Recentemente tenho observado um movimento grande desacreditando o que seriam os preços-alvo calculado pelos analistas para as ações.
Pudera, com a hecatombe no mercado, preços alvo antigos de ações que caíram 90%, agora indicam altas potenciais de 400% e parecem não fazer sentido – pelo menos à primeira vista.
Outro motivo para o descrédito está nas contínuas revisões destes preços alvo pelos analistas, que dão aquela sensação aos clientes de que o preço alvo segue a cotação das ações.
Na teoria, o preço das ações deveria convergir para o preço alvo, e não o contrário.
Antes de você jogar tudo para o alto. Deixa eu te falar uma coisa: quando a economia oscila mais que uma montanha russa, é de se esperar que o mesmo ocorra com os preços alvo das ações.
Eu explico: em três anos eu e você vimos e vivemos o inimaginável:
Eu vi, o petróleo ser vendido a menos que US$0 – isso mesmo, negativo – algo que nunca tinha ocorrido antes, para ir preços maiores que US$130.
Eu vi o país com uma das taxas de juros mais altas do mundo levar a Selic a 2%, para depois voltar a 13%, em meses.
Estamos falando de premissas que tem variado de forma extrema, por uma pandemia que não ocorria assim há 100 anos.
A injeção de dinheiro na economia para conter o impacto do “fique em casa” também nunca tinha ocorrido na história.
A última vez que vimos algo parecido, mas nem de longe na mesma proporção, foi na Segunda Guerra Mundial.
Ou seja, para a economia, a pandemia foi muito, mas muito pior que a maior guerra da modernidade.
Temos também a guerra da Ucrânia no meio do caminho e vivemos numa espécie de Guerra Fria 2.0, explodindo o preço das commodities.
Agora você vai entender porque a ação que podia valer R$50 agora tem o preço alvo reduzido para R$25.
A ferramenta mais poderosa para estimar o desempenho das ações e mais utilizado pelos analistas para calcular é o Valuation via fluxo de caixa descontado.
Calma, não vá embora, prometo que este teto não vai ficar insuportável e técnico.
O Valuation, não é magia, é matemática.
Ele não é só usado para calcular quanto podem valer as ações.
Eu mesma já o utilizei para fazer para modelagem financeira de concessões, cálculos de fusões e aquisições (M&A), calcular quanto a empresa compradora pagará e por quanto a empresa vendedora pode pedir por seu negócio e para medir o valor de retorno de um projeto.
O preço alvo que ele “cospe” é resultado das premissas imputadas em uma planilha para projetar o que seria o futuro daquela empresa.
Estimamos o caixa que a empresa pode gerar no futuro e precisamos estimar quanto estes ganhos futuros representam hoje, e aí entra a taxa de desconto, para fazer esta tarefa.
Se minhas premissas variam de um petróleo negativo a um impagável.
Se minha taxa de desconto varia do Brasil decolando para o Brasil se espatifando no chão, é natural que o preço justo calculado para as ações varie também.
Se os fatos mudam, eu mudo.
Se as premissas mudam, o preço das ações muda.
Mas calma, o cenário que mudou para mal, tende a melhorar.
A tendência, afinal, é que voltar para as médias, ainda mais num mercado cíclico. Mas isso é tema para nosso próximo artigo.
A mensagem hoje é: Antes de julgar a ferramenta – Valuation, preç-alvo – considere o cenário.
O cenário teve mudanças extremas, e a ferramenta só reflete isso.
Abraços