O ano de 2019 vai chegando ao fim e ficam as especulações e a grande pergunta sobre o próximo ano, fundamentalmente, o que pode acontecer com a economia e o mercado acionário. Convém lembrar que, a alta até aqui do índice Bovespa e batimento de recordes aconteceu por conta do reposicionamento dos investidores locais.
Ainda faltando pouco mais de um mês para término do ano, a Bovespa mostra valorização de cerca de 24% (até 25/11), mas também mostra fluxo de recursos de investidores estrangeiros negativo em algo como R$ 35,5 bilhões, situação que não foi vista nem em 2008/2009 quando a crise do subprime fez o PIB de quase todos os países do mundo encolher.
Essa alta do mercado local, como dissemos, se dá basicamente por conta do reposicionamento das aplicações de investidores locais, insatisfeitos que estão com a remuneração produzida pelas aplicações em renda fixa, como decorrência da queda da inflação e da taxa de juros; e ainda do baixo nível de atividade da economia.
A pergunta que fica é: como o governo de Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes lidará com o Congresso Nacional e as inúmeras reformas e medidas que ainda têm de serem tomadas para ordenar principalmente a situação fiscal precária? A previsão para 2019 era de déficit da ordem de R$ 139 bilhões e, segundo o governo, deveremos terminar o ano com déficit de algo próximo de R$ 80 bilhões, mas fruto de receitas extraordinárias obtidas, e não exatamente da contenção de despesas. Aliás, nesses últimos tempos o governo tem descontingenciado o orçamento e liberado verbas para ministérios e políticos, no afã daquele jogo não cooptado inicialmente do “toma lá e dá cá”.
O governo caiu na real de que sem a “benevolência” dos parlamentares não será possível reformar na profundidade e celeridade necessárias. A última semana foi o exemplo vivo disso, com a reforma administrativa praticamente passando para 2020, assim como a tributária, prisão após julgamento em segunda instância, autonomia do Banco Central, etc. Com isso, sem os efeitos não recorrentes de liberação de verbas, liberação de recursos do FGTS para tentar acelerar consumo, as previsões para o resto do ano e início do próximo seriam danosas. Esse é o lado negativo.
Do lado positivo, as empresas brasileiras já estavam adaptadas (com raras exceções) para a contração da economia nesses últimos anos (dois anos de profunda recessão e três de crescimento pífio do PIB). Conseguiram desalavancar suas estruturas e estão mostrando boas recuperações de resultados. Caso a economia consiga mesmo crescer os 2,20% previstos pela última pesquisa semanal Focus do Bacen, ou até mais se tivermos sucesso na aprovação das reformas, seria lícito supor que os lucros devem ter forte impulsão, dado que os resultados tendem a mostrar grande elasticidade em relação à expansão do PIB.
Bom, além dos ajustes internos requeridos que dependem dos Três Poderes, vamos ter que ficar na torcida pela economia global, essa na dependência dentre muitos outros fatores, do acordo comercial entre EUA e China e do Brexit. Mas esses, parece no momento bem encaminhado para não trazer constrangimento maior para a economia global. A percepção é de que guerra comercial não convém para nenhum país, muito menos para às duas maiores economias do planeta.
Se tudo isso se desenrolar como descrito, haveria maior espaço para expansão do mercado secundário de ações no país e com reformas entraríamos novamente no radar dos investidores estrangeiros. Na nossa visão, o Brasil estaria barato para os investidores externos e teríamos demonstrado segurança jurídica para investimentos de mais longo prazo, seja em plantas novas e infraestrutura (o ideal), aquisições ou mesmo concessões que serão abertas.
Com isso haveria espaço para valorização das empresas negociadas em Bolsa, abrindo caminho para novos IPOs e Follow-ons, iniciando dinâmica positiva para a economia.
Como diria Søren Kierkegaard: “Um pouco de possível, senão sufoco.”