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O Pix e a rentabilidade: Como bancos e fintechs estão enfrentando o desafio

Publicado 02.07.2024, 10:53

O Pix, sistema de pagamentos instantâneos criado pelo Banco Central e lançado em 2020, trouxe resultados surpreendentes para a economia brasileira. Ele incluiu milhares de pessoas no sistema financeiro, reduziu custos operacionais de pagamentos, aumentou a segurança e possibilitou diversas integrações que tornaram o ecossistema de pagamentos muito mais eficiente.

No início, as instituições começaram a enfrentar os primeiros desafios, e a equação da oferta gratuita do Pix, ou mesmo paga, virou um quebra-cabeças complicado de ser resolvido. Bancos e fintechs enfrentaram a mesma situação: como cobrir os custos do Pix? Como ganhar dinheiro com o Pix?

Para quem não conhece a infraestrutura do Pix, é importante explicar que ela não se resume ao Banco Central, que tem o papel de regulador, definindo as regras de funcionamento do Pix, e de gestor das plataformas operacionais, provendo as infraestruturas tecnológicas necessárias. 

Nesta estrutura, o funcionamento é composto por participantes autorizados, como o SPI (Sistema de Pagamentos Instantâneos), Iniciador de Transação de Pagamento, Secretaria do Tesouro Nacional, Liquidante Especial e o Provedor de Conta Transacional. Para cada modalidade de participação, as entidades precisam seguir o regulamento e investir muito em tecnologia, segurança (isso mesmo, está repetido para reforçar), compliance e experiência do usuário. Se para a pessoa física o Pix chega gratuito, para essas empresas o custo não é baixo. O valor cobrado das instituições pelo Banco Central é de R$ 0,01 a cada 10 Pix liquidados, e este é o menor dos custos.

De acordo com o relatório do Banco Central de 28 de junho deste ano, a estrutura é formada por 890 instituições participantes, sendo 38 obrigatórias e 852 facultativas. São 790 instituições em operação plena; as demais estão em fase de homologação. Destas, 701 instituições são participantes indiretos, que dependem dos 168 participantes diretos (bancos, cooperativas e fintechs). As cooperativas são a grande maioria. Temos a maior estrutura de pagamentos instantâneos do mundo.

No Pix, várias modalidades de serviços foram lançadas, como o Pix Cobrança, Pix Garantido, Pix Parcelado, Pix Copia e Cola, Pix Saque e Troco, e teremos em breve o Pix Automático. Não podemos esquecer do Pix no Open Finance, na plataforma de ITP (Iniciação de Transação de Pagamentos).

Estima-se que o modelo de pagamentos instantâneos esteja presente em 70 países, cada um com suas particularidades, mas bem inferiores ao nosso Pix, e uma boa quantidade não está implantada para uso em smartphones. O mais próximo ao nosso Pix foi lançado em 2008 no Reino Unido, conhecido como Faster Payment Service. Depois, em 2016, a Índia lançou o Unified Payment Interface (UPI).

Mas e aí? Se prover o serviço é caro, como as instituições ganham dinheiro com o Pix?

Essa discussão ganhou calor no lançamento do FedNow, os pagamentos instantâneos nos Estados Unidos. A pergunta foi exatamente esta: "Como rentabilizar os pagamentos instantâneos?". Imaginem aqui no Brasil, onde os bancos cobravam até 40 reais por uma TED e o valor médio era de 9 reais, passarem a não cobrar pelas transferências pelo Pix.

Demorou bastante para as instituições entenderem que não se consegue uma receita direta com o Pix, mas sim pelos serviços em que o Pix é utilizado. Esta foi a resposta também encontrada pelos especialistas do FedNow. Com o Pix, as vendas aumentaram no comércio eletrônico, por exemplo, então o custo do Pix virou um fator primordial para alavancar as vendas com menos custo. Este é um exemplo. A melhoria da performance de recebimento das cobranças reduziu o custo das empresas e melhorou a qualidade do fluxo de caixa. Com isso, os bancos e outras instituições passaram a ofertar crédito com melhor qualidade. Quanto mais o dinheiro gira na economia, melhor, e isto o Pix cumpre muito bem o seu papel.

Então, a oferta do Pix pelos bancos e fintechs passou a ser uma "moeda de troca". Elas cobrem os custos do Pix, mas aumentam a receita na venda de produtos e serviços financeiros, ou seja, ganham de outros modos. Empresas que oferecem serviços de "cross-border", onde os clientes e vendedores estão em diferentes países, também otimizam os pagamentos internos com o Pix, mas cobram um percentual do volume financeiro operado.

Se repararem, grande parte das empresas com tecnologia financeira embarcada estão operando o Pix como uma excelente ferramenta para receberem os pagamentos de forma rápida, segura e otimizada. Podem até não cobrar pelo Pix, mas a receita está na geração rápida das vendas.

A grande questão é que a maioria das participantes do Pix ainda não encontrou essa equalização, pois foram estruturadas somente para ofertarem o Pix. Elas até geram receitas, mas pelo tamanho do investimento e responsabilidade, somente a oferta do Pix não faz muito sentido. Elas precisam criar produtos que atraiam outras receitas, com o Pix envolvido na operação. Um exemplo é a oferta de aplicativos de agendamentos, como os de uso em consultórios médicos, cabeleireiros e outros, assim como os ERPs que oferecem otimização das cobranças pelo Pix.

O Pix vai continuar a crescer e tem espaço para isso. Hoje são mais de 700 milhões de chaves cadastradas para um número superior a 164 milhões de usuários. O mês de maio fechou com mais de 5,2 bilhões de operações, movimentando mais de 2,1 trilhões de reais. O Pix Automático e as transferências inteligentes serão os grandes propulsores do crescimento ainda maior do Pix, e neste campo há bastante espaço para as empresas participantes criarem produtos e terem rentabilidade real, usando o Pix como impulsionador. Vale lembrar que no meio desta jornada teremos o Drex, que não compete com o Pix, e trará também outras boas possibilidades de receita para as empresas que estão realmente engajadas em usufruir das possibilidades do campo de pagamentos.

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