Alvaro Bandeira é sócio e economista-chefe do Banco Digital Modalmais
A nova semana está apenas começando a embutir o encerramento do mês de outubro e traz, junto com ele, as decisões dos bancos centrais dos EUA e do Brasil sobre política monetária. Além disso, teremos eventos associados, com capacidade de mexer com os mercados de risco no mundo, especialmente no Brasil. Por aqui, o Ibovespa tem começado a bater recordes sucessivos de pontuação.
A reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) sobre política monetária começa amanhã, tem sua decisão na quarta-feira, e deve incorporar nova redução na taxa de juros de 0,25%, deixando a taxa básica entre 1,50% e 1,75%. Convém lembrar que, no final da semana passado, o presidente Donald Trump, que andava silente, voltou a fazer pressão sobre a instituição, dizendo que o Fed estava abandonando seu dever de reduzir juros e, idealmente, estimular a economia. Trump disse isso logo após a divulgação de indicadores de conjuntura mais fracos, mas é fato que os dirigentes regionais do Fed têm defendido a postura do comitê de política monetária.
Já para o Brasil, também é esperada redução dos juros básicos na penúltima reunião do ano de 2019, com corte da taxa Selic de 5,5% para 5,0% – podendo cair ainda mais na última reunião, que acontece nos dias 10 e 11 de dezembro. Para essa reunião, existe quase consenso de redução de 0,50%, mas para a próxima, pairam dúvidas sobre outra redução de 0,50% ou 0,25%. Existem ainda apostas mais agressivas, que estimam a Selic no final de ano em 4,0% (ou até abaixo disso), mas aí já estaríamos falando de taxa real de juros muito próxima de zero. Com a remuneração na renda fixa praticamente só cobrindo a inflação, os investidores de forma geral estão procurando diversificar aplicações – obrigatoriamente elevando sua propensão ao risco. Essas medidas podem gerar alguma insatisfação posterior, caso os resultados auferidos não sejam mais positivos. Portanto, apesar de ser a postura correta, é necessário dimensionar bem os riscos que se quer correr.
A semana inclui também a divulgação da safra de balanços referentes ao terceiro trimestre do ano fiscal, aqui e no exterior, mexendo pontualmente com a precificação dos ativos. Na semana passada, tivemos os resultados das líderes Petrobras (SA:PETR4) e Vale (SA:VALE3). Agora, teremos de bancos e outras empresas. No exterior, o período agrega balanços da Apple (NASDAQ:AAPL) e Facebook; bons resultados mostrados por Intel (NASDAQ:INTC) e Microsoft (NASDAQ:MSFT); e resultado ruim do Twitter; além de balancetes ruins de Ambev (SA:ABEV3) e CSN (SA:CSNA3) divulgados aqui.
Em termos de indicadores, teremos a nova pesquisa ADP sobre criação de vagas no setor privado americano no meio da semana, fechando a sexta-feira com o payroll de outubro, que mostrará a criação de vagas nos setores público e privado.
Não bastasse tudo isso, ainda temos que considerar e avaliar a postura dos investidores estrangeiros na Bovespa, que, no mês de outubro (até 23/10), tinham sacado recursos liquidamente no montante de R$ 10,1 bilhões; e fluxo também negativo no ano de R$ 30,9 bilhões. É bem verdade que nos últimos dias o fluxo voltou a ser mais positivo na Bovespa por parte desse segmento, apesar de alguns IPOs em curso. As fundações de seguridade também prometem mudar um pouco o mix da aplicação de recursos, já que as novas aplicações em renda fixa não cobrem as necessidades atuariais. Isso foi dito por representantes no Congresso ocorrido na semana anterior.
Diante deste cenário, acreditamos que a postura mais otimista dos investidores locais e internacionais sobre as economias devam interferir positivamente no comportamento dos mercados. Isso ficou expresso na reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI) da semana anterior e mais ainda pelo noticiário do final da semana, que mostrou uma melhora nas relações entre EUA e China sobre comércio bilateral e extensão do prazo do Brexit pela União Europeia para 31/01/2020. Aqui, avizinha-se o leilão dos excedentes da cessão onerosa no próximo dia 06/11, com boas previsões de participação de locais e estrangeiros, servindo para equilibrar as finanças do governo (ainda que de forma não recorrente) e gerar caixa substancial para a Petrobras (SA:PETR4).