Começo agradecendo a todos os leitores pelas mensagens gatunas que invadiram minha caixa de entrada desde a última quarta-feira.
A princípio, eu tinha me planejado para dar o presente "quase perfeito" do Felipe apenas para o topo do pódio, mas fui obrigado a reconhecer o mérito de três emails recebidos, dos criativos autores Jonas M., Marco S. e Renan K.
Os três fugiram elegantemente do maniqueísmo, conferindo aos gatos avaliações compatíveis com a ambivalência de Schrödinger.
Sem mais delongas aos curiosos, o livro em questão é "Filosofia Felina", de John Gray.
Embora o autor claramente goste de gatos, trata-se de um belo livro de filosofia, capaz de combinar profundidade epistemológica com uma leitura prazerosa.
Assim como em outro best-seller de Gray ("Cachorros de Palha"), a figura do animal é usada como metáfora.
No caso, a metáfora de um ser vivo que vive em paz consigo mesmo, contente com as atribuições cotidianas do ofício gatuno.
Os gatos não estão em busca de um sentido da vida, pois a vida deles já vem plenamente imbuída de sentido.
Portanto, os animais vivenciam algo bem diferente da condição humana – imposta pela autoconsciência –, de permanente insatisfação em relação ao que se é.
As forças naturais (ou seriam antinaturais?) que nos empurram rumo à vontade de enriquecer e "melhorar de vida" são aquelas mesmas que ameaçam nossa saúde mental e o equilíbrio ecológico do planeta.
Existe solução para esse aparente paradoxo?
John Gray não tem a pretensão de propor soluções definitivas, mas podemos seguir as marcas de pegadas que ele deixa pelas 126 páginas do livro: "esqueça a busca da felicidade e, com alguma sorte, talvez você a encontre".
Se você não for capaz de viver igual a um gato, ao menos tente manter um alto grau de distração em suas tarefas cotidianas, correndo atrás de dinheiro ou de poder, lendo as notícias do jornal ou apaixonando-se como um adolescente.
Rosnados e lambidas eliminarão qualquer sentimento de vazio.