Você já parou para pensar na troca diária que muitos de nós fazemos de unidades monetárias (dinheiro) por horas de vida (que são finitas)?
Pois é, quase todos nós precisamos dessa troca, afinal, os boletos não param de chegar. Além do básico, como um teto para morar e comida na mesa, temos desejos, muitos deles.
Queremos coisas, viagens, experiências (que nem sempre precisamos), mas não há como tornar tudo isso realidade sem as benditas unidades monetárias.
Infelizmente, o Brasil passa por um momento bem difícil hoje, dada a fraca recuperação econômica e o alto desemprego, mas tenho a esperança de que dias melhores virão.
Nos Estados Unidos, a história é um pouco diferente…
O que você faria se não precisasse trocar suas horas de vida exercendo qualquer atividade e ao mesmo tempo recebesse as unidades monetárias? Sim, isso mesmo. Toda semana você receberia uma certa quantia na sua conta bancária, que o ajudaria a pagar algumas das contas básicas.
Imagino que depois de um certo tempo seria um pouco incômodo voltar a pensar na possibilidade de trocar as horas de ócio criativo por qualquer função produtiva. Acho que muita gente teria um sentimento de retrocesso.
Pois bem, ao longo dos últimos dezoito meses, milhões de americanos receberam cheques e mais cheques do governo, que somam trilhões de dólares.
Os cheques, em muitos casos, não foram suficientes para cobrir todas as despesas da casa, mas foram uma grande ajuda e de certa forma criaram uma reflexão, ou mesmo um comportamento nas pessoas quanto ao valor de troca das “horas vida” por unidades monetárias. Seria ele – o valor recebido por hora – justo?
É uma pergunta de difícil resposta, não vou nem tentar respondê-la por aqui. Fato é que essa forte e contínua ajuda governamental levou uma boa parte da população americana a reduzir a procura por alguns tipos de trabalho, cuja remuneração era, digamos, mais baixa.
Isso criou uma situação peculiar no país. Postos menos qualificados, como o de atendente de cadeias de fast-food, que recebe uma remuneração perto da mínima no país, simplesmente estão vagos há meses. As empresas passam por uma grande dificuldade em preencher empregos e não são poucas as que, ao longo dos últimos meses, aumentaram o valor por hora recebido, a fim de incentivar as pessoas a retornarem para esses setores.
Mas as empresas estão dando um passo a mais, dado o desespero em conseguir que as pessoas retornem ao trabalho. Nos Estados Unidos, existe uma compensação dada a alguns tipos de trabalhadores, normalmente para altos postos de trabalho, em escritórios, ou para atletas de alto rendimento, quando da assinatura do contrato de trabalho, conhecida por signing bonus, ou bônus de assinatura.
Uma matéria do The Wall Street Journal publicada nesta semana apontou que cerca de 20 por cento dos postos de trabalho publicados no site Ziprecruiter oferecem algum tipo desse bônus, contra apenas 2 por cento das vagas publicadas no mês de março. O valor oferecido por vaga fica entre 500 e 1.000 dólares para as posições mais básicas e pode chegar a dezenas de milhares de dólares à medida que o grau de instrução aumenta.
Fato é que a pandemia trouxe inúmeras mudanças para a sociedade mundial, inclusive comportamentais, como essa reflexão sobre os valores “justos” para a troca de uma hora de vida por uma hora de trabalho.
As implicações são inúmeras, tanto do ponto de vista de custo de mão de obra para as empresas quanto de quantidade e qualidade de trabalho, mas essa discussão fica para uma próxima newsletter.
Até semana que vem!