Setembro foi um mês de desafios: riscos fiscais por aqui, tapering se aproximando nos EUA, Evergrande (OTC:EGRNY) causando pânico na China, inflação alta, PIB revisado para baixo, Selic correndo atrás da curva. Que outubro possa trazer esperança e calma aos mercados. Para os empresários, a retomada depende da estabilidade. Não haverá paz enquanto não houver entendimento nos três poderes. Na minha opinião, a reforma fiscal, a questão dos precatórios e o ritmo de aumento da Selic são condições importantes para ajudar ou prejudicar o real. Se o Banco Central aumentar em um pouco mais de 1 ponto a taxa de juros, o mercado entenderá que está havendo um esforço adicional para conter a inflação e, também, os juros aqui ficam mais atrativos do que os do exterior e ajuda o movimento de carry trade.
Ontem o RTI (Relatório Trimestral de Inflação) deu destaque às explicações das discrepâncias entre a projeção da inflação do BC e do mercado. Desde a ata do Copom, o mercado passou a trabalhar com Selic a 8,5% de piso e revisões para perto de 10% no final do ano. A maioria dos economistas questionados no relatório pré Copom enxergam um viés de alta da inflação para 2022, além de piores projeções para o PIB. No RTI o Banco Central disse o seguinte: "O hiato do produto em patamar menos negativo, que reduz o espaço para a recuperação cíclica, e o movimento de aperto monetário ora em curso, cujos efeitos ocorrem de maneira defasada, são fatores que contribuem para a desaceleração da taxa de crescimento”.
Apesar da folga nas contas públicas no curto prazo, o mercado continua aflito com os riscos fiscais pela indefinição dos precatórios e da reforma do IR que viabilizarão o novo Bolsa Família.
A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos aprovou nesta quinta-feira projeto que evita uma paralisação parcial do governo por meio do financiamento provisório de agências federais no novo ano fiscal, que começa na sexta-feira, e, assim, evitam um colapso financeiro. O PIB do 3TRI cresceu a taxa anualizada de 6,7%%, já o número de pedidos de auxílio-desemprego teve alta de 11 mil na semana encerrada em 25 de setembro, a 362 mil. O resultado frustrou a expectativa que era de queda a 335 mil solicitações. Esse aumento pode criar preocupações sobre um eventual enfraquecimento do mercado de trabalho. O mercado tomou um susto com a declaração de Powell de que a inflação ficará “bem acima da meta” nos próximos meses.
Na China, alguns detentores de bônus "offshore" da Evergrande não receberam o pagamento de juros nem qualquer comunicação até o final de quarta-feira, disseram pessoas a par do assunto, que não quiseram ser identificadas devido à delicadeza da questão. O ritmo da economia chinesa volta ao centro das atenções, neste momento de apagões programados em grandes cidades do país e temor de que o racionamento de eletricidade possa frear a indústria e o crescimento econômico por lá. O feriado na China (Golden week) deve adicionar volatilidade aos mercados.
Vários números saem hoje, IPC na zona do euro, PMI e confiança do consumidor nos EUA e, no Brasil, a balança comercial de setembro.
Hoje o Banco Central fará um leilão extraordinário de 500 milhões de dólares em swaps cambiais para tentar tirar a cotação do dólar dos poços alcançados nos últimos dias (ontem o dólar spot foi a R$ 5, 4771), alta de 0,87%, enquanto no mercado futuro a taxa superou R$ 5,50).
No fechamento desta quinta-feira, o dólar à vista subiu 0,36%, a R$ 5,4496 na venda. É o nível mais alto desde 27 de abril (R$ 5,4625).