Num ambiente em que só há “culpados” e todos se dizem “inocentes”, o Brasil convive com a drástica segunda onda da pandemia do coronavírus, porém com um agravante de que “não há responsáveis” e quase todos alegam que fizeram o possível e não tem mais o que fazer, mas além do problema sanitário agravado, mortalidade, insuficiência estrutural para atendimento, resta a desoladora realidade em que o país já tem parcos recursos financeiros e uma necessidade gritante de buscar retomar a dinâmica da sua atividade econômica.
E no centro desta questão extremamente relevante ainda permeiam disputas políticas absurdas, picuinhas que transformam a causa maior em menor, e, sequer se conseguem iniciativas efetivamente críveis para iniciação das vacinações imprescindíveis, ainda foco de negacionismo latente por setores que deveriam e precisam apoiar esta ação preventiva já bastante tardia, consequente do baixo comprometimento.
Cada setor envolvido tem o seu álibi, verdadeiro ou meia verdade, mas a certeza é que foi feito de menos e todos são responsáveis pelo caos instalado, e, a consequência deste absoluto desastre certamente estará no retrocesso das perspectivas de retomada da atividade econômica.
Então, o que resta como desolador, crescimento da pandemia de forma desenfreada e em intensidade maior que na fase inicial, governo com recursos exauridos e uma massa de brasileiros carentes da renda advinda dos programas assistenciais de governo findados em dezembro, e que foram os consumidores potenciais que sustentaram uma queda menor do PIB 2020, e um embate tosco e lamentável no campo político, que não enseja fortalecimento de retomada das ações fundamentais para o país, mas que ganham grande proximidade com o agravamento da crise fiscal, pela tentação de romper teto orçamentário com aumento de gastos.
Estamos iniciando fevereiro e o sentimento presente é que 2021 poderá ser pior do que 2020, o que seria decepcionante, e há uma enormidade de vetores dando sustentabilidade a este risco de retrocesso e desalento.
Esta é uma visão cética, embora se saiba que tem muitos que só acreditam que a “falta de oxigênio mata” quando estão morrendo de falta de ar. Neste ambiente não há sustentabilidade à geração de empregos e renda e nem motiva investimentos por parte de nacionais e estrangeiros.
A euforia dos setores financeiros, em especial Bovespa, não resiste a poucos dias com sinalização deste risco efetivo e desmonta suas perspectivas, enquanto câmbio tem forte impacto do comportamento do dólar no mercado externo que afeta a formação do preço no mercado interno passando uma enganosa impressão, mas que é contido em sua repercussão que poderia ser mais intensa pelo ambiente e riscos internos presentes, e isto influencia e estimula também a volatilidade do juro futuro, fora da curva, visto os vasos comunicantes entre ambos.
O risco de “desorganização” é efetivo e o BC/COPOM precisa agir de forma contundente fazendo as correções das decisões amenas e erráticas que tem tomado até então, e retirando o “forward guidance” de suas análises, visto que tem propagado um cenário prospectivo muito distante da realidade quando consumado.
O BC/COPOM e seus economistas precisam aceitar os dados e as perspectivas pouco favoráveis e admitir os dados da realidade e não os anseios para construir seus modelos, e não tentar acomodar forçadamente a realidade dentro dos seus modelos pré-concebidos, e como consequência gerar “forward guidance” insustentáveis e perspectivas e expectativas não factíveis.
O Brasil precisa enfrentar seus desafios frontalmente, sem derivas, sem atenuantes insustentáveis, caso contrário as perspectivas negativas ganharão maior dimensão e consolidação e o país poderá enveredar por uma trajetória extremamente desoladora inibidora da retomada da atividade econômica e com incremento da crise social.