A pergunta do título pode parecer um tanto pretensiosa, mas este tem sido um questionamento frequente uma vez que o cenário mudou com o início do conflito entre Rússia e Ucrânia. Com o arrefecimento da pandemia, esperava-se uma pressão inflacionária menor em todo o mundo. Afinal de contas, imaginava-se que, em breve, as cadeias produtivas voltassem ao normal.
Contudo, a guerra não permitiu que este fosse o caminho natural das economias. Com as restrições impostas ao Petróleo russo, a oferta da commodity no mundo se tornou mais escassa. Não é à toa que o preço do barril de Brent aumentou mais de 60% e hoje está no patamar de US$120, provocando, junto com o gás natural, uma crise energética.
Diante disso, fica a dúvida: enquanto houver guerra, as elevações nas taxas de juros, realizadas pelos Bancos Centrais, realmente vão dar conta de conter a alta inflacionária?
Para responder este questionamento, conversei com alguns economistas para entender essa questão de um ponto de vista um pouco mais técnico.
A resposta passa pela compreensão dos efeitos secundários dos choques e não dos primários. Ou seja, se uma commodity subir, vai fazer pouca diferença aumentar os juros para conter este movimento.
Portanto, o foco dos Bancos Centrais está sempre nos efeitos secundários. De forma resumida, é quando os efeitos das constantes altas começam a entrar na economia de um modo geral. Para dar um exemplo, é quando o preço do Diesel aumenta e este custo é repassado para o frete.
Então, o papel da autoridade monetária é tentar diminuir um pouco essa reação. Em economias desindexadas, como nos EUA e Europa, a tendência é que os choques inflacionários se dissipem com a elevação dos juros.
No Brasil, no entanto, isso é um pouco mais complicado uma vez que a nossa atividade tem algumas indexações. Portanto, levaremos um pouco mais de tempo para se livrar desses efeitos do que nossos pares mais desenvolvidos.
Por fim, respondendo ao questionamento do artigo, podemos dizer que sim, os Bancos Centrais têm poder sobre a inflação mesmo diante do cenário de guerra. Contudo, eles nunca vão focar no índice cheio, mas, sim, nos efeitos secundários na economia, observando os núcleos.
Aqui vale uma ressalva importante. Estamos em um período muito confuso, com preços de commodities em alta, mas com uma pressão também nos preços dos bens que deriva de problemas com as cadeias produtivas. Ou seja, há uma somatória de choques que devem permear os resultados dos indicadores citados acima e influenciar a tomada de decisão das autoridades monetárias de todo o mundo.
O que vai acontecer daqui para frente? Não dá para saber. Enquanto isso, a tendência, sem dúvida, é de elevação de juros. Porém, os efeitos desses movimentos só devem ser percebidos de forma mais latente em meados de 2023. É esperar para ver.
Do lado do investidor, a dica é buscar títulos de renda fixa indexados aos juros e inflação, conforme eu já trouxe aqui em outros artigos. Bons negócios!