Alguns achavam que o cenário desenhado era de dólar “ladeira abaixo”, daqui a pouco “testando” o piso de R$ 4,90. Para muitos, isso era uma tendência irreversível e questão de dias.
Nós não nos incluíamos neste grupo. Ainda mantemos um “pé atrás”.
Embora esta valorização do real seja bem vinda para o combate à inflação, está muito longe de indicar uma demanda consistente por uma moeda em valorização, reflexo da melhoria bem fundamentada dos fundamentos da vida econômica brasileira, como a retomada do crescimento, a melhoria das contas públicas e da arrecadação federal e a inflação mais comportada. Por outro lado, o desemprego continua explosivo, com a taxa a 14,7% da PEA, embora a geração de empregos formais bata recordes mensais (Caged).
Ou seja, a melhor de parte destes fatores pode até ser verdade. No caso do crescimento, pela base de comparação viesada, já que comparamos com o “fundo do poço” do ano passado, assim como, claro, pelas boas políticas de transferência de renda do ministro Guedes, o mesmo sobre a inflação, para muitos, um “fenômeno transitório”.
Mas não dá para ignorar, no entanto, o ambiente de total açodamento político, marcante no nosso dia a dia há um bom tempo. Além disso, o que vem sustentando a queda do dólar frente ao real, por estes dias, é basicamente o carry trade entre o mercado americano e o brasileiro, com vários fundos e institucionais optando pelo atrativo diferencial de juros, da rentabilidade entre países. São cálculos, apenas isso.
Não acreditamos também que o dólar possa continuar nesta trajetória de queda nas próximas semanas, até porque o Fed, mantendo sua “neutralidade” na manutenção da política acomodatícia atual e firmando posição sobre a inflação como algo transitório, pode mudar com o tempo. Aqui, o debate gravita sobre o melhor timing para o início deste ciclo de aperto monetário (denominado como tapering).
Por isso, o mercado ter azedado neste dia 1º de julho, registrando perdas. O dólar ganhou fôlego ante o real e fechou em alta de 1,37%, a R$5,0447, e o Ibovespa manteve sua sequência de quedas, na contramão de Wall Street, a 125 mil pontos, se afastando da máxima de 131 mil pontos. Recuou 0,90%, a 125.666 pontos.
Sobre o ambiente político doméstico, é o pior possível neste momento. Errou muito o presidente, ao longo destes 30 meses de gestão, principalmente, no trato da pandemia. E erra a oposição, sempre na torcida do “quanto pior, melhor”.
Coincidência. O real, uma das mais brilhantes construções de “engenharia macroeconômica” do mundo, completou 27 anos por estes dias. Nesta, por razões diversas, tivemos a chance da reconstrução nacional, pelo resgate da nossa moeda. E quem sempre foi oposição? O PT e o capitão, deputado na época, Jair Bolsonaro. Isso bem nos localiza sobre como podemos nos iludir (ou ser iludidos) pelo populismo oportunista de certos personagens da vida pública brasileira. Mas até quando o país aguenta?
Estamos “muito mal na fita” e na mão destes dois atores, Lula e Bolsonaro, maiores candidatos a disputar o segundo turno da eleição polarizada de 2022.
Mas vamos lá.
Já estamos nesta batalha pelo poder para 2022 mesmo, e o “circo da CPI” chega a um nível em que o melhor a fazer é “fechar para balanço” e só reabrir depois das eleições.
Como não dá para ser assim, vamos vivendo numa sucessão de acusações de corrupção, de “ambos os lados” do espectro, e nós, brasileiros, no meio, como expectadores da TV Senado, nos espantando com o nível da política nacional. Nada mudou. Nada mudará.
Nesta quinta-feira, apareceu um cidadão, PM de Minas Gerais, Luiz Paulo Dominghetti, e representante da indústria farmacêutica, acusando quadros do Ministério da Saúde de cometerem crime de corrupção, por terem cobrado dele, US$ 1 por imunizante vendido, caso o negócio fosse fechado.
Levantou também a acusação de que o deputado Luiz Miranda atuava como intermediário nestas negociações entre laboratórios e governo. Isso acabou desviando atenção sobre as denúncias contra o líder do governo, Ricardo Barros, mas parece que deve durar pouco. As oitivas dele e dos assessores do Ministério da Saúde envolvidos estão marcadas para a semana que vem. Vamos ver o que vem por aí.
Na agenda desta sexta-feira (dia 2) temos o payroll e a taxa de desemprego de junho, como os dados mais importantes da semana, a impactar a leitura do FED. Um incremento muito forte na geração de empregos urbanos (acima de 700 mil) indica que a economia americana está aquecendo muito, a demanda por bens e serviços também, o que deve aumentar o risco de inflação. Isso pode sinalizar que o Fed realizará o aperto monetários antes do esperado e o resultado possível desse movimento é a apreciação do dólar frente às demais moedas (DXY subindo).
É dia também da Pesquisa Industrial Mensal de maio (PIM IBGE), o que pode ser mais uma boa notícia em momento de desgaste do governo. Espera-se que, após queda nos meses anteriores, haja sinais de recuperação.
Vamos conversando.