Em 2020, a pandemia de covid-19 influenciou fortemente a avicultura de postura nacional, gerando resultados que vão desde preços em patamares recordes até o menor poder de compra da história da atividade, segundo levantamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP.
Como geralmente ocorre, os preços dos ovos iniciaram 2020 em queda, reflexo da menor demanda no período devido às férias escolares e à necessidade de vendedores de reduzir estoques, visto que as vendas foram limitadas pelo recesso de fim de ano. Nos meses seguintes, porém, o movimento foi de recuperação, e as cotações atingiram recorde real em abril.
Além do período de Quaresma tradicionalmente elevar a procura por ovos, a preocupação da população com uma possível falta de alimentos, por conta da pandemia de covid-19, levou mercados atacadistas e varejistas a aumentar seus pedidos, principalmente em abril. Com isso, o número de pedidos superou a produção das granjas, e as cotações da proteína atingiram o maior patamar real da série história do Cepea, iniciada em 2013 – valores deflacionados pelo IPCA.
Em Bastos (SP), onde se concentra a maior parte da produção nacional, o ovo branco tipo extra registrou preço médio de R$ 114,24/caixa com 30 dúzias em abril. Para os ovos vermelhos, as valorizações foram ainda mais intensas no período. Com produção geralmente inferior à de ovos brancos, a cadeia é mais vulnerável a elevações de demanda. Na praça paulista, o produto vermelho foi cotado na média de R$ 134,32/cx em abril.
Com o fim do período religioso e o início da segunda quinzena de abril, a procura diminuiu, e os preços começaram a cair, deixando produtores apreensivos. Além da menor procura, a oferta de ovos também aumentou. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção brasileira de ovos para consumo somou 2,39 bilhões de dúzias nos nove primeiros meses de 2020, aumento de 3,5% em relação ao mesmo período de 2019, o que pressionou ainda mais as cotações da proteína.
O movimento de queda só foi interrompido em setembro. Levantamento do Cepea junto a colaboradores do setor de ovos mostra que a forte onda de calor entre o fim de setembro e o início de outubro resultou no aumento da mortalidade das poedeiras nas principais regiões produtoras. Esse cenário, ainda de acordo com colaboradores, limitou a produção. As altas temperaturas também reduziram a oferta dos ovos maiores, o que, somado ao incremento – ainda que tímido – da demanda para a fabricação de produtos natalinos, alavancou as vendas e, consequentemente, as cotações da proteína. Vale ressaltar que, apesar do recuo no acumulado do ano, o preço médio dos ovos em 2020 é recorde real.
No entanto, as altas não foram suficientes para limitar as perdas acumuladas ao longo do ano. Os custos de produção, que já estavam elevados em 2019, entraram em 2020 em uma espiral de alta sem precedentes, reduzindo o poder de compra dos avicultores, que atingiu, em novembro, o pior patamar já registrado em toda a série histórica do Cepea.
Considerando-se a caixa de 30 dúzias de ovos brancos tipo extra para retirada nas granjas (FOB) de Bastos e o milho negociado no mercado de lotes da região do Indicador de Campinas (SP), o avicultor pôde comprar em novembro 72,9 quilos do cereal com a venda de uma caixa de ovos, a menor quantidade registrada na série do Cepea. Frente ao farelo de soja comercializado na mesma região, o poder de compra do avicultor de postura também recuou, com a caixa de ovos valendo 36,6 quilos do derivado, também o menor patamar da história.
Além das dificuldades relacionadas à aquisição de insumos nutricionais, várias regiões acompanhadas pelo Cepea também tiveram problemas com a compra de embalagens. Segundo agentes do setor, a falta de caixas de papelão no mercado em diversos momentos do ano atrasou pedidos. Esses fatores vividos pelo setor ao longo dos meses tornaram a atividade bastante desafiadora em 2020.