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Opep+ para Arábia Saudita: “enquanto vocês cortam, nós continuamos produzindo”

Publicado 05.06.2023, 15:02
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Com objetivos ostensivamente midiáticos, o ministro do petróleo da Arábia Saudita, o príncipe Abdulaziz bin Salman, declarou que o resto da aliança Opep+ manterá os cortes de petróleo prometidos até 2024, ao mesmo tempo em que o país árabe reduzirá ainda mais suas extrações diárias no mês que vem. Radiante, ele complementou:

"Realmente é um grande dia para nós, porque a qualidade do acordo é sem precedentes, assim como a qualidade da cooperação."

Os delegados da Opep+ ao seu redor também sorriam, provavelmente porque sabiam que continuariam produzindo, enquanto os sauditas se comprometiam a intensificar os cortes.

Os jornalistas na sala não paravam de anotar em seus bloquinhos, com várias perguntas óbvias em mente, mas provavelmente com receio de fazê-las ao príncipe, que despreza repórteres dissidentes tanto quanto traders que operam vendidos no petróleo futuro. E a pergunta que rondava suas cabeças era:

“Sua excelência, esse acordo não seria prejudicial para os sauditas?”

O verdadeiro resultado da reunião da Opep+, recém-concluída e feita presencialmente pela segunda vez desde a pandemia, foi que não houve um acordo sem precedentes, pelo menos não nos termos apresentados por Abdulaziz.

Isso ocorre porque, nos três anos desde o surto de Covid que levou os preços do barril à cotação de US$ 40 negativos, a demanda pelo produto está quase de volta aos níveis pré-pandemia, embora com algumas ressalvas. Dentre elas, podemos destacar:

  • Demanda de petróleo mais lenta do que o esperado pelo principal importador, a China;

  • Temor de uma recessão global;

  • Inflação nos Estados Unidos que se recusa a diminuir na velocidade com que as autoridades desejam, apesar de mais de um ano de aumentos agressivos de juros pelo Federal Reserve.

Entra em cena a OPEP+ e seus cortes na produção.

A receita com petróleo é o sustento econômico dos países membros do cartel, uma organização composta por 13 países liderados pela Arábia Saudita, cujo principal objetivo é estabelecer o preço da commodity.

Outros dez estados produtores de petróleo não participantes do grupo, inclusive a Rússia, vêm mantendo sua política de produção em linha com a do cartel em prol dos preços. A aliança de 23 nações é conhecida coletivamente como Opep+.

Para os principais membros da Opep, como Kuwait e Iraque, mais de 90% de toda a sua receita vem do petróleo.  Nos Emirados Árabes Unidos, o petróleo representa 13% das exportações e 30% do PIB, e na Argélia, representa 25% do PIB.

Na Arábia Saudita, o maior membro da Opep, o petróleo representa 70% do valor total das exportações e 53% da receita do governo. E não para por aí. Reportagens na mídia dizem que a Arábia Saudita precisa de US$ 500 bilhões a US$ 8,5 trilhões (os números oscilam constantemente) para conseguir diversificar sua economia e reduzir sua dependência ao petróleo.

Dessa forma, é compreensível por que a Opep, especialmente a Arábia Saudita, que precisa de um preço do barril acima de US$ 80 para concretizar seus planos ambiciosos, estaria disposta a fazer qualquer coisa para obter o preço desejado.

WTI - 30 minutos

A resposta da Opep aos baixos preços do petróleo sempre foi reduzir a produção, privando o mercado de milhões de barris de petróleo por dia e criando uma escassez artificial que acaba impulsionando os preços.

No entanto, em uma economia global com as ressalvas mencionadas anteriormente, os vendedores a descoberto, ou seja, aqueles que apostam em preços mais baixos do petróleo, têm tido mais sucesso do que a Opep - apesar dos estoques mundiais de petróleo estarem em um dos níveis mais baixos dos últimos anos.

Isso tem irritado Abdulaziz a ponto de ele repetidamente advertir desde que assumiu o cargo em 2019 que fará os especuladores que apostam contra o petróleo "sentirem dor" - sua expressão favorita para causar prejuízos a eles.

Em várias ocasiões nos últimos quatro anos, o príncipe saudita se gabou da sua capacidade de causar esse "sofrimento" - geralmente após anunciar cortes significativos e inesperados na produção. No entanto, muitas vezes a dor acaba retornando para a própria Opep, já que os preços caem mesmo com os cortes.

Foi nesse contexto que ocorreu a mais recente reunião da Opep. Cerca de duas semanas antes do evento, o ministro de energia saudita alertou novamente os vendedores a descoberto a "ficarem de olhos abertos", gerando rumores de que planejava mais um corte na produção.

No entanto, a verdadeira surpresa veio do seu homólogo russo, Alexander Novak, que afirmou não acreditar que um corte fosse necessário. Isso plantou as sementes da dissidência e, após a publicação dos comentários de Novak, o ministro russo acusou rapidamente a Bloomberg de citá-lo erroneamente, sem refutar relatos semelhantes de outros veículos de notícias, incluindo um jornal russo.

De forma bastante peculiar, os jornalistas credenciados pela Bloomberg, Reuters e Wall Street foram impedidos de cobrir a reunião da Opep nos dias 4 e 5 de junho, sem que nenhum motivo fosse apresentado. Pesquisas online realizadas pelo Investing.com mostraram que, antes da reunião, os três veículos publicaram reportagens sobre petróleo ou a Opep que desafiavam as narrativas positivas propagadas por Abdulaziz.

Quando a reunião começou, as coisas não poderiam ter dado mais errado.

As tensões entre a Arábia Saudita e a Rússia eram reais, e Moscou se recusou a fazer cortes significativos além dos 500.000 barris diários que afirmava estar cortando - algo que ninguém na Opep+ realmente acreditava, mas era necessário fingir para mostrar uma imagem de solidariedade dentro da aliança. Todos sabiam, no entanto, que a Rússia venderia cada gota de petróleo que pudesse, a qualquer preço, dentro do limite de US$ 60 por barril estabelecido pelo G7, a fim de financiar sua guerra contra a Ucrânia. Basta pedir provas disso aos compradores indianos e chineses.

Outra grande dor de cabeça para Abdulaziz veio dos ministros de energia dos estados africanos. Eles se recusaram inicialmente a reduzir as cotas de produção que lhe foram atribuídas antes da pandemia, apesar dos seus problemas de atingir as metas de produção, em razão dos baixos investimentos realizados em seus campos petrolíferos.

Sua relutância era compreensível: se eles abrissem mão das suas cotas maiores, poderia ocorrer de não conseguirem voltar a produzir mais sob os termos de Abdulaziz, que estava tentando aumentar a cota do maior aliado dos sauditas, os Emirados Árabes Unidos.

Abdulaziz tentou levar alguns ministros africanos até seu gabinete, a fim de tentar fechar um acordo. Não se sabe ao certo quantos cederam voluntariamente à sua abordagem persuasiva (ou pressionados ou intimidados, se preferir). No final, Angola, que estava em impasse com os sauditas desde o início, cedeu, permitindo que Abdulaziz declarasse vitória na coletiva de imprensa após a reunião.

No entanto, a verdadeira vitória de Abdulaziz era questionável.

Ele afirmou que, além dos cortes diários existentes da Opep+ de 3,66 milhões de barris, mais 1,4 milhão seria reduzido. No entanto, segundo a Reuters:

“Muitas dessas reduções não seriam reais, pois o grupo ajustou as metas de produção da Rússia, Nigéria e Angola para alinhá-las aos níveis atuais de produção.”

E a Reuters prosseguiu:

“Em contraste, os Emirados Árabes Unidos receberam permissão para aumentar suas metas em cerca de 0,2 a 3,22 milhões de barris por dia.

O Wall Street Journal confirmou relatos anteriores do Investing.com de que Abdulaziz geralmente decide as metas de produção da Opep+ por conta própria, sem consultar outros membros do grupo.  Isso reforça as preocupações levantadas anteriormente sobre a falta de consulta e transparência nas decisões da Opep+.

A reação do mercado ao anúncio de Abdulaziz foi interessante.

Os preços do petróleo referencial nos Estados Unidos (WTI) e no Reino Unido (Brent) subiram mais de US$ 2 por barril antes da abertura das negociações em Nova York, criando um "gap de alta" durante o pregão eletrônico na Ásia.

No entanto, ao longo do dia, os ganhos diminuíram para cerca de 50 centavos por barril antes de se estabilizarem acima de US$ 1. Segundo Sunil Kumar Dixit, analista técnico chefe do site skcharting.com:

“O WTI abriu com um gap de fuga a US$ 72, levando os preços a US$ 74,30. No entanto, o gap foi em grande parte preenchido na correção subsequente dos preços”.

“Agora, o suporte imediato está a US$ 71,70, abaixo do qual podemos ver uma consolidação na região de US$ 71,40 e 70,50. Se o movimento voltar a subir, pode capturar US$ 74,30 no curto prazo, e somente se conseguir sustentar esse momentum, pode atingir o próximo nível altista de US$ 75,60.

 WTI diário


Tentando dar o máximo de publicidade às suas palavras, a Arábia Saudita prometeu reduzir um milhão de barris diários em julho e repetir o mesmo em agosto, se necessário. Abdulaziz comparou essa promessa a um presente saudita para aqueles que desejam preços mais altos para o petróleo.

Com a demanda petrolífera prestes a atingir o pico típico do verão, a expectativa é que os preços subam a partir de agora. No entanto, como aconteceu no passado, mesmo os planos mais cuidadosamente elaborados podem falhar devido a razões imprevistas. Além disso, a Opep+ enfrenta oito meses de insucesso nos preços devido a dois grandes cortes na produção.

John Kilduff, sócio do hedge fund de energia Again Capital, de Nova York, afirmou:

"A única coisa concreta que podemos observar é a promessa da Arábia Saudita de reduzir sua produção para 9 milhões de barris diários em julho, após todos os cortes. Isso representa uma produção 3 milhões de barris menor do que a dos Estados Unidos, que é de 12 milhões de barris.  Caso os sauditas não consigam elevar os preços tanto quanto desejam, reduzirão a produção para 8 milhões em seguida, ficando 4 milhões de barris abaixo da produção dos EUA. Por sua vez, os russos continuarão produzindo entre 9 e 10 milhões de barris. Portanto, se alguém está perdendo participação de mercado aqui, são os sauditas."

"A realidade dessa situação é que os demais membros da Opep+ estão dizendo aos sauditas: 'Vocês continuem cortando, nós continuaremos produzindo'. Quanto ao presente saudita, a resposta seria: Guarde-o para si, Excelência'".

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Aviso: O conteúdo deste artigo é puramente educativo e não representa qualquer recomendação de compra ou venda de qualquer ativo tratado. O autor Barani Krishnan não possui posições nas commodities ou investimentos sobre os quais escreve. Ele geralmente utiliza uma variedade de visões além da sua para promover a diversidade da análise de qualquer mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias.

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