Em uma virada que provavelmente surpreendeu muitos investidores, o ouro voltou a superar a marca de US$1800 por onça na terça-feira, apenas três sessões após sua queda espetacular abaixo desse nível.
Mas, no momento em que escrevo – madrugada de quarta-feira –, o contrato futuro mais negociado na Comex de Nova York já era negociado abaixo da linha de suporte de US$1.799,15.
Cabe notar que o vaivém dentro de canais de suporte é bastante característico das commodities, principalmente em se tratando do ouro, que é uma das mais negociadas. Meu foco, entretanto, é tentar descobrir se o ouro tem chances reais de se firmar no patamar de US$1800 e continuar subindo.
A resposta, como sempre, depende de três elementos: notícias/dados, determinação de compra/venda e aspectos técnicos.
Gráficos: cortesia de skcharting.com
Foram as notícias que fizeram o ouro voltar para cima de US$1800 na terça-feira e ainda parecem estar trabalhando a favor do metal amarelo, embora não se saiba até quando a situação perdurará.
O movimento de alta do ouro ocorreu depois que autoridades do Federal Reserve, como Esther George, de Kansas City, Mary Daly, de São Francisco, e Patrick Harker, da Filadélfia, ressaltaram que a economia dos EUA não deveria sofrer danos desnecessários por causa das elevações de juros do Fed para combater a inflação. Seu consenso era que deveria haver quatro elevações neste ano de 25 pontos-base por rodada (qualquer taxa superior a isso deveria ocorrer em circunstâncias adversas, sugeriram).
Há apenas uma semana, os mercados viviam sob o espectro de um Fed em modo “Dr. Destino”, preparando-se para um choque da economia contra uma parede levantada por cinco elevações individuais de juros de até 50 pontos-base para neutralizar a chamada inflação-monstro. A mera possibilidade de que isso não aconteça gerou alívio em Wall Street na terça-feira, promovendo uma ampla alta de ações e ativos de risco.
O Índice Dólar, evidentemente, sentiu as notícias de que o Fed faria um jogo mais longo com as taxas de juros, em vez de um mais curto e intenso. Isso alavancou a alta do ouro.
Os influxos em fundos de investimento em ouro também forneceram suporte, com os rastreados pela Bloomberg adicionando mais de 5 toneladas de lingotes na segunda-feira e estendendo os ganhos do ano para 42 toneladas.
Mas outra manchete contribuiu bastante para o movimento do ouro: a revelação da secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, de que cerca de 9 milhões de desempregados estavam doentes no início de janeiro, possivelmente por causa de casos de Covid. Isso gerou especulações de que os dados oficiais de emprego ficariam bem abaixo das expectativas na sexta-feira.
O consenso dos economistas até agora é que os empregadores tenham conseguido preencher 150.000 posições em dezembro, contra 199.000 em novembro. Com base nos comentários de Psaki, o número do mês passado pode ser ainda menor.
Em razão do intenso foco do Fed em manter a recuperação de empregos, que considera tão importante quanto combater a inflação, o banco central americano pode ser ainda mais conservador em suas medidas de aperto nos próximos meses.
A perspectiva de um Fed mais moderado gera ventos contrários ao dólar e os rendimentos dos títulos americanos, além de dar mais força às compras do que às vendas de ouro, mantendo o metal amarelo dentro ou próximo do nível de US$1800 até a divulgação dos números do mercado de trabalho.
O que acontecerá a partir daí é uma incógnita. Portanto, permanece a questão: o ouro conseguirá se manter em US$1800 após os dados de emprego nos EUA? Saberemos a resposta em 48 horas.
O outro indicador que pode jogar mais luz no movimento do ouro são os gráficos técnicos, evidentemente.
Após a queda de US$73 de US$1853 para 1780, o ouro recuperou-se US$28, subindo de US$1780 para 1808, o que corresponde à retração de 38,2% de Fibonacci considerando a queda original, observa Sunil Kumar Dixit, estrategista-chefe do skcharting.com.
“Pode ser que haja uma consolidação lateral para retestar as áreas de suporte antes de retomar a recuperação para a próxima pernada de alta de US$1817 e 1825, referentes aos níveis de 50% e 61,8% de Fibonacci daquela queda de US$73", afirmou Dixit.
No gráfico intradiário de quatro horas, a leitura do estocástico de 15/27 está se aproximando do nível sobrevendido e os preços estão revisitando a zona de suporte, o que pode revigorar a recuperação do ouro com um potencial reteste dos níveis prévios de 1808, 1817 e 1825, afirmou o analista.
Dixit disse ainda:
“É bem provável que os vendedores reapareçam nas áreas de teste de resistência de 1817-1825.”
“Um avanço firme acima de 1825-1835 e a superação de 1835 é mais desafiador e pouco provável, a menos que haja um gatilho geopolítico muito forte”.
“Além disso, é importante notar que a perda de 1780 será o sinal inicial de que os ursos podem cavar mais fundo até 1768-1758 como alvos imediatos, podendo chegar a 1735.”
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para dar diversidade às suas análises de mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.