Na última semana, tive a oportunidade de participar do KES Summit, um evento de inovação que aconteceu em Trancoso, na Bahia. Foram quatro dias intensos, cheios de aprendizados e reflexões. Por isso, no artigo de hoje quero compartilhar alguns dos insights que mais me marcaram.
Como foram muitas informações para absorver, vou dividir o conteúdo em duas partes.
No de hoje, quero falar sobre os primeiros dois dias do evento, que trouxeram discussões bem profundas sobre os problemas e perspectivas da humanidade atualmente.
Um dos debates mais impactantes girou em torno de uma questão fundamental sobre o que está errado com o mundo em que vivemos hoje?
Essa conversa foi liderada por Eduardo Gianetti, economista e filósofo, e Ailton Krenak, líder indígena e ambientalista.
Eles falaram sobre duas crises que parecem caminhar juntas: a crise ambiental e a crise da "ecologia psíquica". Para Gianetti, a crise ambiental tem raízes profundas em um sistema econômico que busca crescimento sem considerar os custos humanos e ambientais.
Ele destacou algo que realmente me fez pensar: um bilhão de pessoas, que estão no topo da pirâmide de consumo, são responsáveis por 50% das emissões globais de CO2.
Enquanto isso, aqueles que estão na base da pirâmide, muitas vezes sem eletricidade, são responsáveis por apenas 5% dessas emissões. É uma disparidade chocante e insustentável a longo prazo.
Mas não é só isso. Gianetti também trouxe explicou o que ele chama de crise da ecologia psíquica. Segundo ele, essa busca incessante por crescimento econômico e bens materiais, prometida como a chave para a felicidade desde o Iluminismo, tem falhado em nos proporcionar o bem-estar que esperávamos.
Pelo contrário, estamos mais ansiosos e insatisfeitos do que nunca, presos numa “guerra armamentista do consumo”, onde os bens que nos posicionam socialmente parecem ter mais valor do que o que realmente importa: as conexões humanas e a vida em comunidade.
E, acrescentou: redes sociais só pioram essa sensação, pois nos comparamos constantemente com o mundo todo, não apenas com nossa vizinhança ou círculo social.
Ailton Krenak trouxe uma perspectiva que, para mim, faz todo sentido. Ele falou sobre como a sociedade moderna é como uma “máquina de desejos”, sempre criando novas necessidades que, no fim, acabam prejudicando tanto o meio ambiente quanto nossa qualidade de vida. Ele propôs que olhássemos mais para as práticas ancestrais, que valorizam a conexão com a natureza e uma vida mais simples, em harmonia com o ambiente ao nosso redor.
Já no segundo dia, a discussão tomou um rumo mais voltado para o futuro. Especialistas como Jahkini Bisselink, André Alves e Lucas Liedke trouxeram insights sobre a Geração Z e como suas “vibes” estão moldando o mercado e as interações sociais.
Em vez de seguir as tradicionais tendências de mercado, o foco está em captar essas vibes – estados temporários de sentimentos coletivos que refletem as necessidades e expectativas dessa geração.
Uma das coisas que mais me chamou a atenção foi a ideia de que essa geração está cansada de seguir tendências pré-estabelecidas e, em vez disso, busca por experiências que ressoem emocionalmente e que sejam autênticas.
É como se estivessem dizendo que querem algo real, algo que faça sentido no momento, sem a necessidade de se encaixar em padrões fixos. E isso faz com que marcas e empresas tenham que se adaptar rapidamente a essas mudanças.
Outro ponto interessante foi sobre a chamada “cultura narcisista”, algo que parece ser muito presente na Geração Z.
Ao mesmo tempo em que existe um foco grande no “eu” e na autopromoção, também há um desejo forte por impacto social e justiça. Isso cria um paradoxo interessante, onde marcas precisam equilibrar mensagens de empoderamento individual com um compromisso genuíno com causas sociais.
Em outras palavras, a Geração Z quer autenticidade, mas também quer ver ações que reflitam seus valores.
Também não posso deixar de mencionar o impacto da tecnologia, que foi um tema recorrente durante o evento. A Geração Z cresceu num ambiente digital, e isso influencia profundamente a maneira como eles consomem conteúdo e se relacionam.
Mas, ao mesmo tempo, essa dependência tecnológica também levanta questões sobre saúde mental, algo que essa geração valoriza muito. As empresas que quiserem capturar a atenção deles precisam, cada vez mais, oferecer não só produtos, mas também soluções que ajudem a equilibrar a vida digital com o bem-estar mental.
De forma resumida, o KES Summit me trouxe uma série de reflexões que vão desde os grandes desafios globais, como a crise ambiental, até as dinâmicas sociais e tecnológicas que estão moldando o futuro.
E, mais do que nunca, parece claro que, para avançarmos como sociedade, precisamos de um equilíbrio entre inovação, sustentabilidade e, acima de tudo, humanidade.
O futuro está aí, e cabe a nós decidirmos como queremos construí-lo.
Até a parte 2!