Esta semana será marcada pela 'Super Quarta', que trará decisões de política de juros tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. No Brasil, o ciclo de corte de juros já foi antecipado, iniciando na reunião de agosto e continuando na última reunião, totalizando dois cortes de 0,50 ponto percentual. Enquanto isso, na economia dos Estados Unidos, as Fed Funds permaneceram na faixa de 5,25% a 5,50%.
No caso do Brasil, a decisão do Banco Central é fortemente influenciada pela inflação, tanto a inflação corrente como as expectativas de inflação, especialmente para os próximos dois anos, período em que os efeitos das políticas econômicas na inflação podem ser efetivamente observados.
Olhando para o último Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgado, referente ao mês de setembro, a inflação aumentou 0,26% em relação ao mês anterior, ficando abaixo da expectativa de 0,34% em termos mensais. No acumulado do ano, o IPCA atingiu 3,50%, enquanto nos últimos 12 meses registrou um aumento de 5,19%.
Do ponto de vista qualitativo, o desempenho mensal revela um cenário positivo, destacado pela redução do índice de difusão de 53% para 43%. Isso significa que a inflação se concentrou mais na passagem do mês entre os bens e serviços da cesta de inflação. Também foi observada uma dinâmica mais favorável no núcleo do IPCA, que exclui alimentos e energia, com aumento de 4,69% nos últimos 12 meses, em comparação com os 4,73% observados em agosto. Essas informações sugerem, portanto, menores pressões inflacionárias a curto prazo.
Fonte: IBGE
Entretanto, é digno de destaque o avanço da inflação de serviços, que registrou um aumento de 0,50%, em comparação com os 0,08% do mês anterior, acumulando 5,54% nos últimos 12 meses. Isso pode ser atribuído a dois fatores: um mercado de trabalho mais favorável e a política monetária contribuindo para um controle mais efetivo da inflação, ambos impulsionando o aumento do poder de compra da população.
Dessa forma, o balanço de riscos converge para um cenário inflacionário mais favorável, com a expectativa do IPCA no fim de 2023 abaixo do limite máximo da meta de inflação, de 4,75%, corroborando para a continuidade do ciclo de redução da taxa Selic nas próximas reuniões do ano.
No entanto, o cenário da inflação de serviços, assim como os próximos passos do banco central americano, não abrem espaço para cortes de maior magnitude, ou seja, a expectativa é de manter dois cortes de 0,50 ponto percentual, encerrando 2023 em 11,75% ao ano.
Federal Reserve deverá manter os juros na próxima quarta-feira
Nos Estados Unidos, a decisão do Federal Reserve é determinada com base em um duplo objetivo: inflação e emprego. Quando observamos os dados de inflação, podemos notar que o processo de desinflação no núcleo do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) americano é um sinal importante de que a inflação está perdendo força. Em setembro, a taxa acumulada em 12 meses chegou a 4,13%, em comparação com os 4,39% observados no mês anterior. Quanto ao IPC cheio, atingiu 3,69% em setembro, frente à taxa de 6,4% verificada em janeiro deste ano.
Por um lado, observamos um sinal positivo no cenário inflacionário, entretanto, por outro lado, é evidente que o IPC ainda permanece distante da meta de 2% ao ano. Além disso, notamos que o mercado de trabalho continua resiliente, com a taxa de desemprego em 3,8%, um patamar próximo ao pré-pandemia de 3,5%, além do aumento da taxa anualizada de 4,2% no salário médio por hora.
Esses dados explicam o vigoroso consumo na economia americana, refletido no crescimento do PIB do terceiro trimestre, que atingiu uma taxa anualizada de 4,9%, superando os 2,1% registrados no segundo trimestre. No entanto, esse conjunto de informações é o que os economistas costumam caracterizar como 'bom, mas não é bom'."
Em outras palavras, podemos observar que a transmissão eficaz da política monetária contracionista para desacelerar a economia americana e trazer a inflação para a meta ainda não foi totalmente realizada. Isso coloca o Federal Reserve diante de um dilema, tendo que escolher entre elevar ainda mais as taxas de juros nos Estados Unidos ou mantê-las no atual patamar ao longo dos próximos dois trimestres.
Afinal, o que esperar do Fed na próxima quarta-feira e por que essa decisão? Ao observar as expectativas do mercado, o Monitor da Taxa de Juros do Federal Reserve aponta uma probabilidade de 98% de que as Fed Funds permaneçam inalteradas.
Neste contexto, uma possível razão para a manutenção, e não um novo aumento, pode ser justificada pelo aumento dos custos dos empréstimos, tanto para as empresas quanto para as famílias, o que resultaria em um aumento das despesas financeiras e na redução da renda disponível, respectivamente, contribuindo negativamente na dinâmica econômica.
Mesmo que, no curto prazo, ainda se observe um consumo vigoroso, que pode ser explicado por diversos motivos, como o mercado de trabalho positivo e o ganho real dos salários acima da inflação, destaco o aumento da poupança das famílias durante o período de juros baixos. Contudo, de acordo com o gráfico abaixo já se pode observar indícios de desaceleração. Esses indícios podem ser percebidos por meio de agregados monetários, como o M2, que corresponde à poupança com prazo de até dois anos.
Por fim, na decisão do Fed sobre se as taxas de juros são um remédio para a inflação ou um veneno para a economia, as evidências de uma desaceleração da economia americana tornam-se cada vez mais plausíveis. Isso ocorre de maneira gradual, conforme planejado e esperado pela autoridade monetária americana, reforçando as expectativas de que as taxas de juros serão mantidas na próxima quarta-feira. No entanto, ainda se espera que as Fed Funds se mantenham em níveis elevados até que se observe uma desaceleração mais acentuada, a qual, de acordo com as projeções, poderá se tornar visível a partir dos dados do segundo semestre de 2024.