O petróleo recuou das máximas de US$130 por barril, e o trigo devolveu parte dos seus ganhos com o mundo se ajustando à guerra na Ucrânia.
Seria natural que o paládio, outra commodity dominada pela Rússia a sofrer alta volatilidade devido à série de sanções contra Moscou, sofresse uma queda ainda maior em relação às máximas recordes deste mês. A questão é: uma queda de quanto?
Gráficos: cortesia de skcharting.com
O paládio, metal usado em catalisadores automotivos para purificar a emissão de gasolina e melhorar o desempenho do motor, tem uma perspectiva de preço sazonal, já que é impactado pela produção mundial de automóveis.
Em geral, quanto maior é a fabricação de carros, maior é a necessidade de catalisadores e, por sua vez, maior é a demanda pelo paládio.
A invasão da Rússia na Ucrânia, no entanto, exacerbou a dinâmica.
Algumas estatísticas do mercado automotivo
O mercado do paládio registra restrição de oferta há anos, com as minas na África do Sul e outros países produtores, abaixo das suas metas de produção. Mas, diante das sanções impostas à Rússia, após sua invasão na Ucrânia, o temor agora é que o mercado esteja entrando em um período de oferta criticamente baixa.
Quem investe no metal aposta que haverá distúrbios na produção de paládio na Rússia, devido ao conflito, e que as sanções limitarão as exportações do metal, assim como as de outras commodities do país.
Mas uma contínua desaceleração na produção automotiva desde o surgimento da pandemia em 2020 deve limitar o potencial de alta do paládio.
Em 2021, a Rússia respondia por 40% (2,6 milhões de onças) da produção total em todo o mundo. No ano passado, o metal teve um desempenho ruim, já que o setor automotivo sofreu com a escassez de semicondutores durante a crise sanitária.
De acordo com um relatório de mercado do fim de 2021 elaborado pela refinaria de metais de especialidade Johnson Matthey, a demanda do paládio provavelmente subiu mais rápido do que a oferta, em vista do déficit estimado do mercado, ampliando para 829.000 onças em 2021.
Segundo a Markets & Research Biz, o mercado de equipamentos de catalisadores automotivos valia US$17,4 bilhões em 2021 e tinha a previsão de alcançar US$20,23 bilhões até 2028, com uma taxa composta de crescimento anual de 2,2%.
A Cox Automotive previu que as vendas de novos veículos em fevereiro seriam de 1,08 milhão de unidades, o que representa uma queda de 11% em relação a fevereiro do ano passado.
Em uma taxa anual sazonalmente ajustada, o ritmo de fevereiro das vendas de automóveis nos EUA deve mostrar que o mercado ainda está significativamente restrito pela falta de oferta de novos veículos e terminar perto de 14,4 milhões, uma queda em relação aos 15 milhões de janeiro e aos 15,9 milhões de fevereiro do ano passado.
“Mas, na primavera, quando a expectativa é que as vendas sejam muito maiores, a métrica dá sinais de fraqueza”, disse Charlie Chesbrough, economista sênior da Cox Automotive.
“Sem um grande salto no estoque, a métrica de março registrará um significativo declínio”.
Então, para onde vão os preços do paládio?
O contrato futuro mais ativo do paládio na Comex de Nova York atingiu a máxima recorde de US$3.417,02 em 7 de março, mesmo dia em que o Brent atingiu uma máxima histórica de US$139,13 por barril.
Assim como o Brent, o paládio também recuou em relação às máximas registradas durante a guerra.
A referência mundial do petróleo tocou a mínima de US$97,44 no início desta semana, antes de retornar para cima de US$100. Durante a janela asiática de negociações, o paládio físico girava em torno de US$2476 após alcançar a mínima de US$2.429,56.
O analista técnico Sunil Kumar Dixit afirma que o paládio pode atingir US$1885, um recuo de 45% em relação à sua máxima recorde.
“A eclosão do conflito que fez o paládio atingir US$3417 trouxe mais danos do que benefícios ao metal, já que o rali não conseguiu segurar os ganhos”, disse Dixit. Ele afirmou que a queda subsequente para US$2316, resultando em uma desvalorização de US$1100, “ridicularizou a ideia de um rali no paládio.”
“No entanto, esses ralis e rompimentos insanos também geral reversões insanas”, declarou Dixit.
O analista explicou ainda que o paládio, desde então, vem se segurando acima da máxima do mês anterior de US$2168.
“A perda desse patamar fará com que o metal registre outra pernada de baixa, com a média móvel simples de 200 semanas de US$1885 atuando como alvo imediato”.
Pelo lado da alta, uma consolidação acima da mínima do mês anterior de US$2168 poderia atrair compradores, fazendo os preços buscarem os preços do pico de fevereiro a US$2712, segundo Dixit.
“Se isso ocorrer, o próximo ponto crítico a ser vencido seria US$2866”, afirmou.
“Isso marcaria uma retração de 50% de Fibonacci medida de US$2316 a US$3417. A próxima resistência horizontal seria US$3009, antes de retestar US$3417.”
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para dar diversidade às suas análises de mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.