O Banco Bradesco (BVMF:BBDC4) apresentou um bom desempenho financeiro no quarto trimestre de 2024, com lucro líquido recorrente de R$ 5,4 bilhões, que representou avanço de 87,7% em relação ao mesmo período do ano anterior. Esse crescimento veio acompanhado de uma expansão de 11,9% na carteira de crédito e uma melhora na margem financeira líquida, que saltou 70,1% ano a ano, refletindo uma gestão mais eficiente dos ativos e um ambiente de menor inadimplência. Além disso, os números superaram ligeiramente as projeções de mercado, reforçando a capacidade do banco de entregar resultados consistentes mesmo diante de desafios macroeconômicos.
No entanto, a instituição sinaliza uma desaceleração no ritmo de crescimento da carteira de crédito para 2025, projetando uma expansão entre 4% e 8%, inferior ao avanço registrado em 2024. Ao mesmo tempo, o Bradesco tem reestruturado sua operação física, reduzindo significativamente o número de agências e pontos de atendimento, o que indica um foco maior na digitalização e eficiência operacional. Enquanto a rentabilidade melhora, com o ROAE (ROE médio do ano) atingindo 12,7%, o banco também enfrenta desafios como o controle da inadimplência e a adaptação a um cenário competitivo mais acirrado no setor bancário. O panorama pode ter afetado a cotação, que apesar dos números positivos vem caindo -0,25% desde o balanço e tem queda de -23,9% nos últimos seis meses -- mas um desempenho ainda positivo em 2025 (+4,8%).
Utilizando as ferramentas avançadas do InvestingPro, vamos entender como se posiciona o Bradesco para o futuro após o último resultado divulgado.
Preço-Justo
Com última cotação em R$ 11,95, o preço-justo da ação preferencial do Bradesco calculado pelo InvestingPro é de R$ 15,44. Isso aponta uma potencial valorização de 29,2% para os próximos 12-18 meses, de acordo com três modelos de valuation. O modelo do P/VPA é o mais otimista (R$ 16,11) e identifica se a empresa está sendo negociada acima ou abaixo de seu patrimônio líquido. Já o modelo de P/L é o menos otimista (R$ 14,86) e avalia se a empresa está subvalorizada ou supervalorizada comparada a seus pares. Já a média do preço-alvo de 13 analistas é de R$ 15,17, um pouco mais pessimista que a ferramenta, mas ainda com upside de 26,9%.
Saúde Financeira
A nota geral de saúde financeira do Bradesco não é muito boa: 2,09 (C) e abaixo da média de 2,75. A categoria mais bem avaliada é a de Valor Relativo, que agrega diferentes indicadores de valuation. O P/L é de 7,0x, mas o P/L Ajustado (mais preciso para avaliar o valuation de uma empresa porque foca no lucro real recorrente eliminando possíveis distorções no lucro líquido) está ainda melhor em 5,5x. Já o P/VPA de 0,7x também é atrativo, e está negociando a 78,8% da média dos últimos três anos para a métrica na empresa. Outros múltiplos interessantes são o Earnings Yield (retorno sobre os lucros) de 18,1% e a relação Preço/Vendas (últimos 12 meses) de 1,5x. Em geral, tudo isso indica que o banco está descontado em relação a concorrentes.
Já a categoria mais preocupante é a de Fluxo de Caixa, com nota de 1,48. A relação Dívida Total/Capital Total de 85,3% é alta e maior que a dos principais competidores. Já a relação Dívida/Patrimônio Líquido de 419,1% mostra que a dívida é 4,19x maior que o patrimônio do banco. A Alavancagem Financeira de 12,3x também é alta, enquanto a relação Passivos Totais/Ativos Totais mostra que 91,8% dos ativos são financiados por passivos, mostrando dependência do capital de terceiros. O contexto indica risco financeiro elevado e menor capacidade de responder à cenários adversos.
Análise SWOT
Forças (Strengths)
- Posição de mercado forte: Uma das maiores instituições financeiras do Brasil com ativos totais de R$ 2,07 trilhões, pagadora consistente de dividendos, com yield atual atraente de 7,9%.
- Estabilidade financeira: Saudável relação P/L de 7,0x, indicando uma avaliação relativamente baixa; lucro líquido positivo de R$ 17,25 bilhões no exercício de 2024; melhora no ROE para 10,3% no exercício de 2024 comparado a 8,7% no exercício de 2023.
- Marca forte e tradição: O Bradesco preserva a tradição de bem-servir os clientes, fortalecendo sua marca e renovando sua vocação de parceria e confiança com os brasileiros.
- Crescimento da carteira de crédito: A carteira de crédito expandida alcançou R$ 981,7 bilhões, com aumentos significativos em pessoa física (+13,3%) e micro, pequenas e médias empresas (+28,0%).
- Investimentos em inovação: O Bradesco está envolvido em diversas iniciativas de ativos digitais, incluindo projetos com o Banco Central do Brasil para criar uma infraestrutura financeira tokenizada. O banco foi reconhecido como "Vencedor Global" em inovação digital financeira pela revista The Banker.
- Presença internacional: O Bradesco possui agências e escritórios de representação em diversos países, como Nova York, Grand Cayman, Hong Kong, Guatemala, Miami, México, Luxemburgo e Londres. Além disso, oferece a My Account, uma conta internacional e digital própria.
- Governança corporativa: O Banco observa e estimula as boas práticas de governança corporativa, zelando pelos interesses dos acionistas e demais stakeholders. A estrutura de gerenciamento de riscos é robusta e alinhada com os principais frameworks internacionais.
- Reconhecimento em sustentabilidade: As ações do Bradesco participam de índices de sustentabilidade, como o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3 (BVMF:B3SA3).
- Ações com nível elevado de liquidez: As ações preferenciais representavam 3,0% do Ibovespa no final de 2024.
Fraquezas (Weaknesses)
- Desafios operacionais: Tendência de declínio na margem de lucro líquido (de 25,5% em 2022 para 21,9% em 2024); posição significativa de dívida líquida de R$ 465 bilhões.
- Problemas de fluxo de caixa: Alta taxa de queima de caixa e baixo rendimento de fluxo de caixa livre (-77,2%) implícito pela avaliação atual.
- Resultado com aplicações em títulos e valores mobiliários: O relatório aponta um resultado negativo de R$ -3,155 bilhões em 2024.
- Perdas líquidas de ativos e passivos financeiros ao valor justo por meio do resultado: Um total de R$ -2,25 bilhões.
- Ativos financeiros ao valor justo por meio de outros resultados abrangentes: Perdas não realizadas de R$ - 9,56 bilhões.
- Resultado de seguros e previdência: Efeito das variações nas taxas de juros de R$ -3,92 bilhões.
Oportunidades (Opportunities)
- Potencial de crescimento: Preço-justo de R$ 15,44 sugere potencial de alta de 28,7% e preço-alvo médio dos analistas de R$ 15,17 indica potencial de alta de 25,2%; há crescimento esperado de receita de 8,2% para o exercício de 2025.
- Recuperação do mercado: Negociando abaixo do valor contábil (relação P/VPA de 0,7x) sugere potencial para valorização; Beta de 0,64 indica menor volatilidade em comparação ao mercado.
- Expansão da parceria na área de saúde: A expansão da parceria com a Rede D’Or está alinhada com a estratégia da Atlântica de investir na cadeia de valor do setor de saúde.
- Crescimento da economia: A atividade econômica apresentou crescimento em 2024.
- Ativos digitais e tokenização: O Bradesco está participando da 2ª fase do DREX, explorando a tokenização de CDBs e debêntures.
- Identidade digital descentralizada: O desenvolvimento de soluções de identidade digital descentralizada com a IDbra pode trazer praticidade e segurança para os clientes.
- Crescimento global: Assuntos relacionados ao crescimento global podem trazer oportunidades.
Ameaças (Threats)
- Riscos relevantes: Solvência e rentabilidade, liquidez, crédito, mercado, operacional, compliance, segurança cibernética, estratégia, social, ambiental, climático, modelo, contágio, reputação e subscrição.
- Riscos de mercado: Ações caíram 7,6% no último ano; rebaixamentos de analistas para o próximo período (dois analistas revisaram para baixo os ganhos) e dívida total alta de R$ 705,77 bilhões.
- Riscos emergentes: Assuntos relacionados ao crescimento global, questões geopolíticas internacionais e a situação econômica e fiscal brasileira.
- Inovação tecnológica: Riscos representados pela inovação tecnológica em serviços financeiros.
- Desaceleração da economia: A expectativa é de desaceleração da economia brasileira a partir do segundo semestre de 2025.
- Desvalorização cambial: A forte desvalorização do câmbio nos últimos meses.
- Concorrência e mudança regulatória: Mudanças no mercado em que um negócio opera (ex: concorrência e mudança regulatória)
- Pressão competitiva: Operando em um setor bancário brasileiro altamente competitivo, com necessidade de manter inovação tecnológica para competir com fintechs.
A análise SWOT do Bradesco destaca sua posição de mercado forte, sustentada por uma base sólida de ativos, crescimento da carteira de crédito e investimentos em inovação, além de sua governança corporativa robusta. No entanto, o banco enfrenta desafios operacionais, como a tendência de queda na margem de lucro líquido e perdas financeiras com aplicações e ativos. As oportunidades incluem um potencial de valorização das ações, expansão no setor de saúde e participação ativa na tokenização de ativos e identidade digital descentralizada. Por outro lado, ameaças como riscos de mercado, concorrência crescente das fintechs, inovações tecnológicas disruptivas e a possível desaceleração da economia brasileira podem impactar seu desempenho futuro. Dessa forma, o banco precisa equilibrar suas vantagens competitivas com a gestão eficiente dos desafios e riscos para sustentar seu crescimento.
Dados Rápidos
Valor de Mercado: R$ 121 bilhões
Upside do Preço-Justo: +29,2%
Saúde Financeira: 2,09 (C)
Dividend Yield: 7,9%
P/L: 7,0x
P/VPA: 0,7x
Lucro Líquido (2024): R$ 19,5 bilhões
Margem Líquida: 21,9%
ROE: 10,3%
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OBS: Dados coletados em 20 de fevereiro de 2025