O ambiente global repercute positivamente os avanços no progresso das vacinas contra a covid e isto provoca uma distensão na aversão ao risco, levando a enorme liquidez empoçada no mercado internacional a buscar dispersão focando rentabilidade nos mercados emergentes, o que aconteceu inicialmente com direcionamento aos países asiáticos, e mais recentemente, aos emergentes latino americanos, onde se inclui o Brasil.
Afora a questão das vacinas, efetivamente a eleição do democrata Joe Biden tem enorme relevância na distensão que se vislumbra nas relações internacionais entre as economias mais importantes e isto provoca fragilização do dólar ante as moedas emergentes, em especial as vinculadas aos países produtores de commodities.
O Brasil tem um contexto com situação fiscal precaríssima e a Dívida Pública tende a atingir 100% do PIB em perspectiva, este é o contraponto ao otimismo porque o governo tem limitações relevantes para gestão.
O deslocamento de recursos externos para a Bovespa ainda é modesto considerando que se estima a liquidez presente no mercado internacional em torno de US$ 3,0 TRI, e o “corner” em que se encontra o governo é um dos entraves para que não ocorra fluxo mais intenso, visto que o país ainda convive com a 1ª fase da pandemia do coronavírus e tem a imperativa necessidade de interromper os programas assistenciais que representaram injeção de R$ 250,0 Bi nos últimos 7 meses na economia, e há sinais consistentes de rebote do agravamento da pandemia afetando as atividades econômicas, que poderão exigir continuidade por parte do governo da continuidade dos programas sem que existam fontes de financiamento viáveis, e isto poderá acentuar o risco fiscal e a probabilidade de rompimento do teto orçamentário.
Sabidamente, os programas assistenciais do governo gerando renda envolvendo R$ 250,0 bi, para as classes mais baixas da sociedade, foram os responsáveis e fundamentais para a intensificação do consumo, que movimentou a cadeia produtiva ainda que não de forma homogênea, mas promoveu os sinais de recuperação da atividade econômica no país, que podem recrudescer se forem efetivamente interrompidos.
A chegada de investidores estrangeiros tem sido seletiva na locação dos recursos em ações brasileiras, a preferência tem sido as chamadas “blue chips” e outras de efetiva relevância na economia brasileira e que sofreram desgastes ao longo da crise da pandemia e agora retomam perspectivas favoráveis, em detrimento aos papéis do e-commerce que se valorizaram muito durante a crise e tiveram incrementos fortes nas suas vendas alavancadas pelos recursos dos programas assistenciais do governo.
O impasse da questão fiscal e sua complexidade e a dificuldade de carência de articulação política e protagonismo por parte do governo na implementação efetiva, materializada, das reformas e programas de privatizações, que podem proporcionar o alívio ao sufoco fiscal, dificultam a confiança de sustentabilidade das tendências que são vislumbradas, que ficam sempre ameaçadas pelo imponderável do eventual descontrole e rompimento do teto orçamentário.
Haverá neste mês demanda pontual decorrente do ajuste do “overhedge” por parte dos bancos e que envolverá algo como US$ 16,0 BI, que é fato sabido e para o qual o BC tem oferecido oferta suplementar à rolagem diária de contratos de swaps vincendo com o objetivo de mitigar pressões maiores ao longo do mês, se bem que entendemos que será também oportunidade para o BC/TN vender à vista parcela das reservas cambiais.
Tratando de demanda legítima no mercado de câmbio à vista, portanto não especulativa, não há porque se esperar pressões maiores desde que o BC já demonstrou iniciativa de atuar preventivamente.
Há, no entanto, outro fator, agora não tão transparente visto que o BC retirou de seus demonstrativos sobre o fluxo cambial, qual seja o do total de importações “em ser” ingressadas no país ainda sem câmbio contratado e que indicam demanda futura e, é de se supor que haja um considerável volume de dólares a ser demandado se e quando o dólar atingir preço mais baixo no nosso mercado de câmbio, algo como R$ 5,20, que acreditamos não estejam protegidos por “hedge cambial”, como habitualmente ocorreria, face ao preço exacerbado da moeda americana na ocorrência das importações, mas que tendem a ser liquidados dentro do exercício de 2020.
A remessa de lucros e dividendos não deve ser expressiva neste exercício, mas pode ser estimulada pelas constantes “ameaças” de tributação emitidas pelo Ministro da Economia alcançando os dividendos.
É imperativo que o governo retome a materialização das reformas e programas de privatizações com protagonismo e articulação política, e desta forma colocando no radar possibilidades efetivas de equacionamento da grave crise fiscal, possibilitando que o país não “perca o bonde” nesta retomada de crescimento global.
Acreditamos que, então, a Bovespa possa evidenciar tendência à consolidação de forte movimento de valorização sustentável e de forma homogênea e atrelada em ações de empresas mais representativas da economia brasileira, viabilizando novas IPO´s, mas após sinais efetivos de maior determinação governamental na busca das reformas.
Naturalmente, feita a “lição de casa” pelo governo e reconquistando o país efetiva atratividade e credibilidade, com o equacionamento da questão fiscal, o preço da moeda americana tenderá a repercutir a efetiva fragilização do dólar no mercado internacional, desaparecerão os fatores internos que conspiram para que haja um apreçamento mais pontual.
Não é improvável que o preço retorne a parâmetros em torno de R$ 4,80 ou menos, como consideram organismos internacionais que consideram o preço atual fora da curva, mas nem sempre consideram os problemas internos do país.
Tem havido enorme perda de tempo no processo de transição para as reformas e inércia na implementação do programa de privatizações e isto posterga a possibilidade de melhores expectativas para o ano que vem se estes temas ganharem tração de imediato.
Portanto, por enquanto, deve ser mantido postura com “OTIMISMO SEM PERDER A SENSATEZ, HÁ RISCOS E QUESTÕES DIFÍCEIS NÃO RESOLVIDAS!”.