Apesar de 2020 não ter sido um ano nada fácil para ninguém, ele também foi um período de bastante aprendizado.
Foram muitas coisas novas, até para quem já era macaco velho nesse mundo dos investimentos. A verdade é que todos nós crescemos muito como investidores, não tenho a menor dúvida disso.
Felizmente, esse ano maluco passou e com ele ficaram lições para tomarmos decisões mais assertivas para os nossos investimentos em 2021. O meu objetivo hoje é compartilhar algumas das minhas percepções, mostrando pontos importantes aos quais precisamos nos atentar em 2021.
Ano novo, vida nova, né? Vamos buscar não cometer mais os mesmos erros e não passar pelos mesmos desesperos. Me acompanhe!
Caixa é rei
Quando 2020 começou, quem imaginava que teríamos uma queda de 120 mil pontos para pouco mais de 60 mil pontos em tão pouco tempo?
Fonte: Bloomberg
Muitos podem ter “panicado” ao ver a bolsa caindo em tamanha intensidade, achando que o mundo realmente iria acabar.
Naquela época, você deve se lembrar que todo dia experimentamos um novo circuit breaker. Pois é, nós vivemos isso e com certeza saímos mais vivos e fortes.
Entendo que se trata de uma situação bem delicada, pois é o nosso dinheiro que está em jogo! Quem não ficou aflito em ver o patrimônio diminuindo dia após dia?
Acho que todos nós.
Mas ao invés de pensar somente assim, como uma adversidade total, por que não enfrentamos situações como essa entendendo que podem ser oportunidades para ganhar dinheiro?
Muita coisa caiu, mas não perdeu nenhum fundamento! Diversos nomes óbvios, inclusive.
Em alguns casos, ficou a sensação de que 2020 foi um ano normal.
Por isso, quem teve caixa e soube aproveitar os pontos de entrada que 2020 possibilitou deve ter levado uma boa rentabilidade para casa.
Em meio a tanto caos, a maneira como sempre gosto de pensar é: nos níveis atuais de preço, o valuation faz sentido? A queda expressiva no preço de tela justifica alguma mudança futura nos fundamentos da Empresa?
Note que fazer essa reflexão é muito diferente de sair comprando qualquer coisa! Muito pelo contrário: é justamente fazer esses questionamentos desenvolvendo o senso crítico de análise, de forma a verificar se existe uma assimetria convidativa que valha o aporte.
É assim que penso e é assim que eu gostaria que você pensasse também. Lembre-se: estamos aqui para ajudar sempre! Questione-se mais e mais!
Portanto, daqui em diante, use o caixa (o seu dinheiro de curto prazo) para aproveitar as oportunidades que o mercado te proporciona. Afinal, uma coisa é certa: todo dia tem mercado e, de tempos em tempos, as barganhas sempre aparecem.
O seu caixa pode até ser pensado como uma opção. Você paga um prêmio para tê-lo (o rendimento baixo), mas fará toda a diferença na hora das quedas. Portanto, sempre tenha caixa!
Aloque em bolsa somente o que o seu estômago permitir
Muitos me perguntam qual a parcela ideal para se ter em bolsa. Costumo dizer que não existe resposta correta.
E isso não é em virtude de preguiça ou falta de conhecimento. Na verdade, é porque varia de acordo com uma série de parâmetros, tais como: apetite, fôlego e objetivo individual de investimentos. Para cada um funciona de um jeito diferente, simples assim!
Apesar disso, também não sou a favor dos extremos: não ter nada em bolsa ou ser completamente tomado em bolsa.
Mas tem algo que me ajuda bastante a pensar no “percentual ideal”.
Considerando que bolsa é renda variável – peço perdão pela redundância, mas que varia tanto para cima quanto para para baixo –, você conseguiria dormir tranquilo se, do dia para a noite, o que você tem nessa classe de ativos caísse pela metade?
Se a sua resposta for sim, acredito que o que você tem em bolsa dentro do seu portfólio está adequado. Se a sua resposta for não, acho que é hora de repensar a sua alocação.
Certamente, o que vivemos ao longo do ano de 2020 nos proporcionou um baita exercício para refletir isso. Não é só de flores que o mercado vive, e é importante saber até onde cada um aguenta quando a água está batendo.
Por isso, daqui em diante, tenha em bolsa somente o que o seu estômago permitir.
Não faça preço-médio só por fazer
Antes de sair fazendo preço-médio, ou “preço-mérdio”, para os mais íntimos, pense na exposição desejada do ativo dentro da sua carteira.
Se você sair fazendo preço-médio com as correções que o mercado proporciona só para reduzir o seu custo de aquisição em uma determinada ação, mas sem pensar na exposição desejada, você corre o risco de ter mais do que deveria e/ou gostaria no ativo.
E aí, o resultado pode ser um desbalanceamento da sua carteira por completo, o que não é nada bom.
Tenha a disciplina de respeitar as exposições desejadas e/ou recomendadas. Se isso porventura já tiver sido atingido no momento, não faça nada.
Muita gente tem mania de sempre querer estar fazendo alguma coisa na carteira, com um certo desespero e ansiedade frente aos fluxos de mercado.
É claro que é sempre bom revisitar premissas e expectativas e reavaliar a posição da tese no portfólio, o que poderia implicar em alguma mudança (vamos falar disso mais abaixo).
Mas vejo que, diversas vezes, não fazer nada é na verdade fazer muita coisa.
Focando no mundo real
A velocidade das empresas no mundo real é muitíssimo diferente do pisca-pisca que você observa no seu home broker.
Eu, como Analista Fundamentalista de Empresas, acredito em uma convergência entre preço e resultados (fundamentos). Mas tenho em mente que isso não necessariamente se dá de uma hora para outra.
Somente para mostrar um exemplo, veja o gráfico de Preço vs. Lucro a seguir (no caso, de ITUB4 entre 2014 e 2016), em que claramente é possível observar uma distorção entre preço e valor.
Em branco: Preço; Em azul: Lucro por Ação. Fonte: Bloomberg
Olhando mais para o meio do período reportado, de um lado observamos lucros (fundamentos) crescendo; de outro, preços em queda.
E aí eu me pergunto: será que o gigante banco Itaú retrocedeu no mundo real nesse período? Creio que não tenha sido o caso. Obs.: Isso não é uma recomendação de COMPRA para ITUB4.
Por isso, é importante focar nos fundamentos e pensar de fato sobre o que acontece no dia a dia das Empresas. Não olhe nunca para os preços de forma isolada.
Revisitando teses
Em linha com o que acabamos de discutir acima, acho que deu para entender que é bastante importante revisitar as suas teses de investimento de tempos em tempos.
Nesses momentos, é hora de se perguntar: como estão as expectativas de resultado futuro? O que estava esperado foi de fato realizado? Nos níveis atuais de preço, a tese continua fazendo sentido frente ao que ela vai entregar? Como está o andamento das diretrizes traçadas pela gestão? Houve alguma mudança de fundamento no meio do caminho?
Há muitos outros questionamentos. De qualquer forma, este é o lema: estudar as teses e sempre se questionar.
Por isso não recomendo que você somente monte uma carteira com bons ativos e simplesmente esqueça que ela existe.
Os fundamentos podem mudar! Jamais tenha a visão míope de achar que se a tese veio colhendo bons frutos até aqui, daqui em diante ela seguirá da mesma forma.
Entre em 2021 com o pé direito
Espero que, de alguma forma, esse texto tenha sido de algum proveito para que você possa evoluir como investidor em 2021.
É sempre muito interessante buscar aprender mais e mais e se tornar um investidor cada vez melhor. Eu, Guilherme Tiglia, busco isso para a minha trajetória.
Desejo um excelente 2021 para vocês. Até a próxima!
Forte abraço