A possibilidade de negociações diretas entre real e renminbi, sem uso do dólar, carece de uma contextualização importante, antes de falar sobre o impacto econômico disso, seja para o Brasil ou mundo. Atualmente o dólar é a moeda mais utilizada em termos de transações globais no mundo, devido a aceitação e confiabilidade do mercado. Porém, quando você não é detentor dessa moeda, você participa de uma série de consequências, dentre elas, a falta de controle na política monetária, que acaba guiada pelo emissor, inflação indireta e até algumas sanções econômicas, conforme política externa do emissor e a rastreabilidade do fluxo financeiro entre bancos e países por meio dos sistemas financeiros.
Sendo assim, temos visto cada vez mais sanções dos EUA junto a países com os quais possuem algum atrito, seja econômico, militar ou social. Ressalto que o mérito aqui não é avaliar se a sanção é devida ou não, mas sim o efeito gerado por isso. Dessa forma, quando essas sanções ocorrem, os demais países se vêem pressionados e tendem a reduzir suas negociações com os países sob sanção, visto o receio de também sofrerem com restrições. Como consequência indireta, esse tipo de movimento aproxima os países já sancionados, sob influência do pensamento de não ter o que perder, o que gera aos demais um alerta sobre como possibilitar transações.
Importantíssimo ressaltar que os EUA sancionarem a Rússia, que é uma potência militar, mas não econômica, como em outrora, e o Irã, por exemplo, é algo factível. Porém, como sancionar a China sem prejudicar sua própria economia e seus parceiros, dado o alcance e relevância da economia global chinesa? Utilizando como base o cenário que citei, o movimento proposto pela China busca se aproximar de países e propor transações em moedas próprias, sem intermédio do dólar, como forma de mitigar riscos financeiros ou econômicos, além de fortalecer o renminbi.
Para o Brasil, vejo como positiva a criação desse canal de pagamentos alternativo, visto que favorece o estreitamento de relações econômicas com um parceiro muito importante para a balança comercial brasileira; reduz a dependência do dólar e, consequentemente, dos movimentos correlacionados com a moeda, como inflação, crises e outros, além de diminuir custos e tempo no processamento de operações. Isso torna os brasileiros mais competitivos e representativos como integrantes do sistema financeiro global