As Fintechs têm chamado cada vez mais a atenção do mundo e há muito tempo estamos escutando que elas vieram para destruir os bancões tradicionais. Certamente alguns eventos recentes corroboram para isso.
Por exemplo, no dia 8 de junho foi anunciado que a Berkshire Hathaway (NYSE:BRKb) (SA:BERK34), empresa do Warren Buffett, iria fazer um investimento de US$ 500 milhões no Nubank, o que tornará a fintech brasileira no banco digital mais valioso do mundo, avaliado em US$ 30 bilhões. Isso vem alguns meses depois que a própria Hathaway reduziu significativamente (se não, por completa) sua exposição em vários bancões americanos (Goldman Sachs (NYSE:GS) (SA:GSGI34), JP Morgan (NYSE:JPM) (SA:JPMC34) e Wells Fargo (NYSE:WFC) (SA:WFCO34)) em 2020.
Entretanto, ainda há muitas dúvidas no mercado se as Fintechs vão algum dia gerar algum lucro. O próprio Nubank nunca gerou lucro desde sua criação em 2013, e em 2020 apresentou um prejuízo recorde de R$ 230 milhões. Isso porque a empresa, para competir com os bancões, não cobra uma série de tarifas que os maiores cobram.
Atualmente os investidores das fintechs não se preocupam com lucro, eles querem é crescimento de receita. Mas cedo ou tarde, os lucros terão que vir para pagar a conta. E nesse momento, será que as fintechs serão como os bancões cobrando diversas taxas?
É por isso que muitos bancos ainda aparentam ser complacentes diante da ameaça das fintechs, e continuam com suas estruturas infladas, caras e enrijecidas. Como se não imaginassem que há uma ameaça real por parte das fintechs.
É aí que entra o concorrente silencioso que vai mudar esse jogo para sempre: DeFi.
O que é DeFi?
Você, talvez, ainda não tenha ouvido falar sobre DeFi. Mas com certeza ouvirá muito daqui pra frente.
DeFi vem do inglês, decentralized finance, ou em bom português, finanças descentralizadas.
A ideia consiste em prover serviços financeiros, até então restritos às grandes instituições financeiras, para qualquer pessoa, sem precisar pedir a permissão de ninguém, de maneira transparente e 24 horas por dia.
E isso representa um grande problema para os bancos, pois com DeFi, pessoas e empresas não precisarão de um banco para ter acesso a crédito ou liquidez. As pessoas simplesmente poderão usar DeFi para tal.
Parece muito complicado, mas na verdade é bem simples. Hoje, se você precisa pegar um empréstimo ou financiamento, você vai a um banco. Preenche uma papelada grande. Espera vários dias. Paga várias taxas escondidas e tudo isso com juros altíssimos. Isso se tiver seu perfil aprovado pela instituição, que irá investigar seu histórico de crédito. Esse processo é muito complicado e trabalhoso para todos os envolvidos.
Com DeFi, você, em poucos cliques, tem seu crédito aprovado, com juros transparentes e sem precisar da aprovação de ninguém.
Esse é somente um dos poucos exemplos que se pode utilizar em DeFi. Corretoras descentralizadas, seguradoras, moedas estáveis, derivativos, etc, são alguns exemplos de serviços financeiros oferecidos por DeFi.
E o melhor de tudo é que agora, você pode se tornar o próprio banco, oferecendo esses serviços para outras pessoas e coletando essas taxas para você.
Aplicativos como Aave (empréstimos), Uniswap (corretora descentralizada), Nexus Mutual (seguradora), Maker DAO (moeda estável), Synthetix (derivativos) são alguns dos maiores aplicativos nesse ramo.
E esse mercado tem explodido de crescimento. São mais de US $100 bilhões, segundo a Coingecko, em Total Value Locked (uma medida de quanto estão sendo investidos nos diferentes aplicativos de DeFi).
E as taxas coletadas por esses aplicativos também são impressionantes. A Uniswap sozinha no último mês coletou cerca de US$ 180 milhões em taxas. Essas taxas são repassadas aos seus usuários que fornecem liquidez para as transações.
Já pensou você poder receber parte dessas taxas, monetizando seus ativos criptos? Isso é revolucionário.
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E como isso pode impactar os bancos tradicionais?
De diversas maneiras. Os bancos tradicionais possuem grandes estruturas, que muitas vezes são rígidas e com grandes custos operacionais. Esses custos são repassados aos clientes, que muitas vezes pagam altas taxas para ter acesso aos produtos bancários.
E blockchain chegando oferecendo produtos similares com rapidez e eficiência, isso com certeza impactará a lucratividade dos bancos. Pois aplicativos em blockchain são muito mais eficientes com seu capital e operações.
Em um estudo recente publicado pelo Morgan Stanley (NYSE:MS), o Euro Digital (projeto de moeda digital do Banco Central Europeu) tiraria cerca de 8% dos depósitos de bancos europeus. Muitos dentre esses já apresentam índices de empréstimos-por-depósito próximos de 100%.
E estamos falando de um "simples" Euro Digital (algo que não oferecerá qualquer rendimento). Imagine o impacto nos depósitos bancários quando os clientes aprenderem que ao invés de terem juros negativos na Europa, eles poderão rentabilizar e ter juros positivos com DeFi?
Atualmente os Bancos ganham muito dinheiro realizando empréstimos. Isso também tende a mudar a partir do momento que seus clientes se derem conta que podem pegar empréstimos mais baratos e rápidos via DeFi. Aplicativos como Aave atualmente te permitem pegar empréstimos com custo próximo de zero (já que a diferença entre os juros cobrados e as recompensas pagas pelo Aave por utilizar seu aplicativo é muito baixa).
Como comentei acima, existem muitas utilidades em DeFi (seguradora, corretora descentralizada, derivativos, etc) e quando as pessoas aprenderem como utilizá-las, fatalmente a atratividade de usar bancos cairá.
Mas o que falta para uma maior adoção popular?
A resposta curta e direta é: educação.
A grande maioria das pessoas somente ouviu falar de Bitcoin e acredita que criptomoedas e blockchain se resumem a isso.
Das que já ouviram um pouco mais a respeito, muitas ficam receosas, pois:
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Existe muita volatilidade
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O processo de uso não é tão simples (envolve muitos passos)
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Têm medo de hacking
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Não confiam que o mercado seja livre de manipulação
Todos esses pontos são verdadeiros e fazem sentido. E enquanto a comunidade cripto não encontrar mecanismos para resolver esses problemas, muitos vão ficar de fora.
Entretanto, eu acredito que isso não vai durar por muito tempo, pois diante de tanto potencial de revolucionar a indústria financeira, mais e mais aplicativos de DeFi entrarão buscando resolver esses problemas a fim de aumentar sua adoção.
O que os bancos podem fazer?
Sabe a expressão "se não pode vencê-los, una-se a eles"? Pois bem, essa é a oportunidade de ouro que os Bancões têm para se reinventarem e poderem sobreviver nessa nova era. Bancos possuem vasta expertise AML e KYC ("anti money laundering" e "know your customer") e podem trazer isso pro mundo DeFi (ou trazer o mundo DeFi para dentro).
Muito embora Blockchain seja um ambiente no qual não há a necessidade de pedir permissão a alguém, governos ao redor do mundo não gostam de criminosos cometendo atos ilícitos e ainda há alguma percepção entre legisladores que blockchain é muito útil, e será melhor ainda se for "limpa" de atividade criminosa (se é que é possível ser 100%, mas quanto mais limpa, melhor será aceita). Portanto, os bancos que conseguirem trazer isso para o mundo de DeFi poderão receber mais incentivos de governos para angariar fundos, clientes, etc.
E já há bancos que reconhecem a ameaça que DeFi é e estão estudando como usá-la como aliada. O ING, um dos maiores bancos europeus, é um deles. O Sygnum, um banco suíço, também acaba de anunciar que irá oferecer custódia e trading de tokes de DeFi para seus clientes.
Em 2012, Nokia era a maior empresa de celulares do mundo (somente 9 anos atrás, parece que foi uma eternidade). Em 2004, Blockbuster nem imaginaria que Netflix (NASDAQ:NFLX) (SA:NFLX34) dominaria o mercado. Xerox (NYSE:XRX) (SA:XRXB34) e Kodak (NYSE:KODK) também são outras empresas que eram líderes em seu mercado e falharam em se reinventar.
Os bancos correm sério risco de seguirem no mesmo caminho e não há muito tempo para eles. O mundo de DeFi está vindo rápido atrás.
Quem viver, verá…
E você, o que acha?