-argumentar que é muito fácil comparar um país do tamanho do estado do Rio de Janeiro, “suprido” em muito pela União Europeia e os fundos, no que chamam de “bazuca”. Sim, isto é verdade. Mas também é verdade que o presidente Marcelo Rebelo dialoga com o primeiro ministro Antonio Costa, há um Comitê da Pandemia, o conselho de ministros se reune constantemente, o Parlamento debate, há os que discordam, mas sempre prevalece o bom senso e a maioria. Soma-se a isso, não existe “batalha de narrativa”, a sociedade portuguesa sabe que não existe outra saída, que não o isolamento. Há custos sociais? Claro! Mas em conjunto, subsídios, auxílios emergenciais, moratórias de dívidas, estão sendo dadas. São um conjunto de decisões e atitudes que não podem ser negadas. Tudo que não se vê no Brasil.
Muitos vão argumentar que o problema das vacinas é global. Sim. Vários países estão sendo afetados, mas era urgente, ao longo do ano passado, uma programação, um planejamento, se organizar preventivamente, provocar menos celeumas na mídia, agir com o devido rigor e responsabilidade. Vários países agiram desta foram, o Brasil não. Até determinado momento, a vacinação foi desconsiderada, nem levada a sério. No gráfico a seguir, chama atenção um país vizinho, que muito se organizou para a campanha de vacinação, se mobilizou, o Chile. Os chilenos começaram a negociar com a Pfizer (NYSE:PFE) (SA:PFIZ34) em agosto, em novembro fecharam o primeiro lote de 10 milhões de doses. A mesma Pfizer que nos ofereceu 70 milhões de doses em agosto, o que foi recusado pelo presidente Bolsonaro. Com os “bate bocas” de sempre do presidente, fomos ficando para trás. Um gráfico a evidenciar isso.
No ambiente externo, decorrente de algum atraso na vacinação em vários países da Europa, na quinta-feira as bolsas globais desabaram, o barril do petróleo recuou forte e dispararam os yields dos Tareasuries. Não há vacina para todos. Existe sim um gargalo na oferta pelos laboratórios. Decorrente disso, as vacinações estão ocorrendo de forma muito errática e lenta. No Brasil, este quadro acabou limitando a reação dos ativos domésticos, depois do BC ter dado um “choque de credibilidade”, ao elevar a taxa Selic em 0,75 p.p., a 2,75% anuais. Para a próxima reunião do Copom, em maio, crescem as apostas de que a taxa Selic terá mais um aperto de 0,75 p.p., não sendo surpresa se chegar a 1 ponto porcentual.
No mercado de câmbio, o cenário é de tendência global de alta do dólar, em meio à pressão nos Treasuries de longo prazo. No Brasil, depois da decisão do Copom, a moeda norte-americana até deu uma cedida na quinta-feira, -o,30%, a R$ 5,5695, depois de, pela manhã, ter cedido até a R$ 5,47, em reação ao Copom mais “hawkish”. Já a bolsa de valores foi de baixa, tanto aqui quanto em NY.
Além do caos da Covid-19 no Brasil, com cada vez mais medidas de restrição adotadas, a possibilidade de uma terceira onda da pandemia na Europa ajudou por tombar o petróleo em 7%, afetando as ações da Petrobras (SA:PETR4). Ao mesmo tempo, as ações dos varejistas reagiram em queda ao aperto monetário e o recuo do Ibovespa, -1,47%, aos 114.835,43 pontos, só não maior porque os bancos, que podem ter seus resultados favorecidos pelo juro mais alto, sustentaram os ganhos. Em Nova York, diante do tombo das petroleiras, nenhum índice conseguiu resistir à queda, mas o destaque foi a forte baixa de 3% do Nasdaq.
MERCADO DE ATIVOS
Num cenário de incerteza sobre o futuro, o ciclo de vacinações, o barril de petróleo despencou, seguido pelas bolsas internacionais. Em NY, a Nasdaq caiu 3,02%; no Brasil, o Ibovespa acompanhou a piora do humor externo e fechou em queda de 1,47%, a 114.835,43 pontos, com giro financeiro de R$ 32,3 bilhões. Na semana, avança 0,59% e no mês, 4,36%, colocando as perdas do ano a -3,51%. No mercado cambial, o fechamento do dólar à vista foi de baixa de 0,30%, a R$ 5,5695. No mercado futuro, o dólar para abril cedia 0,34%, a R$ 5,5680, em dia de volume mais forte de negócios, superando US$ 16 bilhões. Ainda no mercado futuro, destaque para a movimentação dos estrangeiros esta semana, com forte redução de posições contra o real, chegando a US$ 2,7 bilhões.