- A data de 24 de fevereiro marca o aniversário de 1 ano da invasão da Rússia na Ucrânia;
- Exportações petrolíferas russas permanecem praticamente inalteradas em relação a um ano.
- Maior dependência do Ocidente à Arábia Saudita e ao Iraque criará novos desafios geopolíticos.
Estamos nos aproximando do aniversário de um ano da invasão da Rússia na Ucrânia. Essa ação militar desencadeou uma série de sanções da União Europeia e dos EUA contra o petróleo e o gás natural da Rússia, as quais remodelaram de maneira considerável o mercado global de energia. Apresentamos abaixo uma análise do que mudou e do que podemos esperar para o futuro no setor.
1. Base de clientes da Rússia
Dados do TankerTrackers.com mostram que, embora o volume total de exportações de petróleo da Rússia não tenha caído, o país está exportando para menos clientes. Em novembro de 2021, os maiores clientes do país foram a China e a Holanda, que importaram 18% e 15% das remessas de Moscou, respectivamente. O resto do petróleo russo foi exportado para 24 países, nenhum dos quais respondeu por uma participação de mais de 8%. Para fins de comparação, um ano depois, a Rússia exportou para apenas 11 países diferentes. A Índia, um mercado totalmente novo para os russos, importou 38% do petróleo do país, enquanto a China adquiriu 28% das remessas.
Esses números podem dar a impressão de que a baixa diversificação de clientes é ruim para a indústria petrolífera da Rússia, na medida em que a Índia e a China teriam a vantagem de fazer os preços caírem. Mas a cotação do petróleo da Rússia já está bastante descontada, em comparação com o preço do barril de Brent. À medida que os preços do petróleo sobem, o óleo barato da Rússia mostra-se mais valioso para a Índia e a China.
Esses países veriam uma queda acentuada do seu desenvolvimento econômico, se tivessem que pagar US$ 100 pelo barril de petróleo. A disponibilidade de óleo barato da Rússia mantém suas economias rodando, o que, por sua vez, dá a Moscou um pouco mais de vantagem para elevar os preços ou exigir outras concessões desses clientes.
2. Receitas da Rússia com energia
As políticas de sanções e de teto de preços foram elaboradas para manter certa quantidade de petróleo russo no mercado, reduzindo, ao mesmo tempo, as receitas do país com as vendas do produto.
O barril dos Urais vem sendo negociado com um desconto mais significativo em relação ao Brent do que antes da invasão, mas tudo indica que a Rússia ainda está ganhando mais dinheiro do que o esperado. O Goldman Sachs (NYSE:GS) acredita que a China, a Índia e outros países vêm pagando preços mais altos pelo óleo exportado por Moscou do que as verificações de preços indicam.
Além disso, a Rússia está ganhando dinheiro vendendo serviços como seguro e frete, juntamente com o seu petróleo. De acordo com a Kpler, a Rússia pode estar ganhando mais de US$ 60 por barril, se tais taxas forem adicionadas, em vez dos US$ 38 que o país supostamente estaria recebendo.
A Reuters informou que a Rússia pretende cortar a produção petrolífera em 500.000 barris por dia (bpd) em março. O preço do Brent imediatamente subiu, mas ainda não se sabe se isso acabará encarecendo o produto para a Índia e a China.
A Rússia registrou um déficit de US$ 25 bilhões em janeiro, mas ainda tem um excedente em conta de US$ 8 bilhões. Quanto mais tempo essas sanções e esse teto de preços vigorarem, mais incentivos terá a Rússia de investir na comercialização e na remessa do seu óleo “às sombras”.
Os preços serão menores, e os serviços podem ser de menor qualidade do que os prestados pelo mercado aberto. Ainda assim, a Rússia provavelmente conseguiria aumentar suas receitas e compensar os recursos perdidos.
3. Impacto sobre a Europa e os EUA
A Europa está comprando mais petróleo da Arábia Saudita e do Iraque, sem a alternativa russa.
Em julho de 2022, a Europa importou mais de 2,2 milhões de barris por dia (mbpd) do Oriente Médio, um aumento de 90% desde janeiro de 2022. Tudo leva a crer que essa tendência continuará, trazendo consigo desafios geopolíticos.
No que diz respeito ao gás natural, a Europa conseguiu enfrentar bem este inverno sem consequências drásticas, pois as temperaturas foram mais amenas do que de costume. No entanto, se as temperaturas aumentarem neste verão ou forem mais frias do que o normal no próximo inverno, a Europa sentirá mais intensamente a falta do gás natural russo.
A Europa deve continuar construindo mais terminais de regaseificação de GNL, antes da temporada de alta demanda, a menos que queira queimar ainda mais carvão.
Nos EUA, apenas a região nordeste registrou estoques baixos e escassez de óleo diesel devido às sanções ao petróleo russo. Em geral, essa região tem uma robusta comercialização com a Europa. Mesmo assim, como a Europa não está mais comprando produtos petrolíferos de Moscou, não está exportando tanto óleo diesel para os norte-americanos. A capacidade das refinarias do nordeste americano é baixa, devido ao recente fechamento de instalações.
Ainda existem obstáculos substanciais para o transporte de diesel de outras áreas dos EUA para a região nordeste, em razão da falta de capacidade de oleodutos e das restrições de remessa provocadas pela lei Jones. Esse situação deve persistir em relação à gasolina e ao diesel neste verão local, com possibilidade de escassez de óleo de calefação no próximo inverno, se as temperaturas forem mais frias do que o normal.
Os EUA também se beneficiaram de temperaturas mais amenas neste inverno e não tiveram falta de gás natural. No entanto, se o próximo inverno for mais frio na Europa e nos EUA, os preços do gás natural tendem a ficar muito mais altos, pois aumentará a demanda doméstica pelo produto, bem como as exportações de GNL para a Europa.
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Aviso: A autora atualmente não possui nenhum dos ativos mencionados neste artigo.