O noticiário local permanecerá dominado pelo assunto eleição até o fim do mês. É muito razoável que os agentes econômicos estejam atrás de pistas mais concretas sobre o que esperar em termos de política econômica do próximo governo e se movimentem para precificar corretamente cada novo pedaço de informação que possa surgir.
No entanto, não podemos deixar de comentar a evolução recente de alguns indicadores da economia norte-americana. Na sexta da semana passada, foi divulgado o dado do Payroll, mostrando uma nova queda na taxa de desemprego. Já nesta semana, tivemos a divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI) de setembro, mostrando aceleração em seu componente subjacente no maior ritmo (%YoY) desde 1982.
A divulgação do Payroll teve leitura acima da mediana das expectativas novamente (263k vs. 255k esperado). A média móvel de três meses encontra-se agora em 372k ante 382k da leitura anterior. Apesar da divulgação acima do esperado, destaca-se a desaceleração da média móvel de 12 meses do headline observada desde abril.
Já em termos de desemprego, a U-3 (taxa de desemprego) voltou para 3,5%, após subir para 3,7% em agosto. A U-6 (uma métrica de desemprego mais ampla) retornou para 6,7% (vs. 7,0% anterior). A taxa de participação caiu 0,1 p.p., de 62,4% para 62,3%, colaborando para a queda do desemprego.
Esse movimento de aperto do mercado de trabalho demonstra claro impacto nas métricas de inflação. O índice de preços ao consumidor nos EUA teve leitura de 0,4% m/m, acima da mediana das projeções (0,2%) e da leitura anterior (0,1%). Na leitura y/y, o índice ficou em 8,2%, ante 8,1% esperado e 8,3% de agosto. A abertura subjacente também surpreendeu positivamente (0,6% vs. 0,5% esperados e 0,6% anterior).
Os serviços, por sua vez, saíram de 0,6% para 0,8%, com altas disseminadas em todos os grupos. Moradia registrou 0,7% (vs. 0,7% anterior), puxada por um avanço de 0,8% tanto em OER (vs. 0,7% anterior) quanto em rent of primary residence (vs. 0,7% anterior). Adicionalmente, serviços de transportes aceleraram de 0,5% para 1,9%, puxados tanto por seguros de veículos (1,6% vs. 1,3% anterior), manutenção e reparo de veículos (1.9% vs. 1,7% anterior) quanto por tarifas aéreas (0,8% vs. -4,6% anterior.). Por fim, serviços de cuidados médicos também avançaram fortemente (1,0% vs. 0,8% anterior).
Ou seja, temos vários motivos para crer que a inflação nos EUA permanecerá pressionada no médio prazo e que a convergência para a meta em 2023 será muito difícil. Assim sendo, restam poucas alternativas para o Banco Central dos EUA (FED), que não elevar continuamente a taxa de juros. Nossa projeção para o juro terminal está em 4,75-5%, patamar que deveria ser atingido na reunião de março do ano que vem e nele permanecer até o final de 2023. No entanto, a perspectiva imposta pela leitura da inflação é de riscos crescentes para cima, o que aumentaria o ritmo de redução de liquidez global e a pressão sobre os ativos emergentes.