Com Alex Ferreira*
Nossa compreensão dos movimentos do câmbio se baseia em modelos de finanças internacionais. Basicamente, devemos considerar dois pilares teóricos: a paridade do poder de compra e a paridade das taxas de juros. Com eles, podemos explicar como diversas variáveis econômicas afetam o câmbio.
Para as dinâmicas de longo prazo, baseamo-nos na teoria da paridade do poder de compra. Essencialmente, dois bens homogêneos devem ter o mesmo preço quando denominados na mesma moeda e negociados livremente. É o que chamamos de “lei do preço único”, a qual sugere que as mudanças nas taxas de câmbio devem igualar a diferença de inflação entre duas economias. Quando olhamos o comportamento do câmbio ao longo do tempo, essa é a principal variável que devemos considerar.
Mas para explicar as dinâmicas de curto prazo, utilizamos a paridade das taxas de juros. Essa teoria baseia-se no princípio da arbitragem, pelo qual os ganhos esperados de investimentos em diferentes moedas devem ser iguais uma vez que os custos de transação e os riscos sejam descontados. Por exemplo, suponha que um investidor considere comprar um título nos EUA ou no Brasil. Ao avaliar a taxa de câmbio esperada, o investidor descobre que o retorno esperado, ajustado pelo risco, é maior para o título dos EUA, atraindo dólares do Brasil e levando à depreciação do real.
Dado o grande tamanho do mercado de câmbio, ajustes nas taxas de câmbio podem ocorrer com grande velocidade. Portanto, qualquer fator que altere o retorno esperado nesses países afetará o câmbio quase que imediatamente. Isso inclui mudanças em fatores de risco e expectativas quanto à política monetária dos EUA.
O Federal Reserve tem enfrentado um dilema com relação à inflação. Dados aquecidos do mercado de trabalho e PIB têm atrasado o movimento esperado de queda das taxas de juros americanas. Isso explica um retorno esperado maior para investir nos EUA, fortalecendo o dólar e enfraquecendo as moedas das economias emergentes, como o real.
Outro fator que pressiona essas moedas é o risco percebido de sustentabilidade da dívida. Por exemplo, o Brasil tem lutado para manter uma posição de controle de gastos. Isso eleva o risco de investimentos no Brasil, reduzindo o investimento externo e, mais uma vez, depreciando o real.
Por fim, devemos considerar os eventos políticos. Por exemplo, as próximas eleições nos EUA podem mudar o cenário geopolítico de comércio. Um aumento do protecionismo devido a essas eleições pode impactar as moedas das economias emergentes. Por exemplo, restrições dos EUA a algumas importações chinesas poderiam beneficiar países como o Brasil, redirecionando fluxos comerciais. Por outro lado, políticas protecionistas em relação à nossa economia poderiam afetar negativamente o real.
Compreender a dinâmica das taxas de câmbio em economias emergentes requer conhecimento dos pilares das finanças internacionais. Ao analisar fatores como a política monetária dos EUA, a sustentabilidade da dívida e os eventos políticos, podemos entender e antecipar tendências.
*Alex Ferreira é Professor Associado da USP-RP