Não é nenhuma novidade nossa posição de melhor pagador de juros reais no mundo, ante aos 40 países com maior volume negociado no mercado de renda fixa global. Produzido desde 2005, foram em raras oportunidades que perdemos a alcunha de campeões absolutos.
As exceções ocorreram primeiramente entre 2007 e 2008.
Em 2006, quando a Turquia enfrentava uma escalada de inflação de quase 12% ao ano, o Banco Central agiu pesadamente para refrear os preços, com elevação dos juros nominais aos 17,25% ao ano em outubro de 2006, movimento que trouxe pesados efeitos ao país.
Passada a reposta à forte alta, a Turquia entrou numa escalada de afrouxamento monetário que culminou com uma taxa nominal de 1,5% ao ano em dezembro de 2010 e considera uma taxa atual de 7,25% ao ano, com uma inflação próxima à atual brasileira, 7,28% ao ano.
Perdemos o topo também em 2009 para a China e Rússia, quando resolvemos cortar os juros para enfrentar os efeitos da crise das hipotecas, para retomar o pódio novamente em 2010, ao retomarmos o aperto.
Movimento semelhante ocorreu entre abril de 2012 e outubro de 2013 no mesmo sentido, primeiramente um corte, perda do pódio e retomada com o ciclo de alta de juros.
Por um breve momento ao final de 2014 até o primeiro trimestre de 2015, fomos relegados ao segundo lugar com a política de forte alta de juros do BC russo e paramos por aí.
Em resumo, deixamos de ser campeões em poucos e breves momentos por movimentações extremas de juros de outros países ou por uma ação desencontrada de afrouxamento monetário com características desenvolvimentistas do BC brasileiro.
Esta perda nunca ocorreu por observarmos as condições ideais para o corte de juros, numa conjunção de uma inflação sob controle, controle fiscal e atividade econômica em expansão.
Ao contrário da culpa que atribuída ao custo do carregamento da dívida que tem os juros, temos que pensar na taxa como uma consequência de uma gama de fatores macroeconômicos, em especial o quão expansionista opera um governo.
A Turquia provou que é possível se conviver com juros muito mais baixos em vista às taxas médias de inflação dos últimos anos. Não conseguimos atingir tal objetivo, pois a importância política de um estado agigantado sempre se sobrepôs à necessidade de um ajuste fiscal crível, factual e honesto.
Além do peso da questão fiscal, a qual pode ser ajustada em partes com a PEC 241, a forte indexação da economia brasileira gera uma inércia inflacionária automática em preços administrados, contratos e força uma demanda mínima de rentabilidade que cubra as expectativas de inflação.
Obviamente, isso faz com que as vantagens entre ser rentista e empreendedor são completamente injustas no Brasil desde o início do século passado.
O plano Real teve como um de seus pilares exatamente a desindexação da economia e o sucesso de sua transição foi de um processo de aculturação tanto de retornos irreais, quanto de correções automáticas.
Para termos sucesso no combate à inflação e conseguirmos operar em taxas nominais consideravelmente abaixo dos dois dígitos, devemos atacar não somente o fronte fiscal, mas retomar a ideia da desindexação da economia, nos moldes de 1994/1996.
Quem sabe o futuro do Brasil está mais nos investimentos na economia real, do que nos rendimentos irreais dos juros reais.