Uma coisa é inegável: 2018 não tem sido um ano bom para as criptomoedas. O mercado nos reservou um primeiro trimestre de forte queda. O Bitcoin, a maior e das mais resilientes criptomoedas, apresentou uma queda de cerca de 50% entre o começo de janeiro e o final de março. Vale notar que sua dominância – isto é, o valor de sua capitalização de mercado sobre a capitalização de todas as criptomoedas – aumentou no período, sendo então sua desvalorização menos significativa que a do mercado como um todo. Não é a primeira vez que isso ocorre – o ano inteiro de 2014 apresentou declínio do valor do Bitcoin – mas houve uma razão clara para isso. A quebra da maior Exchange da época, Mt. Gox, trouxe forte desconfiança.
Dessa vez parece diferente. Não há motivo claro para o repentino mercado em baixa e, acredito, tentar achar uma causa única e objetiva para esse fenômeno não é proveitoso para os investidores. Épocas de baixa eventualmente ocorrem em diversos investimentos, mesmo os que são supostos ser estáveis, podem ter quedas. O ouro, consolidado e com mercados futuros, eventualmente sofre quedas consideráveis. Não acredito ser anormal para um mercado ainda nascente sofrer com essas quedas, ainda que maiores. A questão é que, por ser nascente, uma crise de confiança pode retardar ou asfixiar a adoção da tecnologia.
Será o caso? Acredito que ainda estamos numa boa perspectiva para as criptomoedas do lado da oferta. Há alguns dados que podem significar que as criptomoedas estão lentamente se aquecendo. As potencialidades das moedas não se limitam somente a serem reservas de valor e, no caso das que suportam aplicações – particularmente o Ethereum – a procura por referências de suas linguagens de programação está em alta. Se considerarmos que para o lançamento de contratos nessa blockchain paga-se uma certa quantidade de ethers (o chamado gas price), a demanda futura pela moeda pode estar latente.
Porém, se tratando de reserva de valor, para alguns as notícias parecem desanimadoras. O ouro, por exemplo, em novembro e dezembro de 2016 teve uma queda de 10%, significativa, mas nada comparada à queda de 50% da própria Ethereum apenas em março. A diferença é que o ouro se trata de uma reserva de valor consolidada e, por isso, mais líquida, racional e com a presença estabilizadora de mercados futuros eficientes (algo que as criptomoedas, pela ainda reticente adoção por players tradicionais, não possuem). Isso se dá muito pelo ouro ser uma commodity com questões regulatórias pacificadas. Como tal, esses desenvolvimentos naturais para sua maior estabilidade podem ocorrer tranquilamente. Nesse caso, o principal problema para as criptomoedas é uma demanda reprimida por poucas garantias jurídicas.
Vale ressaltar que, com marcos regulatórios favoráveis, o Bitcoin e demais criptomoedas possivelmente passarão por maior estabilização, reduzindo a magnitude de suas quedas para, possivelmente, algo mais próximo do ouro. Diversos países importantes possuem bons prospectos nessa direção, apesar de ainda incertos. Alemanha não taxa criptomoedas por considera-las meios de pagamento, Suíça e Singapura desejam regular e incentivar seus ecossistemas de criptoeconomia, Japão possui ambiente regulatório favorável, entre outros. A própria Coreia do Sul, que está regulando firmemente as atividades e, por algum tempo, teve suspeitas de possível banimento das criptomoedas, tem negociado esse posicionamento com sua sociedade civil, fortemente interessada nesses ativos.
Além da questão regulatória estar se desenvolvendo positivamente em alguns países com proeminência no cenário financeiro global, as consequências desse novo marco regulatório, se implementado, são desejáveis. Apesar de ainda haver incerteza, se a regulação não-asfixiante de fato sair, maior integração com o sistema financeiro tradicional é possível, posto que bancos e demais instituições não terão consequências legais ao se relacionar com investidores em criptoativos. Isso trará maior profissionalização, liquidez e possibilidades de investimento novas. Evidentemente essas consequências são dependentes da realização de um cenário positivo, porém não creio de todo inviável essa realização dada a percepção do potencial das criptomoedas por governos.
Creio, portanto, que a principal questão no momento para as criptomoedas é a regulatória. O potencial latente delas como reserva de valor e plataforma existe, interessa a desenvolvedores e depende de soluções de escalabilidade que estão sendo estudadas e adotadas. Enquanto a incerteza regulatória pairar, o mercado continuará bearish e volátil. Uma análise de risco político agrega às criptomoedas e acompanhar a regulação pode ajudar a precificar as criptomoedas. Nesse caso, não é como se não houvesse mais um touro no mercado cripto, apenas está preso pelo azar do urso ser amigo do dono da fazenda. Apesar dessa conjuntura, vejo fortes chances de mudança na regulação. 2018 pode parecer um ano difícil, mas conforme as questões políticas forem se dissipando, há potencial para as criptomoedas voltarem a crescer.