Chegamos ao final de julho com sinais animadores de inflação no curtíssimo prazo. Dois cortes consecutivos de preços de gasolina da Petrobras (BVMF:PETR4), junto à redução de ICMS, PIS e COFINS, trazem altíssima probabilidade de observarmos leituras negativas do IPCA tanto em julho como em agosto. Por si só, esses fatores deveriam trazer alívio para a autoridade monetária, pois teoricamente reduziriam o repasse da inflação no ano que vem. No entanto, outros fatores pesam sobre os determinantes da inflação no médio prazo, o que sugere que a reunião do Copom do começo de agosto (que termina no dia 03/08) trará a principal novidade quanto à possibilidade de novas altas para além dos 50 pontos base já previstos (i.e., levando a Selic para 13,75%).
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Nossas projeções de inflação apontam alta probabilidade de a inflação encerrar 2022 em 7,5%, enquanto o IPCA de 2023 deverá ficar em 5,5%. Isso ocorre mesmo para o caso de a autoridade monetária sustentar os juros em 13,75% durante todo o ano que vem.
Temos de considerar alguns fatores que contribuem para essa lenta desaceleração da inflação. Primeiramente, temos de lembrar que o impacto da política monetária sobre a inflação é gradual. De acordo com algumas estimativas, estamos falando de uma defasagem entre três e seis trimestres. Ou seja, o movimento de juros agora na virada do semestre impactará a inflação somente no final do segundo trimestre do ano que vem.
Outro fator relevante a ser ponderado é que a inflação está desacelerando agora entre itens administrados. Ou seja, são preços que não reagem à política monetária. Ao mesmo tempo, temos projeção de que vários desses itens, com preços represados, precisarão passar por reajustes no ano que vem, o que contribuirá para uma inflação mais pressionada em 2023.
Ademais, a economia apresenta um desempenho bastante forte até agora no ano, o que sugere que a inflação de serviços (mais cíclica) deverá acelerar nos próximos meses. Essa abertura de inflação é justamente a mais inercial também, o que leva a crer que haverá uma memória grande dela no ano que vem, mesmo que a atividade desacelere.
Finalmente, dúvidas em relação à trajetória das contas públicas e estímulos governamentais permanecem perenes no noticiário e em nosso cenário prospectivo. Por mais que o resultado do governo esteja surpreendendo muito positivamente este ano, há de se levar em consideração que grande parte destes ganhos tem característica mais cíclica do que estrutural. Assim, aumenta a probabilidade de que, na medida em que o ciclo global desacelere, sejamos novamente confrontados com a realidade de um setor público que não eleva de forma estrutural sua poupança.
Apesar desses fatores, acreditamos que o Banco Central opte por encerrar o ciclo de altas da Selic em 13,75%, ainda que isso não seja comunicado explicitamente nesta reunião de agosto. A perspectiva de alívio no preço de commodities globais, um ciclo de juros menor nos EUA, a melhor percepção das contas públicas e a perspectiva de que a inflação de 2024 possa ficar abaixo da meta devem contribuir para esse movimento do Copom.