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Ouro fica fora do pódio, mas ainda brilha - e a culpa é da China

Publicado 09.07.2024, 12:08
Atualizado 10.01.2024, 08:22
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O ouro perdeu para o dólar o terceiro lugar no ranking das aplicações mais rentáveis em 2024 - posição que vinha sustentando até maio.

Levantamento da Elos Ayta Consultoria mostra que a rentabilidade da moeda norte-americana (Ptax) é maior no acumulado dos seis primeiros meses deste ano. Já em 12 meses, o metal precioso segue no pódio.

Há quem diga que a culpa dessa perda de brilho recente do ouro é da China. Afinal, pelo segundo mês consecutivo, o Banco Central chinês (PBoC) não reportou nenhum aumento das reservas no metal precioso em junho, apesar do desejo do país asiático de ser menos dependente da moeda dos Estados Unidos.

Barras no supermercado

Para o chefe de pesquisa do Julius Baer, Carsten Menke, a demanda na Ásia parece ter mudado para uma “calmaria de verão”. Tanto que as entregas físicas - ou seja, de barras de ouro - pela Bolsa de Xangai permaneceram no nível mais baixo em cinco anos. Porém, ele vê esse movimento no mercado financeiro chinês apenas como uma pausa.

Isso porque o ouro ainda brilha aos olhos dos chineses, em especial das gerações Millennial e Z. Para aqueles nascidos a partir de 1981 - aliás, ano do Galo de Metal - o mais precioso é visto como um refúgio seguro contra as tensões com o mundo ocidental e, mais recentemente, como forma de se proteger da desvalorização dos preços dos imóveis.

“Os chineses sempre preferiram ter imóveis, porque é um bem físico que todo mundo precisa e não perde valor. Isso virou moda e acabou inflacionando os preços”, conta um jornalista brasileiro que reside em Pequim desde 2015. E ele continua:

“Agora temos um novo fenômeno: Os jovens chineses, especialmente os millenials, entram no mercado de trabalho sem perspectiva de comprar um imóvel - ou porque os pais já compraram ou porque sabem que os preços vão cair. Então, não é atrativo como um investimento. Daí, o ouro se tornou a bola da vez”

Segundo o jornalista, as compras vão desde joias, usadas como ornamento, até peças colecionáveis de edições limitadas, que “virou mania entre os jovens”, além das tradicionais barras e pepitas de ouro. Bancos e joalherias lançam produtos mais caros a esse público e vendem em apps e entregam via correios ou nas próprias agências. "Algo que, no Brasil, não daria certo", emenda.

E não se trata apenas dos mais jovens. Em entrevista recente à CNBC, Chris Mancini, gerente de portfólio do Gabelli Gold, um fundo que investe em mineradoras de ouro, afirmou que “indivíduos ricos na China” e “damas” (senhoras aposentadas), que veem o mercado imobiliário capengando, migram para outros ativos físicos. “E aí, compram ouro”, disse.

Aliás, entre as estratégias de diversificação, vale também comprar ações de empresas de joias. Por isso, Xu Gaoming tornou-se o mais novo bilionário da China, após a bem-sucedida abertura de capital da Laopu Gold, em Hong Kong, na semana passada. A empresa é conhecida como a "Hermès das Joias de Ouro" devido aos designs elaborados e padrões imperiais de brincos, colares e pulseiras - além dos altos preços.

Por tudo isso, a China deve retornar às compras de ouro, sustentando os preços negociados no mercado internacional - e não apenas porque são tempos de tensões geopolíticas contínuas, mas também porque os consumidores chineses estão atentos à valorização do metal precioso no futuro, para, então, adquirir um imóvel quando o mercado imobiliário estiver mais equilibrado.

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