Na semana passada, publiquei um artigo chamado: “Os sentimentos dos investidores em um ‘bull market’”, texto em que relatei o comportamento de agentes em um mercado financeiro em alta. Hoje, falarei sobre o inverso: as emoções em um “bear market” (mercado de baixa), tempos em que o otimismo e a euforia se transformam, rapidamente, em pessimismo e angústia.
A tolerância ao risco, como em um bull market, não muda. Entretanto, a percepção sobre o mesmo aumenta consideravelmente. Um risco que anteriormente passaria despercebido agora é maximizado infinitamente na mente do investidor, que transforma pequenos riscos, do tamanho de uma mosca, em grandes elefantes.
Muita riqueza e confiança são destruídas em um bear market, assim como reputações. Os investidores param de acompanhar seus retornos (checavam o home broker todo dia quando estavam ganhando) pois torna-se doloroso olhar para os resultados atuais.
Depois de meses ou até mesmo anos de retornos decrescentes, os investidores perdem o interesse no mercado de ações e começam a buscar por outras classes de ativos e abandonar o mercado acionário. O investimento em renda fixa, que antes estava morto, volta a atrair bilhões em aportes.
Existem uma frase muito icônica de John Pierpont Morgan, que diz: “Em mercados de baixa, as ações retornam para seus donos verdadeiros.” O fato dessa brilhante afirmação ter sido feita pelo banqueiro em torno do ano 1900 mostra como o comportamento dos investidores não mudou.
Segundo Benjamim Graham, os depressivos saem da toca anunciando o fim do mundo. Muitas pessoas, infelizmente, compram essa narrativa, pois elas buscam respostas convictas em momentos de incertezas (que são os momentos em que menos existem respostas convictas).
Os preços das ações então começam a se movimentar e a margem de segurança, que não existia no bull market, passa a se abrir. Investidores que estavam super corajosos quando a bolsa estava nos 120.000 pontos estão agora apavorados, o que é meio contraditório.
Quando o preço e os múltiplos dos ativos estavam esticados, a probabilidade de sucesso na compra de um ativo era muito menor do que agora, principalmente se você souber o que estiver fazendo e focar em valor, não em preço.
Na última segunda-feira (9), por exemplo, encontramos ações de boas empresas sendo negociadas em 20%, 30%, até 40% abaixo do patrimônio. Algumas, com múltiplos inferiores a 2016. Tínhamos ações oferecendo yields de mais de 8%, e outras com earnings yield (LPA/P) de mais de 14%.
No momento em que eu escrevo esse texto (terça-feira), temos vinte ações do Ibovespa com dividend yield acima do CDI. Obviamente, algumas são value trap, mas outras possuem fluxos de caixa constantes e previsíveis, que não serão profundamente impactados no longo prazo.
Logo sentiremos saudades desse preço e, quando eles passarem, você vai dizer que era óbvio que estavam baratos. É normal mentalizarmos e maximizarmos os riscos no momento de tomada de decisão quando estamos no olho do furacão. É um viés do ser humano, não há muito o que fazer.
Mas você pode afirmar que “desta vez é diferente por tal motivo”. É realmente diferente pois todas as vezes são diferentes. A crise atual não é igual a nenhuma crise no passado, assim como as do passado não eram iguais as suas antecessoras também. O sistema erra, aprende e corrige suas ações constantemente, por isso a história não se repete, mas rima.
Se você estiver desconfortável com a alta volatilidade de sua carteira, pergunte-se se não é devido à algum desses motivos: 1) você não sabia o que estava comprando, por quanto estava comprando ou quanto valia o que estava comprando 2) você investiu recursos de curto prazo em ativos cujo horizonte é médio/longo prazo; 3) você não respeitou o seu perfil de risco.
Howard Marks, um dos melhores investidores, diz: “Acertar o movimento da bolsa é uma mentalidade de trader. Eu não sei e nem quero adivinhar o que vai acontecer na próxima semana ou no próximo mês. Eu sou investidor. E o que eu faço é comparar os preços de tela com o que enxergo que seja o valor de longo prazo de um ativo”.
Por fim, gostaria de compartilhar o gráfico abaixo, que comprova o discurso de que a estratégia de investir visando o longo prazo e a mentalidade paciente são recompensadores