A Arábia Saudita aparentemente está determinada a não deixar os preços do petróleo despencarem novamente como no ano passado.
Mas, com o fim de mais da metade do pico da temperada de viagens automotivas de verão nos EUA, será que o país árabe e o grupo ampliado da Opep sob sua influência terão o tempo a seu favor para reverter o mercado antes do fim do ano?
Além de dados econômicos positivos na China, os preços do petróleo foram impulsionados, na quinta-feira, por uma reportagem da Bloomberg citando uma autoridade saudita não identificada, que disse que o país não toleraria a forte queda de preços da semana passada. A autoridade disse ainda que a Arábia Saudita estava aberta a todas as opções para impedir declínios maiores.
Com isso, o petróleo norte-americano West Texas Intermediate e o britânico Brent se valorizaram mais de 2% cada, saindo das mínimas de sete meses e registrando seu primeiro repique significativo em quatro dias. Mesmo assim, no início do pregão desta sexta-feira na Europa, o WTI apresentava queda de quase 6% na semana. O Brent registrava um declínio de 7% até então na semana.
Poucas opções para a Arábia Saudita
E, apesar da determinação da Arábia Saudita de corrigir o mercado, a Bloomberg observou, em uma análise, que as opções de Riad era escassas:
“O arrefecimento da economia mundial e a disputa comercial entre EUA e China estão freando a demanda de combustível; portanto, mesmo que os produtores mundiais decidam cortar ainda mais a produção, podem enfrentar dificuldades para retomar os preços."
O plano saudita é realmente bastante simples: intensificar ainda mais os cortes de produção de 1,2 milhões barris por dia (mbpd) com os quais a Opep já havia se comprometido até março de 2020.
Na condição de maior produtor da Opep, o país do Oriente Médio planeja manter suas próprias exportações abaixo de 7 mbpd a partir do mês que vem. Em tempos favoráveis, o reino podia produzir até 10,3 mbpd, e agora, sem dúvida, não é um desses momentos. Para reduzir as exportações, a estatal petrolífera Saudi Arabian Oil Co., conhecida como Aramco, diminuirá as alocações para clientes em todas as regiões em 700.000 barris por dia no total em setembro.
Para clientes da América do Norte, o reino enviará cerca de 300.000 barris por dia a menos do que o carregamento previsto para setembro. A redução para clientes europeus será ainda maior, e também haverá cortes modestos para compradores asiáticos, embora não se tenham dado maiores detalhes.
Números de estoques dos EUA serão essenciais
Desses números, os mais importantes serão aqueles referentes ao mercado norte-americano, onde os dados sobre produção, consumo e estoques de petróleo são mais transparentes do que em qualquer outro lugar do mundo, além de serem atualizados semanalmente.
A Arábia Saudita fez um excelente trabalho ao reprimir suas exportações para os EUA no passado, o que se evidencia no salto de mais de 35% nos preços do WTI nos primeiros quatro meses deste ano, depois de a abundância de oferta anterior ter provocado uma perda composta de quase 45% nos três últimos meses de 2018.
Embora os ganhos do WTI tenham sido erráticos desde o início do verão nos EUA, os cortes de produção da Opep ainda conseguiram dar sustentação aos preços. A forte demanda petrolífera deste verão também ajudou muito. Por sete semanas consecutivas até julho, os estoques de petróleo nos EUA caíram mais de 50 milhões de barris no total, uma impressionante redução sob qualquer parâmetro.
Na semana passada, essa tendência de redução parece ter chegado ao fim, com a primeira alta nos estoques petrolíferos norte-americanos desde meados de junho.
Mas ainda é cedo demais para dizer se a alta de 2,4 milhões de barris nos estoques da semana finalizada em 2 de agosto será o início de uma tendência.
Restam apenas algumas semanas para o fim da temporada de viagens automotivas de verão nos EUA
O que se sabe, no entanto, é que restam menos de quatro semanas para o fim da temporada de viagens automotivas de verão nos EUA, cujo fim oficial é marcado pelo feriado do Dia do Trabalho, em 2 de setembro, mesmo sem a chegada do frio.
No último verão, as fortes retiradas de estoque petrolífero continuaram até meados de setembro, até que um acúmulo de 11 semanas consecutivas nos estoques até o fim de novembro fez os preços do WTI afundarem mais de 30%. Mas essa ampliação no acúmulo de estoques também ocorreu na esteira de outra dinâmica importante: a decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de conceder isenções às sanções impostas ao petróleo iraniano. Quando a Opep firmou seu pacto de corte de produção em dezembro, o mercado voltou a se recuperar de forma constante.
Desta vez, se os maiores cortes sauditas se tornarem visíveis no fim de setembro, podem novamente dar sustentação ao mercado.
Mas existe outro importante fator imprevisível capaz de complicar a situação da Opep: a guerra comercial entre EUA e China.
Transtornos da guerra comercial devem continuar
A desvalorização do iuane feita por Pequim na semana passada parece ser apenas a ponta do iceberg de possíveis choques que aguardam a economia mundial, por isso não é certo se a Opep conseguirá alcançar os preços que deseja, embora haja algumas outras opções para o grupo.
A redução das exportações da Opep para os EUA pode compensar os planos chineses de cortar drasticamente suas aquisições de petróleo norte-americano nas próximas semanas, como noticiado pela CNBC. Se isso for verdade, os estoques petrolíferos podem disparar novamente nos EUA a cada semana, pressionando o WTI para baixo. Na semana passada tivemos um exemplo eloquente do que a queda nas exportações petrolíferas dos EUA pode significar para os estoques: a redução de 710.000 barris em relação às exportações da semana anterior contribuíram enormemente para o acúmulo de 2,4 milhões de barris no estoque.
O que certamente ajudará a Opep é uma queda na produção geral de petróleo nos EUA.
Mas, em uma cruel ironia do destino, a redução dos preços pode provocar uma queda significativa na produção norte-americana das empresas de óleo de xisto em todo o país.
Ellen Wald, presidente da Transversal Consulting e articulista do Investing.com, explicou essa lógica em uma análise nesta semana:
“Se os preços do petróleo não caírem para a região de US$ 40, as empresas de óleo de xisto seriam capazes de continuar perfurando e expandindo as operações. Também ajuda o fato de que uma quantidade maior de oleodutos entrará em operação em 2019, e essas empresas possuem poços perfurados mas incompletos que podem começar a produzir com facilidade e a um custo baixo.”