Na sexta-feira, o mercado esperava muito ansioso pelos dados do Payroll nos EUA. O Payroll é um indicador de criação de empregos e é um dos mais importantes para prever a atividade econômica.
A estimativa do mercado para o dado de abril era a criação de cerca de 1 milhão de empregos americanos. Seria um dos maiores números da série histórica, mas a criação efetiva foi de apenas 266 mil empregos.
O mais estranho dessa surpresa foi o tamanho do erro. Economistas experientes que estimam o dado há vários anos foram completamente surpreendidos. Além disso, os dados do mês anterior também foram revisados para baixo.
Será que isso significa que a recuperação econômica dos EUA azedou?
Para termos um cheiro do que pode ter acontecido com o Payroll, temos que analisar o contexto com outros dados. A mesma pesquisa mostrou o aumento do valor das horas trabalhadas em 0,3 por cento (equivalente a 8,4 por cento anual), enquanto o mercado esperava uma queda, por exemplo.
Se esse dado indicou uma atividade fraca, por que haveria pressão no valor das horas? Uma matéria do The Wall Street Journal especula que o auxílio de 300 dólares por semana está fazendo com que milhares de trabalhadores sejam pagos para não trabalhar, criando um grande problema de novas contratações.
Empregos com salários mais baixos estão sendo preenchidos por jovens (correspondem a 50 por cento dos novos entrantes) que não se enquadram nos contemplados com o auxílio por falta de histórico de emprego. O auxílio está programado para durar até setembro.
A reportagem mostra um aumento de 7,4 milhões na abertura de vagas em fevereiro, de acordo com o famoso Jolts Survey, que aponta dados de criação de postos de trabalho. Ou seja: temos vagas, mas não temos pessoas dispostas a trabalhar, portanto não temos contratações.
Não só os economistas foram pegos de surpresa, mas o mercado também. Quando o número foi divulgado, o juro de 10 anos americano chegou a cair 10 pontos base durante o dia. Dez pontos é uma variação altíssima para a taxa americana, que gira em torno de 1,5 por cento.
Nós, que temos taxas longas de quase 2 dígitos, vemos variações de 10 pontos quase todo dia. Mas isso é quase inimaginável para os americanos. Mesmo assim, aconteceu após a divulgação. A taxa caiu de 1,56 para 1,46. Apesar do susto, logo depois, de forma também inimaginável, o mercado fechou toda a queda, voltando para patamares ainda mais altos no final do dia, com um fechamento próximo de 1,57 por cento.
Com o Fed imprimindo dinheiro para comprar títulos do governo, as taxas de juros americanas estão em patamares artificialmente baixos. Além disso, o auxílio pago pode estar distorcendo a criação de empregos por conta dos motivos já mencionados acima.
Ou seja, estamos em uma situação muito difícil e sem paralelos, pois os termômetros que nos guiavam no mercado estão quebrados e distorcidos. Mercadinho beeeem difícil esse, viu?
Para quem gosta de análise técnica, foi um dia de grande alvoroço, visto que o gráfico do juro de 10 anos fez um clássico martelo – e dos bons! Essa figura significa reversão de tendência de baixa. Será?
Aqui, na Nord, eu sou a única que dá umas olhadinhas no gráfico antes de entrar em uma operação. Claro que não é a única coisa que eu olho. Primeiro vem o fundamento, depois o fluxo e, por último, dou uma “bisolhada” no gráfico.
Funciona? Eu não sei, mas de acordo com as minhas experiências girando DI em fundos multimercado, passei a respeitar!
Vamos observar de perto o comportamento do treasury esta semana. Estou ansiosa para ver se o gráfico vai acertar desta vez.
Um grande abraço e boa semana.