Nos últimos anos, a digitalização dos serviços financeiros revolucionou a forma como lidamos com o dinheiro. Entre as inovações mais significativas, o Pix se destacou como um marco na modernização das transações bancárias no Brasil. Ele não apenas simplificou pagamentos e transferências, mas também transformou radicalmente a acessibilidade ao sistema financeiro.
Pix: um salto na eficiência e na autonomia
Antes do Pix, pagar contas ou realizar transferências ainda envolvia deslocamentos, filas e, muitas vezes, tarifas bancárias para a maioria da população. Com sua implementação, os brasileiros passaram a contar com um método de pagamento instantâneo, 24 horas por dia, sete dias por semana. Isso eliminou a necessidade de ir até agências bancárias ou caixas eletrônicos, economizando milhões de horas diariamente.
Tempo esse que pode ser melhor utilizado no trabalho, nos estudos, no lazer ou no cuidado com a saúde. Se para a maioria das pessoas isso já representou um grande avanço, para aquelas com deficiência, o impacto foi ainda mais profundo.
O impacto do Pix na acessibilidade
As cidades brasileiras ainda apresentam desafios estruturais para pessoas com deficiência. Deslocar-se até uma agência bancária pode ser uma tarefa complexa, não apenas pelo transporte público nem sempre acessível, mas também pela falta de adaptações nas próprias agências. Com o Pix, esse problema foi significativamente reduzido. Agora, qualquer pessoa pode realizar transações de qualquer lugar, desde que tenha um celular e acesso à internet.
Um aspecto pouco discutido é como essa tecnologia tem ampliado a independência financeira das pessoas com deficiência. Pequenos empreendedores que dependiam de pagamentos presenciais agora podem receber diretamente pelo Pix, sem precisar manipular dinheiro em espécie ou depender de terceiros para realizar transações. Além disso, inovações na usabilidade dos aplicativos bancários têm tornado o processo cada vez mais acessível a pessoas com deficiência visual ou motora.
O Banco Central como indutor desse processo
O Banco Central do Brasil definiu diretrizes específicas para garantir a acessibilidade do Pix, exigindo que as instituições financeiras implementem soluções que permitam o uso autônomo por pessoas com deficiência. Entre as iniciativas incentivadas estão a integração dos aplicativos bancários com leitores de tela nativos dos celulares, descrições claras das funcionalidades, avatares ou vídeos explicativos sobre o Pix e assistentes virtuais em Libras. Atualmente, mais de 700 instituições financeiras oferecem o Pix, e cada uma delas deve atuar para garantir a melhor experiência a todos os clientes.
O BC também incentiva que as pessoas que precisam de soluções assistivas pesquisem as instituições que oferecem o melhor suporte para suas necessidades. Para facilitar essa busca, o Banco Central disponibiliza uma lista com as instituições que declararam possuir alguma solução voltada à acessibilidade, ajudando os usuários a escolherem a opção mais adequada.
Redução de custos para empresas e empreendedores
Além dos benefícios de conveniência e acessibilidade, o Pix também trouxe vantagens econômicas significativas, tanto para empresas, pequenos empreendedores e, indiretamente, para o consumidor.
Para entender melhor essa economia, podemos fazer uma simulação simples. Suponha que 20% das transações que antes eram feitas no débito migraram para o Pix. No entanto, o impacto varia dependendo do tipo de empresa. As grandes varejistas, que pagavam uma taxa média menor, em torno de 0,8% por transação no débito, foram responsáveis por 60% desse volume migrado. Já os pequenos empresários, que enfrentavam taxas mais altas, cerca de 1,8%, representaram os outros 40% dessa mudança.
Agora, considerando que o volume total de transações pelo Pix em 2024 foi de R$ 26,45 trilhões, podemos estimar que essa migração gerou uma economia de aproximadamente R$ 63,5 bilhões no ano, o que equivale a cerca de R$ 5,29 bilhões por mês.
Para os pequenos empresários, essa redução de custos faz uma grande diferença, já que antes eles precisavam lidar com taxas que reduziam sua margem de lucro. Além disso, essa economia pode ser repassada ao consumidor, seja por meio de preços mais baixos ou melhorias nos serviços, tornando o mercado mais competitivo e acessível para todos.
Iniciativas que ampliam a inclusão financeira
Fora do Brasil, diversas fintechs e instituições financeiras estão investindo em acessibilidade para garantir que todos possam utilizar serviços bancários de maneira eficiente. Empresas têm desenvolvido tecnologias voltadas para audiodescrição e comandos de voz em transações, permitindo que clientes com deficiência visual realizem operações de forma autônoma e segura.
No Brasil, startups como a Perto Digital desenvolvem soluções para tornar os sistemas bancários mais acessíveis, enquanto iniciativas como o See U App auxiliam a mobilidade urbana de pessoas com deficiência visual, facilitando a sua inserção no mercado e sua autonomia financeira.
Tecnologia pode ser inclusão social
A tecnologia financeira não é apenas uma questão de eficiência; é também um instrumento de inclusão social. O Pix demonstrou que a digitalização pode reduzir barreiras e democratizar o acesso ao sistema financeiro, proporcionando mais autonomia e qualidade de vida para milhões de brasileiros.
Agora, cabe às instituições financeiras continuarem investindo em acessibilidade, garantindo que inovações como o Pix sejam realmente para todos.