Poderia iniciar esse artigo dizendo que fui surpreendido com a decisão de nosso presidente com relação à troca de comando na Petrobras (SA:PETR4). Mas será que ainda devemos nos surpreender? A história nos diz que não, mas nós, investidores, insistimos em nos iludir.
Desde o final de 2015, após o início da execução da Operação Lava-Jato e o impeachment do governo Dilma, a Petrobras passou por diversas reformulações, visando uma maior eficiência e transparência em sua operação. Além disso, algumas leis importantes foram aprovadas, desobrigando a empresa a fazer investimentos que, na maioria das vezes, tinham cunho político e não econômico.
Aliado a isso, a adoção de uma política de preços que acompanha o mercado internacional do petróleo ajudou muito a empresa a retomar um grande momento. Mas agora essa conquista, da empresa e seus acionistas, parece estar ameaçada.
Mas antes de falarmos sobre a Petrobras, precisamos entender o contexto global em que ela e o Brasil estão inseridos.
MAIS UM CAVALO ENCILHADO: A RETOMADA DAS COMMODITIES
O Brasil é um país extremamente dependente da produção de commodities em sua matriz econômica.
Na tabela abaixo, podemos observar os principais países emergentes e o seu grau de correlação entre a variação de suas ações com a variação do preço das commodities. Nas duas últimas décadas o Brasil foi o país com maior grau de correlação, entre todos os países analisados.
Falando sobre commodities, a análise do mercado como um todo é bastante clara. Com a aceleração das vacinas contra o coronavírus e uma gradual retomada econômica, estamos iniciando novamente um ciclo de escalada nos preços das commodities no contexto global.
Segundo um levantamento da gestora Crescat Capital, a relação entre as commodities e o preço das ações está em seu menor nível desde o início da década de 1970. Como possivelmente a retomada da demanda global será mais acelerada que a recomposição de oferta, um aumento nos preços das commodities é inevitável.
Bom, então se o mundo caminha para um novo superciclo nas commodities, estamos em uma posição extremamente favorável, certo? Não necessariamente.
A ENCRUZILHA DO GOVERNO: CAPITAL POLÍTICO OU ECONÔMICO?
Abraçando essa tese, precisamos lembrar que com o petróleo não poderia ser diferente. Depois de surpreender o mundo em 2020, quando no ápice da crise do covid chegou a atingir uma cotação negativa em seus contratos futuros, o preço do barril de petróleo vem se recuperando, quase atingindo preços pré-covid.
Mas se o petróleo ainda está abaixo dos preços de 2020, por que o preço dos combustíveis ao consumidor final estão bem mais elevados?
A resposta está na valorização do dólar. Como a cotação do barril de petróleo é negociada em dólares, novamente nossa moeda desvalorizada pesa em nosso bolso. Essa comparação de realidades pode ser visualmente verificada no gráfico abaixo, com os gráficos de Petróleo (Brent) x Cotação do Dólar frente ao Real (em laranja).
Pressionado pelo aumento dos preços nos combustíveis e uma aceleração na inflação, o governo Bolsonaro anunciou diversas medidas essa semana, dentre elas o fim do imposto federal sobre o Diesel e o gás de cozinha nos próximos 2 meses, o que irá gerar um rombo de quase 3 bilhões de reais aos cofres públicos. Acontece que Governo ainda não mostrou de onde vai repor essa desoneração.
Lembro a vocês que nunca estivemos tão endividados. Nossa relação dívida/PIB já está em 89,3%, um recorde que não deveríamos estar batendo.
Ou seja, o Governo está tentando resolver um problema de curto prazo, tomando uma medida popular e buscando acalmar os ânimos dos caminhoneiros (que já ensaiavam nova greve) mas está criando um problema de Longo Prazo, que é a deterioração ainda maior nas contas públicas e possivelmente das contas da própria Petrobras.
Por fim, esse pacote de medidas bate de frente com a agenda liberal do Ministro da Economia, Paulo Guedes, o que pode desencadear também (mais uma) crise política. Sendo assim, prevejo mares agitados nas próximas semanas.
A LIÇÃO: FUJA DO RISCO BRASÍLIA
Muitos investidores (domésticos e globais) quiseram surfar a onda do novo ciclo de commodities através das ações da Petrobras. O “pequeno” detalhe é que eles se esqueceram que, incluso nesse pacote, também vinha a exposição ao “Risco Brasília”. E esse sabemos que sempre é imprevisível.
Tenha em mente que sempre que investir em empresas que possuam qualquer tipo de ingerência política e governamental, estará também diretamente exposto a desdobramentos inerentes ao Risco Fiscal e Político de nosso país. Riscos esses que, na maioria das vezes, não compensa o retorno.
Te espero no próximo artigo!