Pensamento imutável parece ser algo inerente ao ser humano.
As pessoas parecem ter opiniões tão fortes de um lado ou de outro sobre cada assunto, que simplesmente não conseguem ver como a opinião oposta à deles é plausível. Seja na política ou nos investimentos.
Não conseguem enxergar como um ser humano racional poderia pensar de maneira diferente da deles.
Obviamente, um local onde isso acontece com maior frequência é na política. Mais e mais opiniões políticas são gravadas em pedra e não estão sujeitas a negociação, ou mesmo sujeitas a fatos que as contradizem.
Você está à direita ou à esquerda e o lado oposto é seu inimigo.
A crença de que existe uma resposta correta absoluta ou uma resposta errada absoluta é repleta de problemas, uma vez que a maioria dos assuntos não é binária, e sim repleta de variáveis e de questões objetivas e subjetivas.
No entanto, mesmo as pessoas que enxergam isso, não aplicam essa ideia na vida, e acabam desconsiderando as opiniões dos outros.
Ao agir assim, você se torna inimigo da aprendizagem. E isso leva a uma má tomada de decisão.
Todos estamos sujeitos a isso. Gostamos de apontar nossos dedos para os outros, mas geralmente eles seriam melhor apontados no espelho.
É verdade, contra fatos, não há argumentos. Contudo, muitas das questões com que nos deparamos na vida são tão complexas que não podem ser resumidas em uma certeza.
Na realidade, aprendemos muito mais com as pessoas que discordam da gente do que com aquelas que compartilham da mesma crença, pois ao conviver apenas com indivíduos que acreditam nas mesmas coisas, deixamos de nos expor às evidências que contrariam nossas premissas, e nos cercamos de informações que reforçam o que já acreditamos.
Como diria o superinvestidor Charlie Munger:
“A mente humana é semelhante ao óvulo humano, e o óvulo tem um mecanismo de bloqueio. Uma vez “fecundada” por uma ideia, a mente se fecha, impedindo que outra entre”.
Mudando o foco para o mercado acionário, para que haja sucesso em investimentos de longo prazo, o investidor deve adotar uma mentalidade de busca constante de argumentos que derrubem suas crenças.
Somente assim o indivíduo ficará mais próximo de tomadas de decisão completamente imparciais, sem ser influenciado por vieses cognitivos, e focado na racionalidade.
Ser (SA:SEER3) racional é ter consciência de que ninguém sabe o futuro. Por isso, o investidor de valor aloca seu capital em empresas que são “apostas desproporcionais”.
Uma empresa é uma aposta desproporcional quando o preço das ações está fora de sincronia com as perspectivas econômicas de longo prazo da empresa.
Essa dessincronia pode ser para cima, o que significa que o preço das ações supervaloriza significativamente as perspectivas de longo prazo do negócio, ou pode ser para baixo, quando o preço das ações subestima em muito as perspectivas de longo prazo da empresa.
Ao investir em empresas subprecificadas, o investidor tem as probabilidades a seu favor, é uma “aposta desproporcional” onde seus ganhos potenciais são extremamente maiores do que as possíveis perdas.
O mundo é cheio de incertezas e está em constante mudança, por isso é necessário sempre questionar se as premissas adotadas inicialmente se mantêm constantes. Mesmo assim, perdas existirão.
Um campeão mundial de poker não vence todas as mãos. Ele faz uso de apostas desproporcionais, apostando nas rodadas em que ele julga ter mais chance de vencer. No longo prazo, ele se sagra campeão.
Uma carteira de ações diligentemente selecionadas irá trazer sucesso no longo prazo àquele que sabe o que está fazendo. Todo grande investidor vive perdas, elas fazem parte do jogo. O intuito é minimiza-las ao máximo.
Como diria o lendário investidor Peter Lynch:
“Pessoas bem-sucedidas no mercado de ações também aceitam perdas periódicas, revezes e ocorrências inesperadas. Quedas calamitosas não assustam a ponto de desistirem”.