As commodities parecem ser o lugar certo para estar neste momento, a julgar pelo comportamento do níquel, que só atrai compradores no topo, e do cobre, com suas máximas cadenciadas.
Quem embarcou no movimento foi o ouro com seu ataque iminente às máximas recordes tocadas em agosto de 2020.
Como ativo favorito dos investidores em busca de segurança nos primeiros dias da pandemia, o ouro perdeu seu brilho no início de 2021, quando as ações, os rendimentos dos treasuries e o dólar decolaram graças à retomada do apetite para risco gerado pelas vacinas contra a Covid.
Desde então, o metal teve diversos tropeços e chegou a cair abaixo de US$1700 por onça em determinado momento, diante do aumento das dúvidas quanto ao seu tradicional status de proteção contra problemas políticos e econômicos. Mas agora o ouro voltou para onde estava há 19 meses: nível de US$2000.
Com a inflação nos EUA atingindo as máximas de quatro décadas e a intensificação da guerra russo-ucraniana, o ouro recebeu um estímulo que não via há mais de um ano e meio, atiçando todo tipo de projeção para onde irá a partir de agora, desde a mais modesta previsão de US$2200 até estimativas de máximas muito mais altas, acima de US$3000.
Estamos vivendo tempos aterradores, com os preços da energia ameaçando devorar ainda mais nossa renda a cada dia, enquanto a escalada do conflito entre Rússia e Ucrânia coloca o mundo em risco. Tudo isso sugere que os investidores precisam de uma reserva de valor que ofereça mais proteção do que até mesmo a moeda fiduciária mais segura do mundo: o dólar.
Essa reserva de valor muito provavelmente seria o ouro, que vem registrando máximas e mínimas mais altas nas últimas duas semanas, uma proposta perfeita para um bull market.
Mas a história do ouro também mostra que a commodity nunca saiu muito do controle, com suas típicas oscilações diárias abaixo de 5%. Por isso, não veremos uma situação como a do níquel, em que o preço dessa matéria-prima dominada pela Rússia e usada na fabricação de baterias quadruplicou em apenas quatro dias.
No entanto, é possível que vejamos um prêmio de US$400 acima do topo tocado pelo ouro em agosto de 2020 nos próximos meses. Essa é a premissa que eu e meu colaborador de longa data nos gráficos de commodities, Sunil Kumar Dixit, assumimos depois de analisarmos os aspectos técnicos de curto e médio prazo do ouro.
Mas antes de entrarmos na análise técnica, vale a pena observar alguns aspectos fundamentalistas também.
“Agora que os rendimentos reais estão caindo no contexto do ambiente de aversão ao risco nos mercados financeiros, os preços do ouro voltaram a ficar atrativos”, disse Christopher Vecchio, estrategista sênior de metais preciosos, em uma publicação no portal DailyFX.
Vecchio afirmou também:
"Não é apenas o fato de que o ouro está atraindo compradores como porto seguro, embora isso contribua bastante. Na semana passada, dizia-se que o ouro poderia voltar a registrar máximas recordes em vista do acirramento do conflito e tudo indica que esse é o cenário que está se configurando.”
Vecchio também observou que, historicamente, os preços do ouro estão associados à volatilidade, ao contrário de outras classes de ativos. Ele explicou:
“Embora outras classes de ativos, como ações e títulos, não gostem do aumento da volatilidade, sinalizando maior incerteza com fluxos de caixa, dividendos, pagamentos de cupons, etc., o ouro tende a se beneficiar em períodos de maiores oscilações.”
“Com o acirramento do conflito no leste europeu, a volatilidade do ouro continuou elevada, dando suporte a disparadas de preço”.
Portanto, a tendência do ouro de oscilar além de determinada máxima ou mínima garante que nunca veremos um movimento parabólico como o registrado no níquel ou até mesmo no paládio, que saltou de US$1000 por onça (42%) em menos de 10 dias, tocando a máxima recorde acima de US$3417.
O Goldman Sachs alterou sua previsão de três meses para o ouro, definindo o alvo de US$2300 por onça, contra a projeção anterior de US$1950, considerando uma alta bastante próxima do prêmio de US$400 vislumbrado por mim e Dixit a seguir.
O Goldman também mudou sua projeção de seis meses para o ouro para US$2500/onça, contra o alvo anterior de US$2050, bem como seu horizonte de 12 meses de US$2150 para US$2500.
O banco atribuiu essa elevação à maior demanda dos consumidores, investidores, bancos centrais e à “maior incerteza geopolítica”.
O ouro futuro na Comex de Nova York tocou a máxima recorde de US$2.221,70 em 7 de agosto de 2020. No pregão de terça-feira, o ouro atingiu US$2.078,80. No momento em que escrevo, gira em torno de US$2050.
Já o preço à vista do lingote alcançou a máxima histórica de US$2.073,41 em 7 de agosto de 2020. Na terça-feira, o lingote atingiu a máxima intradiária de US$2.070,29, ficando a apenas US$3,12 de alcançar o ápice anterior. No momento em que escrevo, o ouro físico gira em torno de US$2042.
Dixit, com base em sua leitura do ouro à vista, disse que o metal, após desafiar seu pico de US$2073, pode registrar uma alta de US$400, formando um clássico padrão de retângulo no gráfico semanal.
“Mas o ouro também precisa se consolidar abaixo da resistência de US$2073 e da região de suporte de US$2040-2020 antes de galgar US$2073 e seguir para os alvos imediatos de US$2100-2120-2150”, explicou.
Ele disse ainda que um fechamento semanal ou mensal decisivo acima de US$2100-2150 seria uma confiável confirmação do movimento de US$2470-2500, provavelmente em algum momento do segundo trimestre.
“Pelo lado da cautela, o ponto a ser observado é a reação a correções, quando o preço alcançar US$1980-1970, já que a defesa dessa região é fundamental para evitar correções maiores”.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para dar diversidade às suas análises de mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.