Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com
- Custódia continua sendo uma questão relevante
- Fiasco da Colonial Pipeline ressalta problemas com segurança cibernética
- Carbono: bitcoin é vítima de “pegadinha" de Musk
- Dinheiro fácil pode ser perigoso
- Moedas digitais estão mudando o mundo, mas levará tempo
Estou no mercado há um pouco mais de quatro décadas e nunca vi algo parecido com a ascensão das criptomoedas. Eu conheci essa nova classe de ativos em 2010. Na era da inovação tecnológica, onze anos podem parecer séculos.
Quando ouvi falar sobre o bitcoin pela primeira vez, eu o via como a próxima geração de videogames. Embora gostasse muito de jogos como Pacman e Asteroids no Atari durante a faculdade, acabei largando-os quando comecei a trabalhar em Wall Street e formei uma família. A mineração de bitcoin soava com um jogo de arcade, em que horas de esforço geravam prêmios sem qualquer valor.
Evidentemente, os prêmios gerados pelo bitcoin estão longe dessa realidade. Um investimento de US$ 10 no token digital em 2010, a cinco centavos, podia comprar 200 moedas equivalentes a US$ 13 milhões na recente máxima, a mais de US$ 65.500.
Com o crescimento do mercado nos últimos dez anos, comecei a valorizar o poder da tecnologia blockchain. Quando o bitcoin alcançou US$100, acreditava que era uma bolha. A US$1000, pensei que estava fora de controle. A US$10.000, percebi que tinha perdido o bonde ao não pensar “fora da caixa".
Como admirador e adepto da filosofia libertária, o bitcoin e as criptos eram a representação dessa ideologia.
Ao perceber que as moedas digitais chegaram para ficar e que a capitalização de mercado da classe deve continuar crescendo, três questões continuam gerando obstáculos. Custódia, segurança cibernética e emissões de carbono são fatores que podem segurar o mercado até que ele consiga atingir todo o seu potencial.
O bitcoin recuou e perdeu mais da metade do seu valor de 14 de abril a 19 de maio. É um sinal de que a criptomoeda líder enfrenta diversos obstáculos à medida que vai ganhando popularidade.
Custódia continua sendo uma questão relevante
Apesar de a geração mais nova ver poucos problemas com as carteiras digitais, uma grande parcela do público investidor tem sérias preocupações em deixar seu patrimônio no ciberespaço, e não em seu bolso.
O armazenamento de criptomoedas via plataformas como Coinbase (NASDAQ:COIN), Square (NYSE:SQ) ou PayPal (NASDAQ:PYPL) (SA:PYPL34) fornece alguma confiança. Mesmo assim, os ativos esotéricos são muito diferentes de ações, títulos, commodities ou moedas tradicionais, que oferecem a segurança de que não vão desaparecer.
A custódia é um dos principais fatores que a classe de ativos precisa solucionar nos próximos anos. A confiança é essencial para qualquer investimento ou mercado. Histórias terríveis de perdas de fortunas em criptomoedas por causa de senhas esquecidas ou perdidas não fazem bem ao criptomercado.
Quando as exchanges, plataformas de negociação e instituições financeiras resolverem essa questão da custódia, teremos um salto gigante no avanço das criptomoedas.
Fiasco da Colonial Pipeline ressalta problemas com segurança cibernética
Em maio de 2021, um ataque cibernético à Colonial Pipeline, empresa que transporta petróleo e produtos derivados até a costa oeste dos EUA, prejudicou a distribuição de gasolina e outros combustíveis. As pessoas começaram a armazenar gasolina como fizeram com papel higiênico e outros itens no auge da pandemia.
Ao que tudo indica, os donos dos oleodutos caíram em um golpe e tiveram que pagar um resgate aos hackers. Se os EUA, país mais poderoso do mundo, não conseguem garantir a segurança cibernética de um oleoduto tão importante, não estão preparados para lidar com ataques virtuais a uma classe de ativos.
O evento com o oleoduto deixa um gosto amargo na boca dos investidores, já que ressalta as fragilidades de carteiras digitais e até mesmo exchanges de criptomoedas. Hackers da Rússia, China, Coreia do Norte e outras regiões estão atacando de modo agressivo os sistemas.
A Colonial Pipeline é estratégica para a segurança nacional dos EUA. Em 2014, a maior exchange de criptomoedas do mundo, a Mount Gox, de Tóquio, sofreu um ataque em que foram roubados US$ 460 milhões em bitcoins, levando a empresa à falência. Em 2015, o bitcoin atingiu a máxima de quase US$ 1000 por token. Se o ataque tivesse ocorrido em 14 de abril ao nível de US$ 65.500, o prejuízo teria sido de US$ 30 bilhões.
Os problemas de segurança cibernética são outro fator que a classe precisa solucionar para ganhar popularidade.
Carbono: bitcoin é vítima de “pegadinha" de Musk
É necessário usar muita energia para minerar o bitcoin e outras criptomoedas. No início deste ano, a Tesla (NASDAQ:TSLA) (SA:TSLA34) anunciou que havia adquirido US$ 1,5 bilhão em bitcoins e aceitaria a criptomoeda como forma de pagamento por seus veículos elétricos, o que fez o preço do token atingir a estratosfera.
A Tesla é uma empresa que vem crescendo com a revolução da energia verde. Ao perceber a pegada de carbono do bitcoin, principalmente de mineradores chineses que consomem grandes volumes de energia termelétrica, a companhia simplesmente anunciou que deixaria de aceitar a cripto. A iniciativa provocou a correção da moeda digital.
Fonte: CQG
O gráfico mostra que o bitcoin caiu de US$59.900 em 10 de maio até a mínima de US$30.205 no dia 17 de maio após a decisão da Tesla. Bitcoin foi vítima de uma “pegadinha” de Elon Musk e sua empresa. O mercado precisará agora resolver a questão do carbono para continuar crescendo.
Dinheiro fácil pode ser perigoso
O dinheiro fácil nos mercados pode dar a falsa impressão de segurança aos novatos. Pequenos investimentos feitos ao longo de uma década viraram grandes fortunas, criando uma força magnética.
O que contribui ainda mais para o frenesi especulativo é o surgimento de milhares de outras criptomoedas. Cerca de 10.000 criptos circulam no ciberespaço. Embora muitas acabem acumulando pó nas carteiras digitais, a recompensa por investir no token “certo” continuará atraindo fluxos de capital para o setor.
O melhor conselho para que investe em criptos é usar um dinheiro que possa perder. Quando falamos em trading, as moedas digitais mais líquidas, com capitalizações de mercado superiores a US$ 1 bilhão e spreads apertados de compra e venda, são as mais adequadas para seguir a tendência e lucrar. Até 19 de maio, apenas 88 das 9.945 moedas, ou menos de 0,9% da classe de ativos, tinham pelo menos US$ 1 bilhão de capitalização.
Muitas das atuais criptos devem sumir no abismo do ciberespaço. Tenha cuidado ao investir e prepare-se para perder cada centavo usado para adquirir esses ativos. Não deixe que as histórias de dinheiro fácil façam você perder o estado vigilante. As chances são contra os investidores individuais nas moedas digitais altamente voláteis.
Moedas digitais estão mudando o mundo, mas levará tempo
A tecnologia blockchain representa a evolução tecnológica dos mercados financeiros. O registro, a velocidade e a eficiência criados pelo blockchain têm aplicações em todos os negócios.
As moedas digitais refletem a crescente ideologia de que o controle governamental da oferta monetária é excessivo. Tsunamis de liquidez injetada por bancos centrais, além de gigantescos estímulos fiscais emitidos por governos, destroem as moedas tradicionais que derivam seu valor da fé e do crédito das nações emissoras.
A oferta de moedas digitais é limitada, ao passo que os governos podem imprimir dólares, euros, ienes, libras e outros instrumentos de câmbio internacional a seu bel prazer. As criptomoedas representam uma ameaça ao controle governamental da oferta monetária, essencial para a manutenção do poder político. Não alimente a expectativa de que os governos deixarão que as criptos assumam o lugar das suas moedas tão facilmente.
A China já está trabalhando em sua versão de um iuane digital. Os EUA e a Europa devem seguir seu exemplo com o dólar e o euro digital, mas o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou em abril que precisam “fazer da forma certa”.
O fato é que a revolução das moedas digitais chegou, mas levará tempo para se consolidar.
Custódia, segurança cibernética e carbono são três problemas para as criptos. Da mesma forma, o controle da oferta monetária é uma questão importante para legisladores e órgãos fiscalizadores. As preocupações continuarão crescendo juntamente com a capitalização de mercado geral da classe.