Que bela surpresa, o crescimento real do PIB brasileiro insiste em vir acima do esperado pelo Focus.
Podemos gastar horas e horas tentando descobrir os motivos.
Alguns candidatos preferidos do X-Twitter são:
(i) a sorte de Lula;
(ii) o azar de Dilma;
(iii) a volta das commodities;
(iv) o efeito defasado das boas reformas aprovadas desde a gestão Temer;
(v) ganhos de produtividade associados a mudanças do mercado de trabalho no pós-pandemia.
Você pode escolher suas razões preferidas, e eu posso escolher as minhas. No entanto, só o tempo é quem dirá com segurança.
Conforme escreveu Samuel Pessoa na Folha, "É possível que a taxa de crescimento da produtividade do trabalho seja maior do que imaginamos. É impossível saber com antecedência”.
Samuel está certo, mas devemos tomar cuidado com a tentação de apenas sentar e esperar.
O impossível epistemológico que limita naturalmente o trabalho científico do economista nem sempre se aplica aos imperativos práticos do financista.
Bons economistas estão interessados em saber a verdade determinística, e topam esperar até que ela se revele no laboratório da vida, sob altos níveis de confiança empírica.
Já para os financistas, o tempo custa caro demais. Eles precisam aceitar uma verdade em formação (fragmentos de verdade) se quiserem ambicionar os ganhos de uma aposta assimétrica.
Em suma, o economista está mais curioso em saber por que funciona, enquanto o financista se preocupa em descobrir rapidamente o que funciona.
Parece óbvio que essas duas coisas andam melhor quando combinadas, e isso explica o sucesso de departamentos de research nos quais a paciência e a pressa coexistem.
No limite, porém, devemos entender a hierarquia ditada pela necessidade/vontade de ganhar dinheiro: o financista deve fazer já uma aposta verossímil, enquanto o economista trabalha para validá-la ou refutá-la ao longo dos próximos meses e anos.
É impossível saber no antecedente, mas é impossível também lucrar no sucedente.