À medida que cresce o interesse em criptomoedas, há um aumento correspondente na atividade de mineração por entusiastas. Parece promissor para a classe de ativos, certo? Mas há uma desvantagem significativa a esse desenvolvimento aparentemente positivo.
Pools de mineração, nos quais grupos de mineradores combinam seus recursos para compartilharem os custos e a eficiência do poder de processamento em rede expandiram ao mesmo tempo. Os participantes dos pools de mineração também dividem igualmente as recompensas, de acordo com a quantidade de trabalho que eles contribuíram para a probabilidade de encontrarem um bloco.
Apenas no espaço do bitcoin, de acordo com stockstotrade.com, com base em informação compilada no final de janeiro de 2018, todos os 10 maiores agentes de mercado no mundo de criptomoedas em termos de taxa de hash foram pools de mineração, com uma participação combinada de mercado, naquele momento, de 86,5%. AntPool, o maior pool de mineração do mundo, possuía 17,4% do mercado, ao passo que BitFury, o maior serviço de mineração em nuvem, ocupava o 11º lugar na lista com apenas 2,8% do bolo.
Quem são os maiores mineradores de criptomoedas agora? Manish Kumbhare, cofundador da Peppermint-Chain, afirma que atualmente os cinco grandes mineradores são BTC.com, ViaBTC, AntPool, BTC.TOP e Slushpool. Juntos, possuem 65% da taxa de hash prevista para seus investimentos concentrados em mineração. Taxa de hash é a saída da função de hash, a velocidade na qual uma operação no código de bitcoin (ou de outra criptomoeda) ocorre.
Por exemplo, uma taxa de hash maior é melhor para mineradores uma vez que aumenta a oportunidade de encontrar o próximo bloco e receber uma recompensa. Mineradores de bitcoin contribuem para o processo de mineração ao verificar com segurança as transações e colocarem blocos de dados em um registro público descentralizado, o que normalmente exige equipamentos personalizados e caros.
No entanto, pools de mineração podem reduzir, ou no pior cenário até mesmo impedirem, oportunidades para mineradores individuais. A possibilidade de conluio em direção a um ataque de 51% aumenta.
Além de distorcer a natureza descentralizada do empreendimento das criptomoedas - um dos princípios fundadores da classe de ativos - esses pools também podem prejudicar operações menores, aumentando preocupações com "um ataque de 51%". Para aqueles que não estão familiarizados com a noção de "ataque de 51%", isso se refere a um ataque a uma blockchain por um grupo de mineradores que controlem mais de 50% da taxa de hash de mineração da rede, ou poder de computação.
Dessa maneira, há uma possibilidade real de que a segurança de criptomoedas possa ser seriamente comprometida. Este artigo tem apenas fins informativos. Não é nosso objetivo criar medo, incerteza e dúvida. Em vez disso, o ponto desta publicação é abordar os riscos e discutir abertamente a questão.
Em teoria, pools de mineração são uma ótima maneira para pessoas trabalharem juntas para minerarem uma moeda digital específica, afirma Marc Bernegger, empreendedor e investidor da web radicado na Suíça que também está no conselho do Falcon Private Bank e é consultor de ICO na SwissRealCoin.
Pools de mineração são realmente um assunto interessante. Mas ao centralizar o processo, você retira muito do que torna uma criptomoeda tão atraente. Em retorno, isso leva mineradores e entusiastas a aumentar o nível de questões de segurança ao manter os dados dos usuários - e suas moedas - em um só lugar".
Ele concorda que a questão do ataque de 51%, também, é motivo de preocupação. Essencialmente, isso significa que quando um pool se torna muito grande, muito poderoso, ele pode teoricamente controlar 51% do poder de hash da rede. Ao obter a maioria da rede, problemas incluindo impedir que novas transações sejam confirmadas, bloquear pagamentos, dobrar os gastos se tornariam possíveis.
Na sexta-feira passada, a Motherboard divulgou que o AntPool anunciou em redes sociais que estaria "queimando" 12% do dinheiro que eles ganharam ao minerar bitcoin cash, para inflar o valor do BCH ao fixar a oferta da moeda alternativa, forçando os investidores a manterem seu estoque em vez de vendê-lo, forçando assim um aumento no valor de cada moeda.
Não está claro se a tentativa do AntPool de "proteger" o mercado terá êxito em elevar o preço do BCH em longo prazo, mas isso ilustra as maneiras possíveis pelas quais um forte pool de mineração poderia monopolizar o mercado de criptomoedas. Isso também levanta a questão se é possível consolidar tamanho poder computacional para se realizar um ataque de 51%.
Alexander Demidko, cofundador da Fluence e diretor de pesquisa da empresa, acredita ser possível, mas não necessariamente provável.
"Qualquer pessoa com recursos e determinação suficientes poderia fazer isso. Conseguir isso na prática, no entanto, é um feito quase impossível. Por quê? Quem atacar não exigirá apenas ganhar controle sobre 51% da rede, o que é difícil por si só, mas manter esse controle por tempo o suficiente para ter a oportunidade [de realizar] quaisquer ações maliciosas. Tudo isso sem que todos percebam".
Ryan Taylor, diretor executivo do Dash Core Group, observa que para qualquer blockchain que utilize o mecanismo de consenso de prova de trabalho, a formação de pools de mineração é inevitável. Ele aponta que a narrativa da ameaça de um ataque de 51% conduzido por um pool de mineração tende a ser muito simplista, especialmente quando envolve grandes redes estabelecidas como a do bitcoin.
Uma das mais significativas inovações da tecnologia blockchain foi seu mecanismo de consenso e a maneira na qual ele incentiva a confiança entre as partes que sabe de pouco a nada uma sobre a outra, afirma Taylor. Monopolizar a atividade de mineração poderia ser significativamente negativa não apenas para o ativo, mas também para o pool de mineração envolvido na ação:
"Vários pools de mineração poderiam teoricamente conspirar de tal forma que tivesse poder para executar o ataque, mas isso seria contraproducente. Se alguém que realizasse o ataque fosse utilizar sua capacidade de forma desonesta para reescrever o histórico de transações, participantes da rede rapidamente perderiam a confiança na blockchain afetada. Uma perda de confiança rapidamente se traduziria em quedas no preço, o que prejudicaria os retornos dos enormes investimentos fixos em equipamento de mineração. Como um ataque de 51% não é isento de riscos para quem perpetrar o ataque, a realidade é que talvez não haja um cenário em que um ataque de 51% seja economicamente viável para quem realizar um ataque".
Grupos corporativos não são o único tipo de pools de mineração atualmente existentes. A China mantém cerca de 60% a 75% da rede de mineração, afirma David Fragale, cofundador da Atonomi. Neste momento, há mais de 1.500 criptomoedas disponíveis, afirma ele. Todas essas moedas alternativas nasceram do bitcoin e oferecem diferentes "sabores", métodos eficazes para atingir o consenso e incentivar participantes do ecossistema.
"Embora ainda seja cedo para criptomoedas, é importante para inovadores e para governos incluir a comunidade regulatória para colaborar e adotar a estrutura correta para sustentar o crescimento e a segurança do movimento de criptomoedas".
Custos de mineração continuam a subir
Questões de segurança não são os únicos riscos enfrentados por mineradores menores. Embora muitos entusiastas continuem a executar operações de mineração a partir de seus quartos, os custos tanto do equipamento quanto do uso de energia subiram muito.
Há informações de que as vendas e os preços de unidades de processamento gráfico (GPUs, na sigla em inglês) dispararam nos últimos anos porque mineradores de criptomoedas estão utilizando-as para criar fazendas de servidores. De acordo com a Computerworld, que cita as mais recentes estatísticas da Gartner sobre receitas de vendas de GPUs que são utilizadas como placas adicionais para computadores pessoais, nos últimos três anos, as receitas dos fabricantes dobraram de US$ 2,7 bilhões para US$ 4,7 bilhões. Para GPUs utilizadas em centros dedados, a receita para fabricantes de chips disparou de US$ 168 milhões em 2015 para US$ 1,1 bilhão.
Talvez o mais proibitivo seja o aumento dos custos da eletricidade necessária para fazer o equipamento funcionar. À medida que a complexidade da blockchain que sustenta as moedas digitais cresce, é preciso cada vez mais força computacional - e, portanto, mais eletricidade - para validar transações. MarketWatch, fazendo referência ao Índice de Consumo de Energia do Bitcoin, afirma que "o uso global de energia de toda a atividade de mineração do bitcoin já equivale ao consumo de energia do país da Dinamarca, com uma população de 5,7 milhões, e irá eventualmente se aproximar de Bangladesh, um país de 163 milhões de pessoas".
Para manter a lucratividade, muitos mineradores têm se mudado para locais em que o custo de eletricidade seja mais baixo. Energia hidrelétrica barata tornou recentemente a Suécia e a Noruega lugares de interesse, juntamente com a Islândia, que tem sido o foco dos mineradores de criptomoedas já há algum tempo.
No entanto, atravessar o globo para encontrar energia locais cada vez mais baratos em termos de energia não é necessariamente desejável e nem faz sentido, especialmente para mineradores menores. De acordo com um estudo da EliteFixtures, neste momento, a Coreia do Sul é o país mais caro para minerar um único bitcoin, com custos chegando a US$ 26.170 por unidade, enquanto a Venezuela, onde o custo por token é de apenas US$ 531, é o mais barato.
Dadas as estatísticas, o crescimento de pools de mineração faz certo tipo de sentido. E embora eles possam superar mineradores menores, há muitos outros fatores em jogo que fazem a mineração de criptomoedas ainda mais proibitiva para os agentes menores. Mas se a economia da atividade de mineração de criptomoedas deixar de ser lucrativa, ou regulamentações governamentais dificultarem a forma atual como ocorrem os atuais processos de mineração, é certo que a evolução da mineração de criptomoedas provavelmente irá tomar outro rumo. Como em tantas outras coisas nesse admirável mundo novo, a evolução da classe de ativos continua a se desdobrar.