Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com
- Barril de WTI supera máxima de outubro de 2021
- Petróleo Brent vence nível de resistência técnica de longo prazo
- Política energética dos EUA está impulsionando alta do petróleo
- Opep+ tem apenas uma missão: aumentar os preços
- Geopolítica pode provocar uma disparada dos preços em 2022
Uma porcentagem muito pequena dos carros rodando nas estradas americanas é elétrica e, ainda que seu número venha crescendo a cada ano, os veículos movidos à gasolina ainda dominam o mercado. Os EUA são o maior país consumidor de petróleo do mundo em termos per capita. No entanto, a China e a Índia abrigam mais de um terço da população mundial e são grandes importadores do produto.
Enquanto o mundo enfrenta a mudança climática e incentiva a maior produção e consumo de combustíveis alternativos e renováveis, a demanda por petróleo e seus derivados não para de subir. A produção norte-americana é menor neste início de 2022 do que na máxima de março de 2020. De acordo com a EIA, agência americana de informações energéticas, a produção no país recuou em relação ao recorde de 13,1 milhões de barris por dia em março de 2020. A política energética do governo Biden foi responsável por um declínio de 11,5% na produção petrolífera dos EUA, sem relação com a atual dinâmica de oferta e demanda global.
A menor produção petrolífera nos EUA está pressionando os preços para cima. Na semana passada, os barris de petróleo Brent e WTI atingiram novas máximas plurianuais, e é uma questão de tempo para que sua cotação ultrapasse a marca de US$100, maior nível desde 2014.
Barril de WTI supera máxima de outubro de 2021
O petróleo futuro negociado na Nymex atingiu seu preço mais alto desde 2014 no fim de outubro de 2021, a US$85,41, a partir do qual perdeu força. Uma forte correção fez com que seu preço atingisse a mínima de US$62,43 por barril no início de dezembro, uma queda de 26,9%.
Fonte: CQG
O gráfico mensal destaca a correção que quase atingiu a mínima de agosto de 2021 de US$61,74, nível crítico de suporte técnico.
Em seguida, o petróleo futuro voltou a subir forte. Na semana passada, seu preço superou a máxima do fim de outubro, atingindo US$87,91 por barril, acima do nível de US$87 registrado em 26 de janeiro. Embora o contrato futuro na Nymex tenha registrado uma máxima mais alta, o movimento mais significativo na semana passada ocorreu no Brent.
Petróleo Brent vence nível de resistência técnica de longo prazo
Quando o WTI futuro atingiu seu preço mais alto desde 2014 em outubro, o Brent futuro continuou abaixo do nível crítico de resistência técnica referente ao pico de 2018. Na semana passada, o Brent seguiu os passos da outra referência global do petróleo.
Fonte: Barchart
O gráfico ilustra o nível de resistência técnica na máxima de outubro de 2018 a US$86,74. O Brent futuro alcançou sua máxima mais recente de US$90,02 por barril, abrindo espaço para um teste do nível de US$100. A próxima resistência técnica está acima da máxima recente, a US$115,71 por barril, referente ao pico de junho de 2014.
O WTI e o Brent futuro formaram padrões altistas de preço, cujos alvos estão em patamares de três dígitos.
Política energética nos EUA está impulsionando alta do petróleo
O governo Biden defende a agenda de enfrentamento à mudança climática. Em seu primeiro dia de mandato, o presidente Joseph Biden cancelou o projeto de oleoduto Keystone XL, que transportaria petróleo dos campos de areia betuminosa em Alberta, Canadá, para Steele City, Nebraska, com ramificações até o ponto de entrega da Nymex, em Cushing, Oklahoma.
Em maio de 2021, sua administração proibiu as atividades de perfuração e fraturamento de petróleo e gás natural em território federal no Alasca.
A iniciativa de energia verde favorece fontes alternativas e renováveis e inibe a produção de combustível fóssil. No entanto, a grande maioria dos carros nos EUA são movidos à gasolina, e a China e a Índia continuam demandando volumes cada vez maiores de hidrocarbonetos para geração de energia.
Foram necessárias décadas para que os EUA superassem a produção petrolífera da Arábia Saudita e da Rússia, tornando-se independentes em energia. Em 2021, a política de energia dos EUA entregou o poder de precificação de volta para as mãos do cartel e da sua aliada Rússia. O governo americano pediu duas vezes que a Opep+ aumentasse sua produção, na medida em que os preços da gasolina não param de subir no país. Por duas vezes a Opep+ recusou-se a fazê-lo, levando os EUA a liberarem 50 milhões de barris de petróleo da sua reserva estratégica. Cinquenta milhões de barris é suficiente para apenas três dias de consumo no país. Embora o petróleo tenha recuado após essa liberação, os preços voltaram a subir e registrar nova máxima.
A política energética americana só contribuiu para as pressões inflacionárias, ao promover a alta dos preços da commodity de energia desde o início de 2021.
Opep+ tem apenas uma missão: aumentar os preços
Em 2016, a Rússia tornou-se muito mais interessada e envolvida na estratégia da Opep, o que ampliou a esfera de poder do presidente russo Vladimir Putin no Oriente Médio. Desde então, o cartel não faz qualquer movimento de política produtiva sem a cooperação de Moscou.
A missão da Opep+ é alcançar o maior preço possível para o petróleo, sem desestabilizar a equação de oferta e demanda. A menor produção nos EUA diminuiu a oferta global, no momento em que a demanda avançava substancialmente. Em março de 2020, a produção diária de petróleo nos EUA atingiu o recorde de 13,1 milhões de barris, ainda no governo passado. De acordo com a EIA, a produção americana era de 11,6 mbpd na semana encerrada em 21 de janeiro de 2022, ou seja, estava 11,5% abaixo do pico recorde.
Depois de anos sofrendo com o peso cada vez maior do shale oil americano, os preços mundiais do petróleo voltaram a subir na esteira da nova política energética dos EUA. Não há dúvidas de que o cartel internacional prefere vender um barril a US$100 do que dois a US$50.
Geopolítica pode provocar uma disparada dos preços em 2022
A política energética dos EUA, a alta da inflação, a robusta demanda mundial e o desejo da Opep+ de elevar os preços exercem pressão altista sobre o petróleo, que deve atingir a cotação de três dígitos em 2022. O petróleo historicamente sobe de escada e desce de elevador durante correções, como testemunhamos no fim de outubro até o início de dezembro.
Enquanto isso, o cenário geopolítico sugere que é cada vez mais possível que o petróleo pegue o elevador para subir em 2022.
As tensões entre EUA, Europa e Rússia em torno da questão ucraniana aumentam a pressão altista diante da maior possibilidade de hostilidades e até mesmo de uma guerra na Europa desde o fim da Guerra Fria. A incursão russa pode provocar uma disparada nos preços do petróleo.
A cada dia, o Irã se aproxima do desenvolvimento de uma arma nuclear, o que eleva o potencial de hostilidades no Oriente Médio. O Estreito de Ormuz é um ponto logístico crítico para a região responsável por mais da metade das reservas petrolíferas do mundo. Irã e Rússia são aliados próximos, ao passo que Irã e Arábia Saudita são inimigos mortais. As tensões no Oriente Médio representam outro front para EUA e Rússia, com a China favorecendo um resultado que mantenha o petróleo fluindo para o país mais populoso do planeta.
A temperatura geopolítica aumentou, e os preços do petróleo devem responder a esses eventos nas próximas semanas e meses. A situação geopolítica continua favorecendo a alta da commodity energética.
Minha expectativa é que o petróleo supere o nível de US$100 em 2022. Além disso, se o cenário geopolítico continuar quente, é possível que a máxima histórica de 2008 de US$147,27 seja desafiada no WTI e de US$147,50 no Brent. O aumento dos preços do petróleo só tende a turbinar as pressões inflacionárias globais.