Olhando o Brasil e imaginando-se a China!!! A realidade não é esta!

Publicado 03.02.2014, 08:12

A força da adjetivação utilizada não reporá a crença no país e nem a perda de credibilidade que afeta a imagem do Brasil perante a comunidade internacional, compromissos verbais já não sensibilizam. O Brasil precisará fazer mais, comprometer-se mais, entregar mais, mostrar-se capaz de cumprir tudo o que a comunidade financeira desacreditou, para então colocar-se, novamente, como um país atrativo e com perspectivas favoráveis perante aos investidores nacionais e estrangeiros.

A expressão “inarredável” utilizada pelo Ministro Mantega para definir o compromisso com a meta da inflação e a redução da divida perde intensidade com uma breve visão retrospectiva de qual tem sido a dinâmica gestora do governo nestes quesitos, e, assim se transforma tão somente em mais um sinal que é visto com absoluto ceticismo pelos mercados.

Seria o caso de afirmar que o nosso breve passado nos condena e assim nos tira a possibilidade de receber crédito de confiança antes da entrega do compromisso.

A meta da inflação passou a ser o “pico de alta tolerado” e desde muito não mais o centro da meta, e o rigor com a dívida publica e politica fiscal focada na obtenção de superávit primário apurado sem vícios há muito foi relaxado com o contumaz excesso de gastos de governo sem qualidade e inexpressivos investimentos.

Há muito que reconstruir-se em termos de imagem do país e para recolocá-lo em linha de retomada de crescimento, não basta, ao juízo próprio do governo, imaginar-se melhor do que os outros emergentes e negligenciar, acreditando que a interrupção da “tempestade” por uma semana seja sinal de melhora sustentável, a ponto de gerar precipitados arroubos de otimismo. Ledo engano.

Já tivemos oportunidade de ressaltar que neste momento há prevalência do que o mercado internacional pensa a respeito do Brasil e que, naturalmente, não se alinha com a percepção do nosso governo, pelo menos no que tem sido manifestado publicamente, por isso são necessárias atitudes firmes e na direção certa por parte do governo e não ficar contestando e se defendendo e procurando se comparar nisto ou naquilo com os demais emergentes, para buscar provar que entre os que estão ruins, somos o menos ruim, etc.

Temos algumas vantagens mínimas em relação a alguns emergentes, como volume de reservas cambiais, mas temos também desvantagens como expressivo déficit em transações correntes, baixo crescimento, etc.

Não é sem razões que o mercado internacional nos reafirma no grupo dos “cinco mais frágeis”, temos vulnerabilidades.

No nosso ponto de vista a intensificação de saída de recursos ainda não ocorreu com expressividade no Brasil e deve se intensificar a partir deste mês de fevereiro, quando deverá ocorrer pressão mais acentuada sobre o preço da moeda estrangeira.

Não há como passarmos incólumes à retração da liquidez internacional devido a redução do “QE” do FED americano que provocará o refluxo de capitais para os Estados Unidos, e, nem dos efeitos catalisadores de recursos em poder dos emergentes face à recuperação da economia americana.

O governo precisa ser previdente e reagir não com soberba, pois pode receber uma fatura enorme para pagar logo adiante, mas, ainda que visto com ceticismo pelo mercado nacional e internacional, estabelecer meta de superávit primário sólido e crível, mas que não seja ousada além da capacidade e resultar depois mais uma vez não cumprida, mas que seja bem acima do que vem sendo obtido e sem práticas que o descaracterizem e da mesma forma deve ter atitude contundente frente a inflação aumentando a taxa SELIC de forma a buscar sua conversão a níveis mais baixos.

Se ao final de 2014 tiver conseguido “entregar” os comprometimentos, então, o Brasil terá dado um grande passo na linha de reconquista da credibilidade.

A Presidenta Dilma deu claras evidências em suas falas recentes que tem a percepção de que será necessária a adoção da austeridade na politica monetária e fiscal. Precisa agora implementá-la efetivamente.

No câmbio necessariamente deverá ocorrer certa tolerância com uma alta maior do que previsto na taxa cambial para a moeda americana, afinal é tempo de “ressaca” e não mais de “tsunamis”, e não convém ao país queimar reservas cambiais num momento adverso de fluxos para defender algo quase indefensável e que causaria muitos danos pela volatilidade advinda do confronto, sem consolidar o objetivo. Deverá continuar utilizando as reservas cambiais para garantir liquidez ao mercado à vista quando efetivamente ocorrer esta percepção, preferencialmente utilizando os bancos com a concessão de linhas o que permite que as mantenham intactas pelo conceito de liquidez internacional.

O dólar mais alto poderá contaminar a inflação, mas poderá também incentivar a indústria exportadora agregando-lhe maior competitividade no momento em que há necessidade de melhora do resultado da balança comercial. Naturalmente, esta não é uma via sempre recomendável, mas considerando as circunstâncias atuais seria uma forma de obter algo de bom num contexto desfavorável.

Afinal, se o governo buscar a defesa sistêmica do preço da moeda americana com “swaps cambiais” num ambiente que sugere desvalorização do real estará acumulando um custo fiscal crescente, que poderá afetar o propósito de melhora de superávit primário. A oferta deve ser bastante comedida e com atenção para eventuais focos especulativos que podem surgir contra o real.

Fevereiro tende a nos trazer turbulências no mercado cambial a partir da intensificação de saída de recursos do país.

Após os “tsunamis” e a enchente, é na reversão que teremos como perceber melhor os estragos que ficarão e será quando ganharão destaque o que não foi bem feito no período de bonança.

Serão inevitáveis repercussões no país, por isso é melhor que o governo adote medidas preventivas sólidas e criveis do que ficar contestando as “más falas” a respeito do Brasil, e assim procurar conter o negativismo e mitigar riscos de continuidade dos desgastes, inclusive junto as agências de rating minimizando os riscos de rebaixamento de nota de crédito.

Afinal, integramos os BRICS, mas somos o Brasil e não a China, não podemos errar no auto diagnóstico do país.

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