A ata do Copom de ontem veio dentro do que o mercado esperava indicando a necessidade de mais apertos nos próximos juros para elevar a taxa Selic para patamar acima do neutro, para que assim as projeções de inflação fiquem na meta, reforçando a expectativa de que a Selic encerre o ano em 7,00%. Só isso e uma certa calmaria no exterior fizeram o dólar cair.
Juros mais altos no Brasil em comparação com o exterior tendem a elevar a atratividade do mercado local (carry trade), aumentando a entrada de capital estrangeiro e elevando a oferta de dólares no país. O óbvio para isso seria a valorização do real. Mas, devido a tudo que tenho escrito por aqui diariamente - tensões políticas, reforma tributária (principalmente a taxação de dividendos), risco fiscal, ano que vem eleições e crise hídrica - torna muito instável o Brasil para os investidores apostarem forte por aqui. Além disso, existem os fatores mundiais, ou seja, os que estão pelo mundo todo e não apenas no Brasil, como a inflação e a variante delta do coronavírus ameaçando as retomadas econômicas em geral.
Dados desta terça-feira mostraram que a inflação oficial brasileira acelerou com força em julho e atingiu o nível mais alto para o mês em quase 20 anos, ainda sob intensa pressão dos preços da energia elétrica, levando a taxa acumulada em 12 meses a 8,99%, de 8,35% em junho, indo muito além do teto da meta oficial para este ano. O IPCA subiu 0,96% em julho depois de avançar 0,53% no mês anterior.
Também ontem foi divulgado que o fundo alimentado com venda de ativos do governo previsto na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos precatórios não prevê destinação de recursos a programas de transferência de renda, em contraste com falas do ministro da Economia Paulo Guedes, de que os mais pobres seriam contemplados com a medida. Segundo o secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, o pagamento aos mais pobres ficou de fora do texto da PEC porque o acréscimo desse tema iria aumentar a complexidade do pagamento.
Nos EUA, os comentários mais "hawkish" preocupados com a inflação de duas autoridades do banco central norte-americano dão força ao dólar pela possível retirada de estímulos da economia americana após no inicio da semana terem saído dados fortes da recuperação do emprego por lá. Mas isso não se sustentou ontem e acabou sendo o motivo de alta da segunda-feira, sem grandes reflexos na terça.
Ainda nos EUA, ontem o Senado aprovou o projeto de infraestrutura bipartidário de 1 trilhão de dólares por 69 a 30 votos. Esse projeto pode representar o maior investimento do país em décadas em estradas, pontes, aeroportos e hidrovias e é uma das principais prioridades do presidente Joe Biden. Logo após a aprovação, começou o debate sobre um plano de 3,5 trilhões de dólares sobre mudança climática, pré-escola universal e habitação acessível.
Apesar do dólar ter caído ontem, reagindo à ata do Copom e realização de posições, afinal no dia anterior chegou a bater quase R$ 5,30, nada indica que o câmbio vai ficar próximo dos R$ 5,00. As incertezas quanto ao teto de gastos do governo e a imagem do país depois do desfile de tanques geram um cenário bastante nebuloso para o investidor estrangeiro.
Volatilidade continua imperando no decorrer do dia. Ontem dólar bateu a mínima de R$ 5,1853 e máxima R$ 5,2630. Fechou R$ 5,197
Para hoje, vamos acompanhar aqui no Brasil os números das vendas do varejo de junho, a confiança do consumidor e o fluxo cambial estrangeiro. Nos EUA, IPC de julho mensal e anual e discurso de Raphael Bostic, membro do Federal Reserve e ver que notícias o dólar vai seguir...