A campanha presidencial nos Estados Unidos começou para valer com o primeiro debate entre Joe Biden e Donald Trump em junho, quatro meses antes das eleições.
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Em um ano marcado por eleições importantes, sem dúvida, o nome do próximo presidente americano é a variável mais relevante para o cenário internacional nos próximos anos.
Ainda que a geopolítica tenha pautado o primeiro embate, o futuro governante terá de lidar com a geoeconomia durante o mandato, sobretudo as movimentações chinesas e os desafios da transição energética, com uma luta aguerrida pelo controle do mercado de recursos e de consumo vinculados a manufatura de bens cada vez mais eletrificados e informatizados, altamente dependentes de minerais estratégicos e fornecimento de energias limpas.
Durante seu mandato, Trump endureceu a disputa econômica com a China e deu os primeiros passos para um retorno de setores manufatureiros estratégicos para dentro do território americano.
Biden não fez qualquer inflexão nessa política, inclusive promoveu e promulgou a Lei dos Semicondutores, que busca fazer frente à dependência americana de fornecedores estrangeiros no setor.
A China avança em uma estratégia de reaceleração econômica, ainda movida por exportações e estabilização de sua cadeia de fornecedores, agora com foco na transição energética, já com queixas europeias e americanas. O momento chinês não é dos melhores: as exportações chinesas sofreram uma forte queda em 2023, por volta de 10%.
O mundo nunca esteve tão parecido com o período entreguerras (1919‒1939): guerra cambial, protecionismo, sanções, regionalização econômica, conflitos militares, inclusive na Europa.
O Norte Global foi uma miragem, que agora se bipartiu, e o Sul Global, uma ilusão, que se tripartiu, sendo a influência sobre essas áreas crucial para a manutenção da posição americana e para uma ascensão chinesa.
Por essas e outras razões, a China se tornou uma questão suprapartidária na política americana: Biden ou Trump não poderão esquivar-se de dar respostas geoeconômicas às pretensões chinesas.
O próximo presidente americano será pressionado, interna e externamente, a enfraquecer o bloco político encabeçado por China e Rússia (Leste Global) e impedir sua transformação em bloco econômico (cerca de 20% da economia e da população mundial).
O bloco liderado por América do Norte e Europa Ocidental (Oeste Global), muito bem amarrado por acordos sólidos (Nafta, UE, Otan, Ocde), é a espinha dorsal do sistema econômico internacional (cerca de 60% e 15% da economia e população mundiais, respectivamente), mas enfrenta sérias dificuldades de coordenação política, diplomática e militar, somadas à perda de relevância econômica europeia.
O Sudeste Global (com Oriente Médio, Subcontinente Indiano, Indonésia etc.) tem servido de rota de fuga (nearshoring) dos investidores avessos às tensões na área chinesa. O Sudoeste Global (com Sudeste Asiático, México e América do Sul) seguem sob forte influência americana e europeia, mas menos convictos. O que restou do Sul Global entrou no radar pelo papel no setor extrativo.
A grande missão do próximo presidente americano é manter a liderança econômica do país em um mundo que passa por seu momento de maior instabilidade e concorrência desde o Pós-Guerra e o Pós-Guerra Fria.