O dólar recuperou parte das perdas contra o euro na terça-feira, após falas mais duras de várias autoridades do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA). Os comentários ajudaram a moeda americana a se estabilizar, depois de atingir a mínima de 7 meses frente à divisa europeia.
A recente queda do dólar foi gerada por dúvidas, entre os participantes do mercado, de que o Fed terá que elevar as taxas de juros além de 5% para conter a inflação. Essas dúvidas foram alimentadas por dados que mostraram uma desaceleração no crescimento salarial, apesar da forte geração de empregos em dezembro, bem como por uma redução da atividade de serviços.
Consequentemente, os investidores agora estimam que os juros atingirão o pico um pouco abaixo de 5% em junho, antes de começar a declinar no segundo semestre do ano. Isso ocorre apesar do CEO do JPMorgan (NYSE:JPM), Jamie Dimon, uma das mentas mais brilhantes de Wall Street, instar o banco central a elevar os juros além de 5%.
Fed reitera sua mensagem, mas o mercado não lhe dá ouvidos
Diversas autoridades do Fed, como os presidentes das sucursais de Atlanta, Raphael Bostic, e de São Francisco, Mary Daly, ainda acreditam que os juros devem continuar elevados, contribuindo para sua perspectiva incerta.
“Vamos ter que manter a nossa determinação”, disse Bostic ao Rotary Club de Atlanta na segunda-feira. Quando perguntado pelo moderador quanto tempo ele considerava que os juros ficariam acima de 5%, Bostic respondeu: “Três palavras: um longo período”.
“Não costumo mudar radicalmente minha posição. Acho que devemos fazer uma pausa e aguardar, para deixar a política trabalhar”.
Valentin Marinov, diretor da G-10 FX Research e de estratégia do Credit Agricole (EPA:CAGR), disse que o mix continua “positivo o suficiente para o Fed” continuar elevando os juros.
“Dessa forma, acredito que qualquer correção para baixo no USD deve ser restrita, com os investidores aproveitando correções na moeda antes de Powell e do IPC na próxima semana”, acrescentou.
O foco em discursos de autoridades do Fed continuará intenso, com os investidores se preparando para ouvir as declarações de Jerome Powell, na tentativa de ter uma ideia melhor dos planos de política monetária do banco central.
Aumentam apostas do mercado em uma “virada” do Fed, após relatório de empregos
A moeda americana registrou seu maior declínio em mais de três semanas, depois da divulgação do último relatório de empregos nos EUA, alimentando esperanças de que haverá altas de juros menores daqui para frente. Os números mostraram um crescimento salarial abaixo das expectativas e uma grande queda na atividade de serviços dos EUA, o que fez com que o índice do dólar à vista da Bloomberg alcançasse o ponto mais baixo desde meados de dezembro.
Erik Nelson, estrategista do Wells Fargo (NYSE:WFC), acredita que os dados de emprego foram robustos em termos de números de emprego, mas “o fato de que os salários não continuaram subindo com intensidade mantém o USD com um pé atrás no momento”. Dito isso, os analistas esperam que a moeda americana continue em tendência de baixa no próximo mês.
O relatório mostrou que os EUA criaram um grande número de empregos em dezembro de 2022, reduzindo a taxa de desemprego para a mínima pré-pandemia de 3,5%, intensificando a escassez de mão de obra. O relatório de empregos também mostrou que o emprego doméstico aumentou em 717.000 postos de trabalho no mês passado, sugerindo que a batalha contra a inflação está longe de acabar.
O grande aumento ocorre depois de uma série de recuos no emprego doméstico, o que suscitou especulações de que o relatório de folhas de pagamento estaria superestimando o crescimento da taxa de ocupação. Os empregos urbanos tiveram uma alta de 223.000 em dezembro, menor aumento em dois anos. De acordo com economistas, o atual crescimento do emprego nos EUA é mais do que o dobro da meta de 100.000 do Fed.
Mudança de foco para o IPC
Os dirigentes do Fed também disseram que qualquer mudança na política monetária dependeria de novos dados de inflação, que serão divulgados amanhã. Um possível aumento de 25 pontos-base marcaria uma queda significativa no tamanho das elevações de juros pelo Fed, após quatro altas consecutivas de 75 pontos-base no ano passado.
Se os dados do IPC respaldarem a visão de desinflação do último relatório de empregos mensal, o banco central teria que optar por uma elevação de 25 pb.
“Eventualmente, prefiro um aumento de 25 pontos-base. O momento específico disso dependerá dos próximos dados”.
Da mesma forma, a presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, disse que aumentando tanto de 25 quanto de 50 pontos-base estava “sobre a mesa” para a reunião de política monetária do Fed de 1 de fevereiro. Ambas as autoridades acreditam que a taxa básica deva aumentar na faixa de 5-5,25%, em relação à atual de 4,25-4,5%, a fim de controlar a inflação.
Conseguir fazer isso de forma gradual permitiria que o banco central respondesse adequadamente às novas informações e incorporasse os efeitos defasados do aumento do custo do crédito na economia mais ampla, acrescentou Daly.
A última reunião de política monetária do Fed não emitiu sinais de possíveis cortes nas taxas em 2023, ao contrário das expectativas atuais do mercado de que o banco central comece a cortar as taxas no segundo semestre do ano. Dada a relação entre as taxas de juros do Fed e as moedas globais, a política do banco central americano para 2023 não afetaria apenas o dólar, mas também o mercado de câmbio internacional, incluindo os mercados emergentes.
Conclusão
Após o último relatório de empregos apontar para uma desaceleração do crescimento salarial, alimentando apostas de “virada” no posicionamento do Fed, os investidores estão agora mudando o foco para o próximo relatório do IPC, que deve ser divulgado nesta quinta-feira. Um declínio maior que o esperado da inflação em bases anuais e mensais abriria espaço para mais um rali nas ações e faria o dólar atingir novas mínimas de vários meses.
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Shane Neagle é responsável pelo The Tokenist. Confira a newsletter gratuita do The Tokenist, Five Minute Finance, para ter uma análise semanal das maiores tendências em finanças e tecnologia.