As expectativas de estabilidade de preço e de volume negociado para o mercado de ovinos em 2020 não foram confirmadas, devido ao cenário atípico gerado pela pandemia de covid-19. Pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, indicam que a retração econômica, as reduções das importações e das exportações desta proteína e as medidas de isolamento social para contenção do avanço do novo coronavírus influenciaram os resultados do setor.
Ainda assim, no balanço de 2020 (entre dezembro/19 e dezembro/20), foram verificadas valorizações do animal vivo em todas as regiões acompanhadas pelo Cepea. Nos estados do Ceará, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo, as altas nos valores do animal vivo no ano foram de respectivos 20%, 9,51%, 4,92%, 45,71%, 19,35% e 33,06%. Para os animais abatidos em São Paulo, no Rio Grande do Sul, no Paraná e na Bahia, os preços pagos subiram respectivos 10,92%, 22,12%, 17,16% e 41,18% no mesmo período.
Essas altas nos preços de ovinos em 2020 estiveram atreladas à menor oferta de animais, que, por sua vez, refletiu os elevados custos de produção, tendo em vista os aumentos nos preços de insumos da alimentação, como farelo de soja e milho. Aqui ressalta-se que os valores desses grãos atingiram recordes reais em 2020, considerando-se os Indicadores ESALQ/BM&FBovespa Paranaguá (PR) da soja e ESALQ/BM&FBovespa (Campinas, SP) do milho.
Além disso, a demora na recuperação dos pastos, por conta de adversidades climáticas, não permitiu a terminação adequada dos animais, reduzindo a oferta tanto em termos de quantidade quanto de qualidade.
Outro ponto a se destacar em relação à oferta é a redução das importações da carne ovina brasileira. De acordo com dados da Secex, os embarques dessa proteína recuaram 13% em 2020 frente ao total de 2019, cenário que limitou ainda mais a disponibilidade interna deste produto, já que a proteína importada é parte representativa do mercado doméstico.
Do lado da demanda, por esta proteína ser de alto valor agregado e registrar acentuada sazonalidade de consumo, a comercialização de carne ovina foi menos afetada pelas medidas de isolamento social e fechamento de estabelecimentos comerciais durante a pandemia, visto que aconteceram fora das principais datas de consumo de ovinos, que são as festividades de fim de ano.
Por outro lado, o recuo de 4,4% do PIB nacional, segundo o Boletim Focus do Banco Central divulgado no dia 24 de dezembro de 2020, e a perda do poder de consumo da população influenciam de certa forma o mercado de ovinos, já que a elasticidade da demanda relacionada à renda é elevada para essa proteína.