Em Julho de 2023 fizemos um post sobre a possibilidade do preço do açúcar no mercado de futuros de NY repetir o que aconteceu em 2016, quando o preço do açúcar atingiu níveis recordes. Após alcançar o teto, iniciou-se a tendência de queda de preços que durou dois anos.
O teto de preços atual (Novembro23) foi de 28,14 ¢/lb. O teto de preços de Setembro16 foi de 24,10 ¢/lb.
Em ocorrendo em 2023 o que ocorreu em 2016, podemos esperar no mínimo uma queda de preços médios de safra de 700 pontos (ou 7¢/lb). Como o preço médio do açúcar nesta safra de 2023 está em torno de 25 ¢/lb, seria possível o preço médio atingir 18 ¢/lb na safra 2025/26, sendo 70% da queda no primeiro ano.
E isto é um problema econômico para as usinas?
Depende da taxa de câmbio. Se esta estiver em torno de R$ 5,00/US$, um preço de 18¢/lb será equivalente a R$ 2000,00 por tonelada de açúcar bruto. Este valor remunera os custos totais de produção estimados para as usinas mais eficientes nas próximas duas safras.
Ou seja, se o preço médio do açúcar reduzir em 30%, as usinas mais eficientes do Brasil ainda terão um resultado econômico positivo. A elevada competitividade global da indústria sucroalcooleira no Brasil e uma oferta potencial restrita de terra a nível global para plantio de matéria prima são proteção efetiva de bons resultados para o Brasil açucareiro.
E o etanol?
Neste caso, a conversa muda.
O Cartel da OPEP+ parece que está perdendo força. Existe excesso de oferta de petróleo reprimido pelo controle da OPEP+. A competição com energias renováveis é um fato sem volta e a velocidade de sua chegada no setor depende de custos competitivos e de regulamentação governamental, como o imposto sobre carbono. A eficiência energética está presente e é efetiva para reduzir o consumo. O caso do veículo híbrido (elétrico- combustível líquido) é um exemplo combinado de eficiência energética e redução de emissões do efeito estufa.
Em condições “normais” de geopolítica, a produção e consumo de petróleo tende a cair. Por outro lado, o consumo de etanol tende a crescer. Ou seja, o desafio econômico do etanol combustível de cana possivelmente não será falta de demanda e sim a competição com alternativas de energia, inclusive o petróleo barato.
Investimentos: O que esperar no médio prazo
Atualmente vemos investimentos em otimização da capacidade atual e em aumento de capacidade de produção de açúcar.
Vemos investimentos em lavoura visando sua renovação adequada, irrigação em áreas de cana mais secas como o cerrado e o Nordeste, novas variedades de cana mais produtivas, abandono de áreas agrícolas pouco rentáveis, tratos culturais adequados, arrendamento e compra de propriedades agrícolas viáveis para o negócio, mecanização e robotização, processos agrícolas mais eficientes.
Na indústria vemos investimentos em eliminação de gargalos de produção, em aumento da capacidade de produção de açúcar, em automação de processos. Investimentos em cogeração de energia atualmente estão inibidos por preços baixos da energia elétrica.
Investimentos em aproveitamento de subprodutos ambientalmente sadios, como etanol de 2ª geração, biogás e biometano acontecem de forma comedida.
Em resumo: o setor vai crescer e expandir a área de cana em condições otimizadas e em bases competitivas a nível global. É um setor atrativo para investimentos estrangeiros e M&A.