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O sobe e desce do dólar

Publicado 13.03.2024, 10:00

Todos sabemos que o preço do dólar pode variar. Em maio de 2020 chegou perto de R$6,00, voltou para R$5,00 em meados de 2021, chegou a R$4,7 em julho de 2023 e, nos últimos meses, vem oscilando entre R$4,9 e R$5,0. Nossa vida econômica é impactada pelo dólar de diversas maneiras. Por exemplo, variações no valor da moeda americana alteram o custo de viagens para o exterior, os preços de produtos importados e a atratividade de investimentos. Mas o que faz o preço do dólar subir ou descer? Nesta coluna vamos explorar um pouco os fundamentos da taxa de câmbio.

No Brasil, é comum expressar a taxa de câmbio pela razão entre o real e o dólar (R$/US$), ou seja, o preço em reais de 1 dólar. Para entender o nível e a variação desse preço, precisamos levar em consideração a oferta e a demanda por dólares. Embora o conceito seja simples, mapear oferta e demanda por dólares é bastante complexo. O dólar é a principal moeda do planeta e é utilizada como unidade de conta e reserva de valor por agentes econômicos em muitos países, além de ser referência em transações internacionais. As transações podem ser de turismo, comerciais (exportação e importação de bens e serviços) ou de investimentos (fluxos de capitais). Além disso, reservas em dólar são mantidas por bancos centrais.

No comércio internacional, exportações geram oferta de dólares (estrangeiros pagam em dólares pelos nossos produtos) e importações geram demanda por dólares (brasileiros precisam de dólares para comprar os produtos de outros países). Aqui, é importante comparar preços e disponibilidade de bens e serviços nos dois países, porque quanto maiores forem os termos de troca (valorização dos produtos que exportamos frente àqueles que importamos), maior será a oferta relativa de dólares no país.

De forma análoga, investimentos estrangeiros no Brasil geram oferta de dólares e os investimentos de brasileiros no exterior demandam dólares. Os fluxos relacionados a investimentos seguem as oportunidades de retornos e riscos associadas às economias dos dois países. Neste sentido, duas variáveis correlacionadas merecem destaque: o diferencial entre taxas de juros e o risco-país.

O diferencial entre as taxas de juros pagas em investimentos com características semelhantes nos dois países mostra a atratividade de estar posicionado em uma ou outra geografia. Em particular, torna possível o chamado carry trade, quando um agente toma recursos por uma taxa menor em um país e os investe no país onde seja maior. Já o risco-país está associado à probabilidade do governo não honrar seus compromissos de dívida soberana. Em grande medida, são as diferenças no risco-país que vão explicar os diferenciais de taxas de juros.

Além disso, precisamos destacar o papel do governo, uma vez que as taxas de câmbio podem ser reguladas. Desde 1999, o Brasil vem praticando o regime de câmbio flutuante, mas que permite intervenções pontuais do Banco Central (BC) com o objetivo de diminuir a volatilidade. Mas ao longo da história muitos regimes cambiais já foram experimentados (câmbio fixo, bandas cambiais, entre outros). Temos também taxas diferentes para transações comerciais e despesas de turismo.

Por haver uma lista longa de fatores atuando sobre as taxas de câmbio, antecipar movimentos da taxa de câmbio é bem difícil. Diz a anedota que a taxa de câmbio foi inventada para humilhar quem tenta projetá-la. Para muitos especialistas a melhor projeção é o valor da taxa de câmbio hoje. Mas essas dificuldades não impedem a existência de mercados de moedas sofisticados e de modelos que tentam projetar a taxa de câmbio. Já em horizontes mais longos observamos uma tendência de desvalorização do real em relação ao dólar. De acordo com o boletim Focus do Banco Central de 08/03, a mediana das expectativas de analistas de mercado é que a taxa de câmbio fique relativamente estável em 2024 (terminando o ano em 4,93 R$/US$) e apresente uma pequena depreciação nos próximos anos (chegando a 5,10 R$/US$ no final de 2027). Mas certamente existem aqueles que apostam na apreciação do real e outros esperando depreciação mais acentuada. É raro vermos unanimidade no mercado de câmbio.

De tempos em tempos especula-se se o dólar vai perder seu papel de moeda dominante no mundo. Observamos isso no final da década dos 1990 com o surgimento do Euro e mais recentemente com a ascensão da China. Alguns acreditam também que a disseminação das moedas digitais podem mudar a correlação de forças. Embora seja impossível prever o futuro, dada a relevância da economia dos EUA e a penetração de sua moeda nas diversas dimensões econômicas, acreditamos que o sobe e desce do dólar continuará importante por muito tempo para a vida das pessoas, empresas e governos no Brasil e em quase todos os cantos do mundo.

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