Dois metais ocupam lados opostos no espectro dos investimentos: um deles avança com o sentimento de risco; o outro, atua como “porto seguro” para o dinheiro. No entanto, os preços do cobre e do ouro subiram e caíram juntos em cada um dos últimos cinco anos. E tudo leva a crer que essa sintonia pode continuar com uma eventual disparada em 2021.
O cobre está encerrando 2020 com uma alta de cerca de 27% e deve se valorizar ainda mais no ano que vem se realmente houver o repique econômico mundial previsto com as vacinas para o coronavírus.
No caso do ouro, a expectativa é que o rali de 21% neste ano continue em 2021, se o governo Biden aprovar – como pretende fazer – mais estímulos de combate à covid-19.
Apesar dessas perspectivas positivas, as previsões de preço tanto para o cobre quanto para o ouro são turvas no próximo ano.
Cobre deve renovar máximas em 2021
A agência britânica Commodity Market Analytics acredita que o cobre com entrega em três meses na Bolsa de Metais de Londres pode facilmente revisitar, e romper, a máxima deste ano a US$ 8.027 por tonelada se a China continuar se recuperando mais rápido da pandemia do que o resto do mundo.
A empresa aposta na alta, levando em conta o rali de 18% do cobre desde o início de novembro, quando começaram a circular notícias sobre a eficácia dos ensaios clínicos das vacinas para a covid-19 desenvolvidas pela Pfizer (NYSE:PFE) e Moderna (NASDAQ:MRNA).
A Fitch Ratings e a Bloomberg, enquanto isso, publicaram estimativas consensuais em meados de dezembro, no sentido de que o cobre com entrega em três meses ficaria na faixa de US$ 6.800 a US$ 6.900, respectivamente, em média em 2021.
Demanda do cobre em 2021 dependerá, em grande medida, da China
Dan Smith, da Commodity Market Analytics, fez uma publicação no portal INN dizendo que o crescimento projetado de 2% da China em 2021 será o principal vetor de demanda mundial dos metais, principalmente do cobre.
Também se espera uma rápida recuperação no Japão e na Europa, onde a atividade caiu mais em 2020 devido aos bloqueios relacionados à covid-19, afirmou.
Nos Estados Unidos, a presidência de Biden pode elevar a demanda de cobre com sua agenda verde, que promete "incentivar a energia renovável e os veículos elétricos, e isso pode elevar a demanda do metal", complementou Smith.
Rali das ações também é positivo para o cobre
O Grupo CRU de Londres também prevê preços mais altos do que os previstos pela Fitch e a Bloomberg para o cobre em 2021 em média. Charlie Durant, consultor-chefe do Grupo CRU, disse ao portal INN que acredita que o metal vermelho deva ser negociado a partir de US$ 7.000 nos próximos 12 meses na bolsa de metais de Londres, graças ao aumento do apetite para o risco na maioria das commodities, ao lado das ações.
Durant disse ainda:
“Os investidores acreditam que o preço do cobre continuará subindo em razão dos baixos estoques e da perspectiva de um mercado balanceado no próximo ano. Já quem aposta na venda aponta para os custos-caixa de mineradores de apenas US$ 5.000. Essa incerteza mostra que 2021 pode ser um ano de muita volatilidade nos preços”.
Assim como Smith, da Commodity Market Analytics, Durant também acredita que a China superará as projeções de crescimento e estimulará outro fenômeno parecido ao que ocorreu com os preços do cobre em 2020. O cobre despencou 12% em março, depois de dois meses de bloqueios na China, mas voltou a disparar sem parar a partir de abril, assim que a segunda economia mundial se reabriu, mesmo com o resto do mundo, inclusive os Estados Unidos, interrompendo os negócios.
Durant também afirmou:
“Acredito que a parte mais interessante da história foi a rapidez da retomada das compras chinesas e a forma como o país asiático absorveu o metal.”
“Os mais recentes dados macroeconômicos são robustos de forma geral, com números mensais positivos no mercado imobiliário. Para 2021, acreditamos que as medidas de estímulo, a recuperação do setor automotivo e o avanço do mercado de construção podem novamente ajudar a impulsionar a demanda chinesa por cobre refinado em mais de 2% ano a ano”.
Ouro: Goldman crava US$ 2.300 no ano que vem
Quanto ao ouro, os analistas do Goldman Sachs cravaram a máxima de US$ 2.300 por onça em 2021, na expectativa de que a recuperação da recessão provocada pelo coronavírus fará a inflação subir no ano que vem.
Os futuros do ouro na COMEX de Nova York não conseguiram ultrapassar US$ 2.090 neste ano.
A equipe econômica do Goldman considera que a inflação atingirá o pico de 3% em 2021, antes de cair no fim do ano.
A expectativa é que os preços do ouro subam mais graças a uma recuperação da demanda física do metal por parte de grandes compradores tradicionais na Índia e China, afirmaram os analistas do Goldman.
A britânica Capital Economics, no entanto, espera que a alta do ouro futuro na COMEX em 2021 fique em torno de US$ 1.900 – não muito acima dos níveis atuais. A empresa afirma que o aumento da inflação prejudicaria o atual ambiente de juros baixos e de dissuadiria investimentos em ativos não lastreados em juros, como o ouro.
Estímulos nos EUA decidirão o destino do ouro
Na Investing.com, acreditamos que o ouro futuro pode ultrapassar a projeção de US$ 2.300 do Goldman, desde que Biden consiga levar a cabo seus planos de estímulo para reativar a economia americana.
O esforço hercúleo para aprovar o segundo alívio no Senado dos EUA neste ano é prova de que o ouro enfrentar dificuldades para avançar acima de US$ 2.000.
Indo direto ao ponto, o governo Biden precisa se livrar do impasse político presente no Senado, atualmente dominado por republicanos, referente ao pacote de alívio contra a covid-19, que sua administração pretende aprovar em 2021.
O divisor de águas para isso será o segundo turno das eleições na Geórgia para o Senado, em 5 de janeiro. Em caso de vitória dos democratas, o partido do presidente assumirá o controle efetivo de ambas as casas congressuais, permitindo-lhe aprovar praticamente qualquer legislação.
O presidente eleito já declarou que pretende instar o congresso a aprovar um pacote de estímulo maior depois que assumir o cargo em 20 de janeiro. Se os democratas vencerem o segundo turno na Geórgia, Biden pode propor dois, ou até mesmo três, pacotes de alívio antes do fim de 2020, a fim de tentar acelerar a recuperação nos EUA.
Com isso, não seria demais pensar que o ouro possa atingir a cotação de até US$ 3.000 por onça.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.