Todo processo de impeachment traz reflexos dolorosos, seja para a democracia, para instituições e para a economia.
O impacto na economia é inevitável. Se o impeachment acontecer: é necessário recordar que os agentes econômicos têm a necessidade de estimar os acontecimentos e os investidores buscam ter previsões sobre o amanhã, visto que toda estratégia de investimentos tem o futuro como variável determinante nas tomadas de decisões. É quase que impensável calcular antecipadamente um processo de impeachment, logo é um evento extraordinário, pra não dizer o caos.
No curto prazo, os agentes perdem a capacidade de “prever” os cenários futuros e a economia passa a ser vista com incerteza. Como consequência, os investidores buscarão ativos que transmitam estabilidade, como o dólar, as rendas fixas (LCI, LCA, CDB, RDB entre outras) de longo prazo e ativos protegidos da inflação (IPCA+, IGPM+). No curto prazo, é esperado um fluxo de investidores que substituirão suas exposições em renda variável para renda fixa. A bolsa de valores (Ibovespa), o câmbio DOLFUT e as curvas de juros DI podem sofrer com muita volatilidade nos dias subsequentes, reflexos diretos pela busca por “segurança”.
Contudo, poderá ser um reflexo de curto prazo e deverá passar tão breve como chegou.
Quem souber aproveitar o timming poderá encontrar nestes momentos janelas de oportunidades, vide meados de 2016. A tendência é que o mercado retorne em sua guinada ascendente a médio prazo, dependendo de fatores que que passam pela equipe econômica, da agenda futura, da gestão da inflação e da retomada do emprego, principalmente.
Em relação ao não impeachment, partimos do mesmo contexto: a imprevisibilidade. O governo, segundo pesquisas, está em seu ápice de rejeição e desgaste, tanto com a sociedade civil, como para com o mercado.
Não ter o impeachment é como um paciente doente que não passará por uma cirurgia.
A probabilidade é baixa de existir um movimento abrupto dos fluxos de capitais e a expectativa é não ter volatilidade discrepante no curto prazo. É possível que a exposição de renda variável continue em crescimento, o dólar flutue em níveis amistosos e os juros sigam o plano desenhado pelo BACEN.
O cenário poderá ser menos tortuoso a curto prazo e mais duro a médio prazo, pois com a condução política desgastada e a credibilidade da agenda econômica em cheque o país poderá ter mais obstáculos atravancando o crescimento até outubro de 2022, quando ocorrerão as próximas eleições. Não levei em consideração nesta análise o teto de gastos, a variante delta e nem a crise hídrica, pois são assuntos para outras reflexões.
Economista e Planejador Financeiro da Plátano Investimentos -XP