O Commercial Paper Funding Facility (CPFF) foi uma política monetária implementada pelo Federal Reserve, em resposta à Grande Crise Financeira de 2008. O CPFF tinha como objetivo fornecer suporte ao mercado de papéis comerciais. Antes de falar sobre o CPFF e seu papel como mantenedor da estabilidade no mercado de papéis comerciais, falarei brevemente sobre o que são os papéis comerciais.
- O que é um Papel Comercial?
O Papel Comercial é um instrumento financeiro de curto prazo, que geralmente possui o seu prazo de vencimento em 270 dias ou menos. São emitidos por empresas ou instituições financeiras que o utilizam para financiar suas operações de curtíssimo/curto prazo, ou seja, as suas necessidades de capital de giro.
- O CPFF como mantenedor do mercado de papéis comerciais durante a Grande Crise Financeira
Durante a GCF, os mercados de papéis comerciais passaram por um choque significativo, da mesma forma que praticamente toda a economia global, e principalmente, a americana. Os motivos que levaram o estresse no mercado de papéis comerciais foram os seguintes:
1) Falta de confiança no mercado financeiro e risco de crédito: Com o estouro da bolha financeira que desencadeou na Grande Crise Financeira, o mercado financeiro passou por um gravíssimo imbróglio envolvendo a confiança dos investidores nos emissores. A GFC havia sido causada por uma "bolha" no mercado financeiro, mais especificamente por ativos financeiros lastreados em hipotecas, que eram considerados ativos "subprime", ou seja, de altíssimo risco de inadimplência, com o estouro da bolha que anteriormente teria começado no setor imobiliário e foi perpassando por todo setor creditício e de capitais, toda economia sentiu os efeitos, inclusive as empresas que necessitavam gerar capital de giro em um ambiente de recessão. Naturalmente, os investidores, temerosos da capacidade das empresas de arcarem com o pagamento dos papéis comerciais, acabaram, em sua maioria, decidindo não adquirir esse tipo de ativos.
2) Por serem instrumentos de curto prazo: Por serem instrumentos de curto prazo, adquirir esses ativos durante uma crise era altamente arriscado, uma vez que pela sua maturação, a empresa ou instituição financeira necessitaria possuir uma reserva líquida o bastante para pagar suas obrigações de curto prazo, o que era altamente improvável considerando o cenário subjacente.
3) Falência das instituições financeiras emissoras: Apesar de não ser necessário utilizar de uma instituição financeira para emitir papéis comerciais, muitas empresas utilizavam de uma para facilitar o processo e mitigar os riscos inerentes ao processo, através da delegação da emissão. Porém, muitas instituições financeiras estavam falindo durante a GCF, o que tornava o processo de controle dos papéis comerciais mais difícil.
Portanto, o Federal Reserve, como uma de suas políticas monetárias para evitar que essa crise sistêmica perdure, implementou diversas medidas para estimular a demanda agregada e proteger diversos setores da economia americana da insolvência. Estabelecendo o CPFF, o Federal Reserve proporcionou um financiamento estável para os emissores de papéis comerciais, proporcionando liquidez para o mercado. Em outras palavras, o banco central comprava esses papéis comerciais no mercado aberto, tanto diretamente das empresas, quanto de intermediários, fornecendo o financiamento de curto prazo amparado pela contrapartida do título.
Com isso, o Federal Reserve adquiriu muitos ativos, que acabaram figurando no balanço patrimonial do banco, que poderá:
1) Mantê-lo até o vencimento e receber o pagamento dos emissores;
2) Vender o título no mercado secundário, retirando liquidez do sistema;
3) Fazer a renovação, ou "rollover" dos títulos, estendendo a maturidade ou adquirindo novos ativos semelhantes para manter a liquidez no sistema e estimular a demanda agregada e a continuação do fornecimento de capital de giro para as empresas.
Com a normalização do sistema financeiro americano, a CPFF e muitas outras políticas monetárias pontuais foram finalizadas em 2010. Uma vez que as mesmas causam "distorções" no mercado financeiro e, esse efeito só é desejado pelos formuladores de políticas monetárias em tempos de crise, de forma a evitar uma catástrofe.